De Barbosa du Bocage:
Lá, quando em mim perder a humanidade,
Mais um daqueles que não fazem falta,
Verbi-gratia - o teólogo, o peralta,
Algum duque, ou marquês, ou conde ou frade;
Não quero funeral comunidade,
Que engrole sub-venites, em voz alta,
Pingados gatarrões, gente de malta,
Eu também vos dispenso a caridade;
Mas quando ferrugenta enxada idosa,
Sepulcro me cavar, em ermo outeiro,
Lavra-me este epitáfio, mão piedosa:
"Aqui jaz Bocage, o putanheiro;
Passou vida folgada e milagrosa;
Comeu, bebeu, fodeu, sem ter dinheiro."
De Agostinho Neto:
VOZ DO SANGUE
Palpita-me
os sons do batuque
e os ritmos melancólicos do blue
Ó negro esfarrapado do Harlem
ó dançarino de Chicago
ó negro servidor do South
Ó negro de África
Negros de todo o mundo
eu junto ao vosso canto
a minha pobre voz
os meus humildes ritmos.
Eu vos acompanho
pelas amaranhadas áfricas
do nosso Rumo
Eu vos sinto
negros de todo o mundo
eu vivo a vossa Dor
meus irmãos.
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3 comentários:
Assim é que se "fala"!
Dois portugueses dignos desse nome tiveram a palavra...
Votos de uma Páscoa Feliz.
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