Augusto Alberto
Estive a sonhar, bem sei.
De todo o modo, em regra, todo o sonho foi realidade. Era uma manhã de um
domingo, e 8 vizinhos voltaram à esplanada, para tomar o café da manhã. Falam
do desempenho heróico do “foot” nacional, e o mais velho, porventura o que
dispõe de melhores histórias, reafirma que a selecção nacional não foi tocada
pelo sindroma Papanicolau, o tremendo varista grego dos anos 70, do século
passado, sempre com a frustração da derrota nos grandes momentos, (ou a
antecâmara da sina grega), que poucos anos após chegou até nós com o nome de
Mamede.
Todavia, um outro vizinho
lembrou que o dia a decorrer também era grande, por ser de votos. E logo
perguntou. Em quem vota, vizinho? No PPD/PSD. E o senhor? No PPD/PSD,
evidentemente. E disse o terceiro. Eu também! Mas eu não! Eu voto P.S. E você?
Também no P.S! Faltavam os outros dois. E o querido vizinho, que tão calado
está? Eu? Eu daqui vou para a praia. E o senhor, que é o último, não nos diz
nada? Digo sim. Já votei na CDU, contudo, desiludi-me com a política e por
isso, sigo o conselho do vizinho. Também vou para a praia. 8 votos, oito, com
efeito, na democracia, que as primeiras
projecções reveladas nos telejornais das 8 confirmaram.
O povo votou, o sistema
funcionou e nada mudou. Contudo, também há quem ache que quando as coisas se
arrenegam, a democracia deve ser torcida: - O secretário de Estado
norte-americano, John Kerry, considerou que o exército egípcio destituiu o
Presidente islamita Mohamed Morsi, para restabelecer a democracia. Acontece,
que Morsi, após receber os votos de milhões de Egípcios, foi eleito Presidente
da República e no seu caso, não se cumpriu o desidrato pantomineiro e
democrático, que diz: - que quem ganha as eleições, deverá levar o mandato até
ao fim. Daqui se conclui, que para haver democracia, é preciso que cidadãos, ou
lorpas aos milhares, votem no sentido de que nada mude. Ou que um tipo,
politicamente pederasta, dê ordens para que avance um golpe militar, com vista
a depor o Presidente eleito. Fica deste modo provado, que a democracia, só o é,
enquanto os interesses das elites não sejam postos em causa. Caso contrário,
avançam as baionetas. E às vezes, também dá jeito avançar o futebol, apesar de
aparentemente inócuo, como o voto em branco, que permite que os votos na corja
sejam sempre mais. E por isso, para a “corja”, um golo do Ronaldo, é a cereja
em cima da bola, que torna o futebol politicamente tão doce. E até, Seguro,
para além de Cavaco e Passos, mandou beijinhos aos heróis da Suécia.