Augusto Alberto
De Portugal e dos portugueses disseram os “Sephardim”, os
abastados judeus fugidos da vizinha Espanha e das fogueiras do grande
inquisidor, o dominicano Torquemada: “terra
boa e habitantes parvos”. Alexandre Herculano, na sua história da origem e
estabelecimento da inquisição em Portugal. Livro II. Avaliação conspícua?
De qualquer modo, é certo que os portugueses pouco valor dão
ao seu próprio trabalho e essa é causa de se darem pouco ao respeito.
Extenuados com a monarquia e com a 1ª República, que para os manter em pé,
praticou a caridade institucionalizada, aproaram à ditadura, que acabou a
25 de Abril. Por um breve momento foi-lhes concedida dignidade, logo assombrada
pela recuperação, fulminante, da elite que sobrou do fascismo amolado. Na
democracia viu-se por três vezes grego, com três vezes o FMI. E por hora se
alguém quiser enxergar verá que muitos portugueses gostam de se repetir.
Gostam
da “caridosa” Isabel, porque recolhe e distribui alimentos por organizações que
lhes mitiga a fome. E das Misericórdias e da Cáritas, porque em todas, existe
fixo na parede, uma imagem de um Cristo escanzelado, à sua semelhança, se as
Misericórdias e a Cáritas não lhes dessem as sopas, o banho e o bálsamo para as
chagas do corpo. E ainda, do seu pároco que lhes diz em quem votar e quando ir
a Fátima, para fazer a catarse do espírito e filar o milagre do emprego, já que
o do leite e do bife, por hora, não se faz.
E antes, gostaram de Sidónio Pais, que em 1918 se tornou um presidente
generoso, porque estimulou a sopa dos pobres ou a sopa do Sidónio, como meio de
mitigar a fome. E por tão perto, por desgraçada ironia, quem sabe, gostem do
católico Mota Soares, que quer as actuais sopas, como o orgasmo do bom cristão.
E também, Salazar e Cerejeira, não se descuidaram e fizeram
pedagogia. Indicaram que em casa onde não houvesse fartura, dividir uma
sardinha por dois ou por três, e dividir a broa de 5, 6 dias, carregada de
bolor, era um singelo acto de boa administração.
Gostam da canção que trauteia: …a alegria da pobreza, está
nesta grande riqueza de dar, e ficar contente…
Gostam, em suma, que lhes estimulem o sossego, (à rua, só no
sossego do largo de Fátima, indicou o cardeal Policarpo), e de gente caridosa.
Alinharam por Sidónio, por Cerejeira e D. António e ainda suportaram Salazar e
agora, outros javardos e usurários.
Não nos equivoquemos, pois. Os portugueses gostam muito de
se repetir.
Enfim, gostam!