sexta-feira, 7 de novembro de 2008

As minas do Cabo Mondego e as "Histórias de mineiros"

São relatos pungentes estas onze “histórias de mineiros”, arrancadas a depoimentos dos próprios homens que conviveram com o sofrimento, a dor, as agruras e amarguras de um trabalho tornado mais duro ainda pela exploração sem escrúpulos, no tempo do fascismo. Dos homens que viram soterrados com esse sofrimento, essa dor, essas agruras e amarguras, qualquer sonho, qualquer ambição de uma vida condigna. Enfim, “homens que nunca foram meninos”.
Claro que eram outros tempos. Publicadas em 1980, no semanário “Barca Nova”, falam-nos de um tempo que, não o querendo de volta, é importante não o esquecermos. Um documento importante este conjunto de reportagens em que Augusto Alberto, ao emprestar-lhes um cunho literário aproxima-se muito de uma das mais importantes correntes literárias do século XX, o neo-realismo.
É o retrato da realidade social de uma época cuja importância em recordar se torna ainda mais urgente porque vivemos numa outra em que tudo se faz para branquear a ditadura que vigorou durante 48 anos neste pequeno país. Urge também estarmos atentos para que não haja um retorno.
Ao Augusto Alberto o meu muito obrigado por ter anuído à sua republicação. Aqui estarão, aos domingos.
Depois desta balada na voz de Graeme Allwright, passo a palavra ao Augusto Alberto.




O meu amigo Alexandre colocou-me mais um desafio e como é de esperar de um amigo, sendo sério o desafio, aceitei com todo o gosto. O de republicar um conjunto de 11 histórias, publicadas há mais de 28 anos, 1980, num projecto sério e meio quixotesco, por isso fresco e alegre, como são sempre projectos deste tipo, mas que tem um fim sempre ali adiante, num mundo como este, na procura dos novos escravos, saibamos. Falo do Barca Nova, que parece ainda revolver as entranhas a gente hoje rara e civilizada, que eu conheço e que também por ali passou. E se me é permitido, a elegância e o difícil da coisa é o de vestir sempre o fato do mesmo lado. Porque quando se resolve vestir o mesmo fato mostrando, agora, o forro para fora, então, então a isso eu digo que falta estaleca para estar de espinha direita, porque o mundo não andou para adiante, antes pelo contrário, recuou e essa gente ajeitou-se. Se dá jeito agora mostrar o forro do casaco, com o desafio entendi que republicar as crónicas a que dei na altura o nome escorreito e singelo de “Histórias de mineiros”, me pareceu também, ao cabo de anos, dar jeito, para que gente que faz bem em caminhar, correr ou ciclar, naquele lugar hoje muito visitado, saiba que por ali também gente, pelo menos há meio século, sofreu e amargou para viver. Que houve ali uma mina e uma mina é sempre lugar de canseira para quem desce e mais naquele tempo doloroso de polícia, com farda ou à paisana, de gente retorcida, porque um tostão era um tostão arrancado à sua fortuna fabulosa e um copo de vinho sempre era bálsamo para as dores. Nada muda nas crónicas, recolhidas à oralidade do mineiro. Dos mineiros não resta um único. Que tenham agora a paz porque em vida rolaram tal e qual as pedras de carvão arrancadas a pulso e bagas de suor. Das pequenas casas do bairro, pouco resta do desenho inicial. Filhos e netos acomodaram-se e trataram de as adaptar do modo possível. Resta a Santa num nicho e uma placa, dulcíssima, lá no cimo da serra, numa das entradas, em lugar ventoso e belo, que diz "Couto mineiro do Cabo Mondego".
Repito, o meu maior agradecimento ao meu amigo Chana.

Augusto Alberto

2 comentários:

Fernando Samuel disse...

Venham, então, as «histórias de mineiros» - que as apresentações são excelentes «aperitivos»...


Abraços.

Anónimo disse...

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