Uma versão em francês por Graeme Alwright. O original, de Pete, já por aqui passou, e pode recordar.
terça-feira, 28 de janeiro de 2014
Academias
Augusto Alberto
Na academia do Argentino Juniores
formou-se Armando Maradona, o astro. E de outras academias das Américas, saíram
coronéis torcionários. E também de West Point. E nos anos 70, 80 e 90 do século
passado, da academia do Ajax de Amesterdão, saíram estrelas do futebol como
Ruud Krol, Johan Cruijff, Van Basten, Rijkaard, Ruud Gullit e Bergkamp. A seu
tempo, todos, construíram a espinha dorsal da selecção de futebol da Holanda,
conhecida como a laranja mecânica. A academia do Barcelona, deu também ao mundo
do futebol, astros como Messi, o fundamental, Puyol, Xavi, Iniesta, Piqué,
Valdês e mais recentemente, Pedro Rodrigues, que dão corpo à “Roja”, dupla
campeã da Europa e actual campeã do Mundo.
Contudo, não se julgue que em
Portugal nada se cria ou nada se transforma. Pelo contrário. Vinda do século
passado, a academia de futebol do Sporting Clube de Portugal produziu e
continua a produzir, estrelas, como Paulo Futre, bola de prata em 1987 e mais
recentemente, os bolas de ouro, Figo e Ronaldo. E também num palacete à Lapa,
na Capital, se tem fabricado alguns dos melhores mixordeiros, vigaristas,
puxa-sacos e malandros de que há memória em Portugal e na Europa democrática e
Ocidental.
Alguns, chegados pelo voto, a ministros e um, inclusive, a
Presidente da República e um outro, pela arte da cooptação, a Presidente da
Comissão Europeia. Marques Mendes, o arquétipo do homem pequenino, que, diz o
ditado, ou é velhaco ou dançarino, é o último a dar-se à universal babujem.
Espera pela presunção da inocência, bem sei, todavia, basta de milongas, porque
já é demais. Mas também, uma outra academia, num outro palacete ao Rato, na
Capital, uns furos abaixo, na qualidade e matreirice, produziram-se flibusteiros,
como Armando Vara, Penedos, Coelhos e Calvetes, (orientados por GPS).
Estrelas um pouco carentes de
pedigree, é certo, mais em linha com a academia de futebol do glorioso Sport
Lisboa e Benfica, uns degraus abaixo da insigne academia de futebol do Sporting
Clube de Portugal.
Todavia, em falando de academias,
estabeleça as diferenças com os homens referenciados nas academias
supracitadas, e perceba, ainda, de que academias vieram homens, como, Bento
Gonçalves, Bento de Jesus Caraça, (e a inestimável colecção Cosmos), Lopes
Graça, (e a canção heróica), Freitas Branco, os poetas militantes, José Gomes
Ferreira e Ary dos Santos, e os escritores militantes, Alves Redol, Soeiro
Pereira Gomes, Armando de Castro, Mário Dionísio, Manuel da Fonseca, Urbano Tavares
Rodrigues e Saramago, pena de ouro da literatura universal, e etc. Garanto que
só o enobrece.
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Crónicas em desalinho
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Um empresário da restauração com modos de padeira de Aljubarrota
Augusto Alberto
Ou a história da passagem pelo restaurante Meta dos Leitões,
na Bairrada, de magnos delegados ao congresso do Ministro Paulo Portas. A
história é conhecida, e conta-se breve, para o caso de alguém andar distraído.
A fazer fé nas notícias, os magnos delegados, comeram 15 refeições e pagaram
18. Um roubo! Assim é! Todavia, o dono do restaurante, inclemente, indicou que
sendo os clientes militantes de um partido de ladrões, ele, empresário,
aproveitou o momento para um pequeno reparo. “Roubar”, quem o rouba. Certo! Ou
a assunção do velho ditado, que em caso de justiça, manda que seja resolvido
por jurisprudência popular. Absolvição, por 100 anos, do ladrão que roubou os
ladrões. E como prova do juízo do empresário, dou aqui nota de como a ladroagem
funciona em circuito fechado, que conforma a justeza da diatribe.
- O Estado que pague. Os arautos do
capitalismo, que tanto se queixam das "gorduras" do Estado, exigindo
a cada momento, “menos Estado e melhor estado”, vão obrigar a Direcção-geral do
Tesouro e Finanças (DGTF), (os
contribuintes), a pagar 23.5 milhões de euros de dividas bancárias, da
responsabilidade da Associação Industrial do Norte, proprietária do Europarque,
situado em Vila Nova
da Feira, criado em meados da década de 90, por empresas, associações
empresariais e bancos, destinado a congressos, jantares, almoços e demais
tagatés.
E como a “roleta russa”, cuja bala abate sempre os mesmos,
rola consistemente, acabamos ainda a saber, que após distintos serviços
prestados ao mundo empresarial e da finança, um ex-ministro vai ocupar um lugar
de relevo no FMI, e um outro, vai ocupar um outro lugar na OCDE, enquanto um
tal José Luís Arnaut, advogado, também ex-deputado, ex-ministro e conceituado
especialista na acomodação das “gorduras” do estado, vai rumar a alto quadro do
Goldman Sachs. O banco, cujos quadros são figuras omnipresentes nas selectas
reuniões do Clube Bilderberg. O tal que decide, anualmente, onde e como fazer a
guerra e que no ano anterior, se realizou em Londres, e para o qual foram convidados
Paulo Portas e António José Seguro, (assuste-se!),
segundo indicação do cipaio dos cipaios autóctones, Pinto Balsemão.
E para acabar, quero ainda dizer que me parece que os
rapazes da história do leitão, são da agremiação de onde há pouco saiu gente a
sugerir o 9º ano como limite para o ensino obrigatório. Ora cá está uma outra
boa razão, para negar o livro amarelo a “porcos”, que acham, como acharam os
porcos avôs salazarentos, que num país de “burros”, os nobres “porcos” têm a
vida mais facilitada.
Tal como Salazar, que foi padreco e fascista, determinou
como limite máximo para o ensino obrigatório, a 3ª classe e desse modo, capou
os tomates aos “burrinhos” da Nação.
Pois é!
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Crónicas em desalinho
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
O Messi de deus é uma notação trôpega
Augusto Alberto
Disse John Foster Dulles, (1888/1959), secretário de estado
Americano: - deixem os asiáticos fazer a
guerra aos asiáticos, onde quer que isso aproveite aos Estados Unidos. Foi,
utilizando até à exaustão este princípio que os Estados Unidos acumularam
guerras e derrotas na Ásia. Mas também acumularam vitórias nas Américas,
fazendo dela, o quintal a sul. E ainda hoje, mantêm o médio Oriente e África,
segundo esse odioso e velho princípio, com custos irreparáveis para os
autóctones. Ora, acontece, que nestas refregas, se associou lindamente a igreja
de Roma, sobretudo, no grande período da política americana da canhoneira. Ao
ponto de excomungar personalidades progressistas, fartas na denúncia dos
governos torcionários da América do Centro, Sul e Caribe, a mando dos Estados
Unidos.
Soubesse destes factos António Raminhos, ao que me dizem,
humorista da nova vaga, e logo perceberia que a sua “boutade”, que classifica o
padre Chico, como o Messi de Deus, é trôpega, porque, exactamente a igreja de
Roma, ao longo dos séculos, sempre apresentou a espinha macia e foi farta nos skills, ou na soberana capacidade de se
adaptar, prever e potenciar acontecimentos. De um cardeal polaco, fê-lo “Papa”,
ou o representante de Pedro na terra, que conhecendo bem as contradições do
regime socialista, deu um contributo inestimável para a sua queda, ainda que
não seja definitiva, que resultou num mundo unipolar, onde quem esfola é o
liberalismo, ou, por hora, o fascismo de
baixa intensidade.
E de momento, sentindo que a igreja está a caminhar para a
irrelevância, por força dos ajustes sociais e demográficos, acelerados,
justamente por esse liberalismo, elegeu para representante de Pedro, na ânsia
de estancar o declínio, um homem que parece um comunista, justamente, na denúncia
desse modelo unipolar, vindo de um país, onde a doutrina da denúncia dos crimes
políticos e sociais fez escola. Acontece, que os ajustes, tanto são em Roma
como na Lusitânia. E por isso, convêm tomar nota, do modo como por cá se vai
procurando a “personalidade” que dê seguimento à regra que diz que com “Papas”,
papas e bolos, se enganam os tolos, ou a habilidade de manter a direita usuária
no centro dos poderes.
E assim, está a chegar a hora do católico Rio, a quem se
atribuem rios de boa gestão, tal como chegaram a Roma, da Polónia, Woijtila,
para enfatizar o mundo unipolar, e da Argentina, Bergoglio, para estancar a
irrelevância dos dogmas da igreja de Pedro. Mais um engano. Por isso, povo, se
alguém te disser que a direita é burra, está-te a enganar. Um temente a “Deus”,
tanto pode ser um “Rio”, farto na sorrelfa, como um vil e desprezível, (assim
mostrou ser Dick Cheney, vice-Presidente dos Estados Unidos), vendedor de armas.
Não sei se me faço entender, caro Raminhos?
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Crónicas em desalinho
sábado, 11 de janeiro de 2014
O esteta e o bobo!
Augusto Alberto
Eusébio da Silva Ferreira,
faria hoje as delícias de qualquer investigador da área da biomecânica. Um
esteta! E um portento do ponto de vista do rendimento. No futebol, hoje, só
Ronaldo se compara, sendo, comparativamente, Eusébio superior. Contudo,
Ronaldo, bate-o no jogo aéreo, que em Eusébio foi muito fraco.
Eusébio colheu universalmente
simpatias, apesar de ser do Benfica, porque no campeonato do mundo de 1966 foi
o dínamo que produziu luz e exacerbou o amor pátrio, numa campanha fabulosa,
que só não atingiu prata ou ouro, porque, como em muitas vezes antes e também,
muitas vezes depois, Portugal foi avassalado pelo colonialismo e imperialismo
anglófono. Tivesse Portugal jogado em Liverpool, como deveria ser e não em
Londres como foi, obrigando desse modo a Inglaterra a sair do seu conforto, e
Portugal teria ganho a meia-final e disputaria a final com a Alemanha, onde,
naturalmente, tudo poderia acontecer. Foi claro que Simões, extenuado, não
conseguiu, no dealbar e em cima da linha, fazer o golo que levaria a partida
para prolongamento. Esta é a verdade, que ainda hoje, em plena democracia,
atormenta as “responsáveis” e entarameladas cabeças da República. O ideal é que
se esqueça o episódio.
de Fernando Campos |
Eusébio, foi um entertainer
de superior qualidade, o que para a época não foi pouco. Num país enclausurado
e nas mãos de uma elite, mãe da presente, trôpega, e cinzenta, que nunca é
capaz de bater o pé, antes, cede, Eusébio valeu pelas alegrias, a que a nação
não estava habituada. Sobretudo não estava habituada a feitos desportivos de
primeira grandeza. Apesar de até então, a Pátria ter conquistado medalhas
olímpicas na esgrima e vela. Contudo, em 1912, Francisco Lázaro, carpinteiro de
profissão, caiu extenuado e morreu, untado de banha, como um lázaro, na
maratona olímpica de Estocolmo, dando, logo aí, uma imagem da nação exangue.
E, dois anos antes de 1966,
em 1964, em Tóquio, e 2 anos após Eusébio ganhar a sua única taça dos campeões
europeus, Manuel de Oliveira, carregou durante 2.800 metros, a medalha de
bronze olímpica, que perdeu, porque não lhe suportou o peso, nos últimos 200 metros da prova dos 3.000 metros
obstáculos. Baixou, na meta, para o 4º lugar, o lugar maldito de qualquer final
olímpica. Esta teria sido a primeira grande medalha olímpica do rendimento
desportivo em Portugal. O país não chorou a perda dessa medalha, nem rejubilou
com tamanho resultado, porque não conhecia esse seu filho, porque o país era, e
é, analfabeto. Tão analfabeto, que Oliveira mais pareceu, ser, apesar da
excelência, como muitos, antes e agora, um seu enteado.
Eusébio foi bondoso, delicado
e um mouro de trabalho. É verdade! Mas esses não são predicados só de Eusébio.
Quantos nativos mourejam duramente, e não passam da cepa torta e nem sequer têm
direito a uma pequena flor? E foi, ainda, soberbamente usado. Salazar, para
evitar cair mais cedo, impediu-o que garimpasse a vida no estrangeiro. E quando
deixou de ser o Eusébio superior, foi ao limbo e assobiado, e só muito depois,
foi acolhido e reabilitado. Quantos choram agora, lágrimas de crocodilo?
Contudo, está de parabéns, quem soube, a tempo, fazer essa destrinça.
Nessa procissão de
oportunidades, está também o misantropo, analfabeto e rancoroso Cavaco Silva,
quando em pose de estado, fez saltar da púcara Eusébio já morto, para
simultaneamente, sacudir o mofo e se colocar na condição de charneira.
O mesmo Cavaco, 1º ministro
de Portugal, que censurou Saramago, Prémio Nobel da Literatura, na pessoa do
seu secretário de estado da cultura, Santana Lopes e este, na pessoa de um seu
sub-secretário de estado, nome de código civil, Lara. Cavaco, parece que se dá
muito bem com quem pensa superiormente com as cabeças dos dedos dos pés e pelos
vistos, dá-se muito mal, com quem pensa com a cabeça, que conforma o cérebro.
Faço sinceros votos, para que
Moniz Pereira, (que muito pensou com a cabeça), Carlos Lopes, Rosa Mota e
Fernanda Ribeiro, (que muito e bem, pensaram com as pernas), (que são maneiras
de pensar, acima dos pés), durem ainda bons anos, para que o cabotino, não
tenha nova oportunidade, para fazer outro funéreo e idiota papelinho.
Ah, e Matateu! Tivesse
nascido anos adiante, Matateu, e Eusébio, não sei, não…
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Crónicas em desalinho
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
A história do tio do Kim Jong, citado por canalhas
Augusto Alberto
O tio de Kim Jong-un,
terá sido lançado vivo para uma jaula, onde estava uma matilha de 120 cães,
completamente esfomeados, por não terem sido alimentados durante cinco dias. Informa
o jornal I, colocando o verbo no condicional, que catou a informação num jornal
chinês, citado pela NBC. Eu, pobre e duro de cabeça, acho que 120 cães enjaulados
e famintos de 5 dias, antes de chegarem ao tio do Kim Jong, devorar-se-iam, em
latida e sangrenta batalha.
De todo o modo, isso só não sucedeu porque durante
esses dias, foram enviados para o Iraque, e distraídos, na procura das armas de
destruição maciça, que o Bush, o “Borroso” e alguns veros jornais ocidentais,
ainda garantem existir. Depois, sim, acredito que após dias de distracção e com
fome, tenham sentido a necessidade de dar trabalho às mandíbulas. E desse modo
um desses cães, (no sentido politico, evidentemente), também conhecido por
afirmar a pés juntos, a existência das armas de destruição maciça no Iraque, será
candidato do CDS-PP e do PSD às eleições europeias de 25 de Maio. E mais,
suporta a necessidade de mandibular forte e feio no Tribunal Constitucional da
Lusitânia Liliputelândia, para de seguida, já de papo cheio, assistir, como
dizem que fez Kim-Jon, ao festim da devora do indígena.
A Polícia Judiciária está a ouvir centenas de pessoas do
distrito de Coimbra, que terão sido inscritas no PS, em 2011, com dados falsos.
Conta o Jornal de Notícias… que já foram ouvidas cerca de 200 pessoas... A
quantidade e o desplante das falsificações detectadas, na ordem das centenas,
segundo a fonte, causaram forte impressão em quem acompanha a investigação. Que
interessante noticia! Ao que apurei junto da NBC, (national broadcasting
company, com sede no famoso Rockefeller Centre, em Nova Yorque), parece, que
afinal, a P.J da Liliputelândia Pátria, está também a usar os cães esquálidos e
bons de faro, do Kim-Jong, para esclarecer as falsidades no Partido Socialista.
Mas precate-se, porque aos mastins do Kim-Jong, se se lhes
apresentam as fichas canalhas do P. S. de Coimbra, correm o risco de serem
engolidas, sobretudo, se for ao pequeno-almoço, acabando desse modo, com as
provas materiais da intrujice. Aliás, com tanta comezaina pela frente, só me
pergunto, como foi possível, aos cães, ainda arranjar tempo, para “comer” o tio
do Kim-Jong.
Se na notícia a semiologia é canalha, o que dizer de quem
acredita nela? Mas há, pelo menos, nesta história, uma coisa certa. A mim,
nunca os “cães vadios” de colarinho branco, me comerão.
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Crónicas em desalinho
domingo, 5 de janeiro de 2014
EUSÉBIO
A única coisinha que tenho contra o Eusébio são os golos que marcou ao meu Sporting. Fora isso, que não é pouco, mas insuficiente para não ter por ele uma profunda admiração, deixo aqui, em jeito de homenagem um belíssimo texto do jornalista Ferreira Fernandes. E um obrigado ao Eusébio, com o respeito que se deve a um dos maiores desportistas de sempre.
Vale a pena ler:
" Há 90 minutos da História de Portugal que deveriam ser passados a video e divulgados nas escolas primárias. Na disciplina Formação de Carácter.
Aconteceu em Liverpool, a 23 de Julho de 1966, num estádio de futebol. Havia um jogo em que entravam uns desconhecidos, reputados de toscos mas muito rápidos, que vinham de um lugar que fazia sorrir em matéria de mérito futebolístico - a equipa da Coreia do Norte. Do outro lado, estávamos nós, a selecção portuguesa. Naturalmente descontraídos, como costumamos estar nos momentos que se anunciam fáceis. "Está no papo" é expressão portuguesa muito mais exclusivamente portuguesa do que a palavra saudade.
Tal como os norte-coreanos, era a primeira vez que nos víamos por aqueles cumes, jogavam-se os quartos-de-final do Campeonato do mundo. Mas Portugal tinha todas as razões de estar impante, arrastávamos um manto de glória clubística (nos últimos cinco anos, o Benfica ganhara duas Taças dos Campeões e o Sporting uma Taça das Taças), a própria selecção já não perdia há dois anos e, quatro dias antes, naquele mesmo estádio, tinha humilhado o bicampeão do Mundo, Brasil, por 3-1. e, depois, o adversário eram aqueles pequenitos asiáticos...
Aos 23 minutos perdíamos por 3-0. E a soberba que nos subira à cabeça foi substituída pelas duas mãos. Todos os jogadores portugueses encostavam o queixo ao peito, levavam as mãos à cabeça e olhavam perdidamente a relva. Ou, pelo menos, parecia que eram todos. Aqui, o professor deverá parar o vídeo, olhar para a classe, certamente de olhos marejados também, e deixar a frase insidiosa: "Está tudo perdido, não está?" Os alunos, se forem bons portugueses, encolherão os ombros. Os mais combativos apontarão o erro da presunção inicial, mas todos concordarão que, agora, não havia nada a fazer.
Com um sorriso matreiro, o professor de formação de Carácter pode repor o vídeo em andamento. Reparem, reparem: na melancolia da equipa portuguesa há um gesto de rebeldia. Passaram molemente a bola ao nº 9 e este correu para a esquerda. Encostou a bola à linha lateral, o que quer dizer das duas umas:ou os coreanos o deixavam passar ou atiravam a bola para fora. Perceberam a intenção? O nº 9 estava a pôr todo o jogo português em cima dos seus ombros.
O nº 9 era o Eusébio. Já todos o sabíamos muito bom, não lhe emprestávamos ainda era tanta gana. E, reparem, reparem, ele é mesmo muito bom, nem atirar a bola fora os coreanos conseguiam, o Eusébio avança, já se permite obliquar para a baliza, ninguém o agarra e faz golo!
Reparem, agora, nos braços erguidos de Torres, o gigante, e do calmo Coluna e de todos - um assombro de alegria. De todos? Não. Eusébio não estava para festas porque a obra estava pelos caboucos. Foi ao fundo da baliza, meteu a bola como um melão debaixo do braço e correu para o centro. De passagem, ainda deu uma cotovelada no Simões que acorria ao abraço. Abraço? Não era tempo disso.
Os coreanos puseram a bola em jogo, a pantera saltou-lhes em cima, agarrou-a e repetiu a manobra, encostar-se à linha: ou ela é minha ou não é de ninguém. Continuou ele. E fez golo. Os nossos saltaram, correram para o herói, agora já não lhes podia fazer a desfeita da festa. Qual o quê? Eusébio foi às malhas onde dormia a bola refastelada, chamou-a ao trabalho, voltou a metê-la debaixo de braço e ala para o centro do terreno. Saem-lhe ao caminho os colegas, querem abraçá~lo, ele pára um brevíssimo momento, mas at+e o Morais que arrumara dias antes o Pelé, hesitou quando viu o sobrolho carregado de Eusébio... Todos se afastam, prescindem da alegria porque o chefe assim mandou.
Os coreanos, esses, estavam parvos, não sabiam se das fintas do negro endoidado se dos costumes esquisitos das lusas celebrações.
Jogo recomeçado. E Eusébio continuou: 3-3. o que ainda não teve direito a festejos. E 4-3. Aí já sorriu, mas só isso. Aos 5-3, enfim, permitiu-se mostrar-se contente, como Miguel Ângelo, batendo no mármore do joelho de Moisés: "Fala!" A satisfação do artista perante a obra feita.
O professor de "Formação de Carácter" pode desligar o vídeo, dar um tempo aos garotos para esconder as lágrimas, e abrir a luz. Perceberam?, deverá ele dizer. Haverá alguém a engasgar-se de emoção: "O Eusébio, que grande, grande jogador!" Ao que o professor deverá dizer: não é isso, aqui não é aula de Educação Física, e de qualquer modo isso não nos interessa, nunca vocês jogarão como o Eusébio, nunca vocês verão um jogador como o Eusébio, lamento, vocês nasceram tarde.
Os garotos vão ficar meio sem jeito. E o professor deve continuar: eu mostrei este vídeo para vocês aprenderem, não futebol, porque o Eusébio não se ensina, nasce com a pessoa genial. Mostrei-vos foi o que nos falta, à maioria dos portugueses, e este vídeo ensina, como eu não conheço nada português que ensine tanto: resistência. Resistência à euforia infundada, ao entrar no campo; resistência à resignação, aos 0-3; resistência ao "porreirismo nacional", no 1-3, no 2-3, no 3-3 e até no 4-3. Enfim, aquele jogo, meus rapazes, foi uma lição de carácter.
Eusébio da Silva Ferreira nasceu em Lourenço Marques, capital de Moçambique, em 25 de Janeiro de 1942. Quase 60 anos depois, já ouvi kosovares entre paredes chamuscadas fazerem a relação tradicional: "Portugal? Eusébio!". relevância que de certa maneira Portugal reconhece ao mandar construir o maior estádio nacional ao lado de onde estava uma estátua de Eusébio. O facto de o estádio ter sido construído muitos anos antes de Eusébio ser conhecido só significa que, por vezes, somos premonitórios - sabendo que um dia teríamos ali uma estátua de Eusébio, ali se fez o Estádio da Luz.
Para a pequena história, há quem diga que poderia ser o estádio de Alvalade a vizinhar a estátua. Afinal, o garoto de 17 anos veio, em 1961, para Lisboa, com a promessa da mãe que seria para o Sporting. Teve de ser raptado para ir para o Benfica. esse rapto foi o crime de que mais de orgulha o Benfica. E, afinal, nós todos, porque Eusébio merecia o melhor dos pedestais, a melhor das equipas nacionais de então, para poder dar os concertos que deu.
Ganhou sete Bolas de Prata, como o melhor marcador do Campeonato Nacional. foi duas vezes Bota de Ouro (o melhor marcador europeu), uma vez o Bola de ouro (o melhor jogador europeu)) e duas vezes bola de Prata (o segundo melhor jogador europeu), mas isso valem o que valem os prémios de especialistas.
Nada pode ser maior condecoração de que o silêncio que se fazia em todos os estádios do mundo quando Eusébio se preparava para cobrar um livre a menos de 40 metros do guarda-redes. conta-se que no já falado Brasil-Portugal, do Mundial de 1966, a equipa canarinha demorou a entrar. Procuravam Manga, o guarda-redes, um armário com cara de guarda-costas de chefão de droga, mas uma alma Cândida e dotes de adivinho. Manga estava no WC, tremendo, sabendo o que o esperava. Eusébio meteu-lhe dois golos, sendo um com os dois pés no ar, que pôs no ar a multidão do estádio. Mas esses não eram anunciados, e por isso não tinham a carga de execução pública dos tais livres.
Eusébio começava a marcar os livres com as mãos. ficava a três metros da bola, pés a testar a relva em ligeiro trote. Mas era para as mãos que todos olhavam. Abanavam como se quisesse ouvir duas possíveis pulseiras de missangas. Abanavam enquanto o torso se ia inclinando. Partia, rapidíssimo - compararam-no a pantera - e chutava como ninguém. Não digo melhor que ninguém, nem pior - simplesmente como ninguém. Há milhares de fotos a prová-lo: fazia uma vénia perfeita, como um samurai, só que a perna direita, hirtíssima, quase se juntava à cabeça. A todos só lhes restava a admiração - e ao guarda-redes adversário, ir ao fundo da baliza.
sábado, 4 de janeiro de 2014
Pelos vistos em 2014 vai ser mais do mesmo
Aí temos o primeiro imbecil do ano...
Apesar da imbecilidade não ser coisa que se pegue, não deixa de ser irritante. Mas prontos, como diria o outro. É o que temos.
quarta-feira, 1 de janeiro de 2014
McCain e Duartinho, dois cabotinos
Augusto Alberto
Andam felizes, alguns ucranianos,
na utilização do direito à manifestação, para reivindicar uma maior relação com
a União Europeia, em detrimento da Rússia. Contudo, não me enganarei se disser,
que depois da união, tal como hoje, com romenos e búlgaros, serão, mais cedo do
que tarde, impedido de circular por alguns países “ricos” da União, como se de
leprosos se tratassem.
Neste contexto, Duarte Marques, rico
filho, deputado rico e presidente da JSD, foi também a Kiev, para clamar pela
submissão da Ucrânia à União. Também, McCain, senador americano, republicano,
fez o mesmo papelinho. Ok! Quando se trata da liberdade, estou com McCain, e
com o Duartinho.
Desse modo, imaginem, caríssimos,
a ousadia de um deputado, ucraniano, dos que favorecem o entendimento com o
vizinho russo, decidir gritar, bem alto, junto ao muro que separa os Estados
Unidos do México: “que devem as autoridades americanas proceder à
identificação, julgamento e punição, dos agentes fronteiriços norte-americanos,
que ao longo da fronteira, segundo o jornal,
The Independent, desde 2005, já assassinaram 42 pessoas”. Ou então,
imagine um cidadão maníaco da arte pública, entender por bem, impedir a venda
da colecção do museu da cidade de Detroit, Detroit Institute of Art (DIA), de
obras, de, Van Gogh, Rembrandt, Henri Matisse, e Brueghel, o Velho, como solução para tirar a capital
da indústria automóvel americana do atoleiro social. O que sucederia? Prisão!
De todo o modo, neste ponto,
sublinho que cânticos devem ser ofertados às almas que foram capazes de
enriquecer o património público, para que outras, as passem a patacos a agiotas
privados, para compor orçamentos estaduais e concluir a premissa ideológica, de
que os lucros não devem ser virtude pública, mas privada. Casos dos CTT, (públicos
desde os tempos da mala posta, (1520), ou da EDP. No primeiro caso, agradeçam
ao rei D. Manuel I e no último, não se esqueçam de agradecer ao Gonçalvismo.
A liberdade pode ser desenhada
num fio, como o de Ariadne, mas ao rejeitar a verdade, por mais sábio que seja
o postilhão, bem pode ser apanhado em contramão.
Assim, porque não se planta
frente ao tribunal de Alexandria, Duartinho, para clamar pela libertação das 14
mulheres partidárias do presidente Morsi eleito democraticamente, condenadas a 11 anos
de prisão, metade das quais, menores de idade? Desculpe, sou tonto e tarde
percebo que o táctico senador McCain ainda não lhe ordenou a viagem. Contrição
minha, porque só agora me ocorre, que o lugar perverso da liberdade e da
democracia, não deverá ser aí, mas mais a oriente.
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