De qualquer maneira uma irreparável injustiça.
domingo, 31 de janeiro de 2010
Carnaval: já há reis
De qualquer maneira uma irreparável injustiça.
O blogue da Ti Hortênsia
sábado, 30 de janeiro de 2010
@
A princípio, os portugueses chamavam-lhe «caracol», «macaco» ou outro nome claramente inventado. Depois, houve quem reparasse que a Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira dizia tratar-se do símbolo de arroba, pelo que esse nome pegou.
Que terá a arroba a ver com esse sinal? Não se sabe ao certo, mas há pouco mais de um ano, o investigador italiano Giorgio Stabile descobriu um documento veneziano datado de 1536 onde esse símbolo aparecia. Estava aí a representar ânforas, utilizadas como unidades de peso e volume. Posteriormente, num vocabulário Latim-Espanhol de 1492, Stabile encontrou o termo «arroba» como tradução castelhana do latim «amphora». A ânfora e a arroba, concluiu o investigador italiano, estariam na origem da estranha letra retorcida.
O encadeamento dos factos é fascinante, mas há pontos obscuros. A palavra «arroba» não tem qualquer relação com «ânfora», pois vem do árabe «ar-ruba'a», designando «um quarto» ou «a quarta parte», como se aprende no Dicionário Etimológico de José Pedro Machado. Trata-se de uma unidade de peso que equivale a 14,788 quilogramas e que habitualmente se arredonda para 15kg. Podia ser que uma ânfora cheia de vinho tivesse esse peso, mas a semelhança fica por aí.
No século XVII o mesmo símbolo reapareceu, mas com outro significado. Utilizava-se para abreviar a preposição latina «ad», que significa «para», «em», «a», e que se usava para introduzir os destinatários das missivas. Condensava-se o «a» e o «d», num único carácter. É a chamada ligatura. O dicionário brasileiro Aurélio diz que ligatura é a «reunião, num só tipo, de duas ou mais letras ligadas entre si, por constituírem encontro frequente numa língua». Nesse mesmo dicionário da língua portuguesa confirma-se o símbolo @ como abreviatura de arroba.
O misterioso @ continuou a ser utilizado até ao século XIX, altura em que aparecia nos documentos comerciais. Em inglês lia-se e lê-se «at», significando «em» ou «a». Quem percorra as bancas de fruta ou os mercados de rua norte-americanos vê-o frequentemente. Os vendedores escreviam e continuam a escrever «@ $2» para significar que as azeitonas se vendem a dois dólares (cada libra, subentenda-se). Para eles não se trata de nenhuma moda: sempre viram aquele símbolo como a contracção das letras de «at».
Na máquina de escrever Underwood de 1885 já aparecia o @, que sobreviveu nos países anglo-saxónicos durante todo o século XX. O mesmo não se passou nos outros países. No teclado português HCESAR, por exemplo, que foi aprovado pelo Decreto-lei 27:868 de 1937, não existe lugar para o @. Por isso, quando o símbolo reapareceu nos computadores, ele tinha já um lugar cativo nos teclados norte-americanos, por ser aí de uso frequente. Nos nosso teclados só foi acrescentado nos anos 80 e encavalitado noutra tecla: é preciso pressionar simultaneamente Ctrl+Alt+2 ou AltGr+2 para o fazer aparecer
Quando o correio electrónico foi inventado, o engenheiro Ray Tomlinson, o primeiro a enviar uma mensagem entre utilizadores de computadores diferentes, precisou de encontrar um símbolo que separasse o nome do utilizador do da máquina em que este tinha a sua caixa de correio. Não queria utilizar uma letra que pudesse fazer parte de um nome próprio, pois isso seria muito confuso. Conforme explicou posteriormente, «hesitei apenas durante uns 30 ou 40 segundos... o sinal @ fazia todo o sentido». Estava-se em 1971 e esses 30 ou 40 segundos fizeram história, mas criaram um problema para os países não anglo-saxónicos. Não foi só nos teclados, foi também na língua.
Em inglês, «charles@aol.us» entende-se como «Charles em aol.us», ou seja, o utilizador Charles que tem uma conta no fornecedor AOL, situado nos Estados Unidos. Mas em português não soa bem ler «fulano@servidor.pt» dizendo fulano-arroba-servidor.pt. Nem tem muito sentido. Mas qual será a alternativa? Uma solução seria seguir o inglês e dizer «at». Outra ainda seria dizer «a-comercial», como nos princípios do século XX se chamava a esse símbolo no nosso país. Talvez o melhor fosse utilizar «em». Mas haverá soluções mais imaginativas.Quem quiser gastar o seu latim pode proclamar «ad», rivalizando em erudição com o mais sábio dos literatos. Ou surpreender toda a gente, anunciando uma «amphora» no seu endereço.
Nuno Crato
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
Tomo sempre partido por aqueles que gostam de lamber a marmelada
Um desses meninos, o João, tisnado pela rua, ganhou a rotina de quase todos os dias me bater à porta, na esperança de lhe dar alguma comida para matar a fome. Em regra, dava-lhe pão com marmelada ou manteiga e fruta. Mas o João, esperto e atinado, a partir de dada altura, de volta e meia, lambia a marmelada ou a manteiga e deixava o pão no lancil do passeio. A minha família começou a ficar zangada e quase a desatinar e ameaçou cortar a ração. Mas eu tomei partido, como sempre, pelo João. Argumentei que também tinha o direito ao seu mimo, apesar de ser pobre, como qualquer menino farto. Era um dever dar-lhe para lamber a marmelada e a manteiga, quando de volta e meia não lhe apetecesse o pão. Em boa verdade, o João também era lambareiro, com todo o direito. Acabei por convencer a família e o João continuou a ter direito ao seu pequeno luxo.
A família do João era numerosa e os pais trabalhavam muito, para lá do justo, ainda que o dinheiro fosse sempre pouco. Chegavam tarde e cansados e os mais velhos dos filhos, cedo começaram a ter tarefas da lide e liderança doméstica.
Lembro-me desta pequena história sempre que os teóricos da demografia e da natalidade dão palpites sobre a baixa taxa de nascimentos, que por este andar haverá de por fim à pátria antes que o sol perca força, se ponha e ponha fim à nossa existência.
Ainda outro dia li que em Portugal nascem poucos meninos. Pudera! E porquê? Porque passados tantos anos, as famílias, tal como há 40 anos, continuam a trabalhar muito e o que ganham, é tão curto, que continua a não chegar. Ainda por cima, sem terem a almofada da tropa, que durante cerca de 4 anos, dava botas, roupa, comida e cama lavada. Com este cenário, a taxa de natalidade só pode minguar, evidentemente.
Afinal, o país que tomou o Carmo em 74 para começar a mudar, continua afinal tão igual. E porquê? Porque logo apareceu uma gente, “alegre”, a falar-nos de um mundo moderno e mais perfeitinho, feito do socialismo de rosto humano, ou socialismo em liberdade. E no que é que isto deu? Ora no que é que isto deu? Deu em exploração em liberdade, que aos indígenas do sítio trouxe redobrada pobreza, ainda por cima, consubstanciada em leis, por exemplo, que os podem por a trabalhar até 60 horas por semana. Ou o exemplo mais abstruso da escravatura legalizada e de como a família pode ser mandada às malvas. Mas a questão é que as famílias indígenas, continuam a comer pouco, e mais grave, para além de calar, gostam de repetir, e por isso não admira que os meninos vão sendo coisa rara e essa caca do socialismo de rosto humano, pareça de pedra e cal. Tudo tão legal, é certo, mas quero aqui lembrar aos teóricos destas coisas, que no fascismo se trabalhava legalmente 48 horas.
Pois é!
terça-feira, 26 de janeiro de 2010
"Fortunate son" ou todos pelo Haiti
Multiplicam-se as ajudas e as acções de solidariedade com o povo do Haiti. Não será um pouco tarde? Por não termos pensado noutros pormenores que bem poderão entardecer ainda mais uma questão fundamental.
Esta: se pensarmos que Cuba, um país pobre, menosprezado e boicotado, enviou 300 especialistas de saúde ao mesmo tempo que a “grande pátria das liberdades e da democracia” enviou cerca de 10.000 soldados.
Mas claro que estamos solidários, quanto mais não seja para lavarmos a consciência.
Entretanto, os cinco anti-terroristas cubanos presos nos States enviaram uma mensagem de solidariedade para com o povo do Haiti.
Almeidas avant-garde
Já a expressão “Alma até Almeida” evoca, ou homenageia, a importância daquela vila e a valentia das suas gentes na defesa contra as incursões castelhanas e, bem mais tarde, na expulsão dos franceses.
E porque carga de água me lembrei de Almeida? Porque, via blogue “Outra Margem” do meu amigo Agostinho, fiquei a saber que os "almeidas" da Figueira da Foz melhoraram substancialmente a qualidade do seu trabalho, só não sei se foi com recurso a quaisquer novas tecnologias de ponta ou coisa parecida.
O que parece é que, sobretudo na rua da Liberdade, as folhas caídas das árvores já não se acumulam e as ruas já são bem limpas.
Ora bem.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2010
Olh'órçamento
As peudo-discussões e pseudo-reuniões solenemente anunciadas na comunicação social é para darem um ar de discordância, de que há até alguma divergência e tal, porque é sabido que a Direita se vai refastelando com a governação do PS. Está bem que CDS e PSD estejam um bocadinho atoleimados, mas só porque o “ps” lhes ocupou o espaço.
O certo é que, com queijo ou sem queijo, o regabofe vai continuar.
A única nota positiva é que toda esta discussão já forneceu uma frase para a estória. Aqui vai ela.
domingo, 24 de janeiro de 2010
Angola,0 - Ghana, 1
CAN: Angola - Gana, um jogo histórico
O jogo de hoje frente ao Gana a contar para os quartos de final da CAN poderá ser uma partida histórica para a selecção.
Em caso de vitória seriam atingidas as meias finais de uma prova internacional pela primeira vez. Não é fácil se tivermos em conta que o Gana é uma selecção com pergaminhos na prova, contando com 4 vitórias nas 26 edições disputadas e que Angola só na última edição - a quarta em que participava - , em 2008, ultrapassou a fase de grupos, sendo eliminada pelo Egipto, que viria a vencer a prova, nos quartos de final.
sábado, 23 de janeiro de 2010
Irra!!!
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Um jovem artista
Seria legítimo, portanto, pensarmos estar na presença de um jovem promissor, minimamente competente, com jeito para a coisa. Mas seria, também, um puro engano.
Porque Pedro Cruz é um talento. Só assim se explica como o co-autor do blogue "Outra Margem" consegue carregar de sensibilidade, de sentido, o mais banal alvo da sua objectiva.
"Recortes da Aldeia", uma exposição a não perder.
"Gaivota" (foto: Pedro Cruz)
Estranhos e constitucionais critérios
A hipócrisia dos governos “democráticos” não tem limites. Os Estados Unidos colocaram recentemente Cuba numa lista por eles elaborada de países patrocinadores de terrorismo. Que os americanos façam o que lhes dá na real gana, sempre foi assim. Mas o que causa consternação é que outros países igualmente “democráticos” limitam-se a dizer ámen. Tipo mordomos do império, como foi o caso de Durão Barroso acerca das armas químicas do Iraque. Mas compensou, pois foi promovido.
O que acho mesmo deprimente são os critérios quer dos americanos quer dos seus fiéis vassalos para defenir terrorismo. Ainda agora, no estado em que o Haiti está os EUA vão enviar mais 4000 soldados. É mesmo do que o Haiti precisa.
Quer dizer, se um governo for obediente, se se colocar de cócoras, mesmo que seja constítuido por bandoleiros passam imediatamente para o rol dos países “democráticos”, mesmo que lá esteja devido a um golpe de estado contra um governo democraticamente eleito, como o caso recente das Honduras. O narco-traficante Uribe é outro exemplo.
O silêncio sobre o que se passa em Angola, com a aprovação da nova constituíção que tem por objectivo a eternização de Eduardo dos Santos no poder também é paradigmático. Sabe-se que quer ele quer a sua filha, Isabel dos Santos, são sócios de muitos magnatas ocidentais, muitos dos quais portugueses. Garantia de estarem sempre ilibados façam o que fizerem. Serão sempre considerados “democratas”.
Em Angola, até acabam de inventar um novo conceito: “engenharia constitucional”.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2010
Fidel, os “américas” e o Haiti
O triste papel desempenhado pelos americanos no Haiti, cuja “ajuda” mais visível foi a imposição militar com a tomada do aeroporto de Port-au-Prince, está bem à altura do seu habitual e bélico comportamento. Terão medo que os haitianos tomem nas suas próprias mãos o seu destino? É cruel pensar nisso, agora que eles não estão noutra situação que não serem ajudados. Também não sabemos, diga-se, se os haitianos terão ou não armas de destruição massiva, pois o presidente da comissão europeia que costuma saber estas coisas "fechou-se em copas" e não nos disse absolutamente nada.
Mas duma ajuda coordenada por George Bush ninguém esperaria outra coisa, a não ser o cinismo do campeão dos democratas, Obama, que o nomeou.
O comandante Fidel, cujo país tem sido inexcedível na ajuda humanitária (e que também precisaria de ajuda, quanto mais não fosse o fim do boicote), alias como não nos é dado ver na imprensa ocidental, num artigo recente, escreve que no Haiti “se coloca à prova o quanto pode durar o espírito de cooperação antes que prevaleçam o egoísmo, o chauvinismo, os interesses mesquinhos e o desprezo por outras nações”.
Referindo-se ao aquecimento global, o velho comandante escreve que “uma mudança climática ameaça toda a humanidade e que aquele terramoto apenas três semanas depois, lembra-nos o quão egoístas e auto-suficientes nos comportamos em Copenhaga”.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
Angola e a CAN: utilidade para os estádios
Entretanto surgiu uma ideia para dar um sentido ao Estádio “11 de Novembro”. Isto é, para que os novíssimos estádios não fiquem às moscas como alguns em Portugal, nomeadamente o de Aveiro, em que até foi aventada a hipótese de demolição.
A ideia até é muito boa. Falta saber se terá concretização, ou feed-back por parte de quem de direito.
Defende a criação de um Museu Nacional do Desporto, nos “generosos espaços” do Estádio "11 de Novembro”. Pensam os autores da ideia que ela traduziria novas opções culturais, e, de qualquer maneira, seria uma boa utilização de um espaço com capacidade para 50 mil pessoas que estaria, ou está salvo medidas como esta, condenado a transformar-se num elefante branco.
sábado, 16 de janeiro de 2010
O grande capital chega a ser necrófago, porque tanto lhe faz
Há portugueses que se aquecem de dia nas salas de espera da estação de Santa Apolónia e passam a noite em enormes tubos de grande diâmetro, de polietileno preto, ali por perto. Em boa verdade, só estão a repetir um período terrível que atravessou de modo transversal a nação.
Nos anos 60 do século passado, foram os portugueses do “salto”, que se encontraram nas grandes cidades francesas, para participar nas grandes obras públicas e se juntaram em guetos, autênticas cidades, conhecidas por “bidonvilles”. Porque exactamente, o lugar de descanso, eram os bidões de alcatrão que os próprios esvaziavam na pavimentação das estradas. Foi um memorável e angustiante período, pela qual passaram muitos dos nossos bisavós e avós, para fugir à pátria que os queria mandar para a guerra e matava com fome. Não me devo enganar, se disser que alguns de nós, tiveram um familiar nessa miserável diáspora. Eu tive e por isso não esqueço.
Ao cabo de 35 anos de democracia, não são já os “bidondivilles”, mas são os “tubovilles”, que marcma a pobreza. Os “bidonvilles foram coisa de Paris, e os “tubovilles”, são, desavergonhadamente, coisa de Santa Apolónia, Lisboa, a capital.
Será justo, a quem chegou no dia 25 de Fevereiro de 1974 da guerra, e passados 2 meses também esteve na rua Antónia Maria Cardoso, a viver a mudança, perguntar, se foi para isto que se tomou o Carmo?
Entretanto, no dia destas terríveis imagens de degradação da Pátria, um amigo enviou-me imagens fotográficas, cruéis, da Costa Rica. País aparentemente calmo, delicioso para férias e onde a vida parece fluir sem grandes angústias. Dá a ideia de que o paraíso é ali. Mas desenganemo-nos. Tratam-se de fotos de gente ao desafio, a recolher ovos que as tartarugas deixam na praia, para criar. Evidentemente, que ao mesmo tempo que as tartarugas choram de dor, os ovos vão para boa mesa. Imagino, por bom dinheiro.
Tenho um amigo que viajou para o Brasil com 4 anos e por lá esteve cerca de 40. Regressou e por cá anda. Mostrei-lhe as fotos, porque a Costa Rica não está longe do Brasil que o acolheu. E o comentário do meu amigo foi simples: - é a fome. Se não houvesse fome as pessoas não cometeriam tamanha barbaridade.
O meu amigo tem razão, mas que me desculpe, porque eu digo mais. Aqui está mais uma face desapiedada do capitalismo. Em boa verdade, o grande capital que continua a atirar portugueses para os “tubos”, é o mesmo capital que cria fome na Costa Rica e por via dela, carrega os bichos com dor e impotência perante a força brutal do homem. Andam por ai, pelos fóruns, piedosas palavras, mas na verdade, é a hipocrisia como estratégia, porque a biodiversidade é uma treta e o dinheiro é de ouro.
O dinheiro hoje avança ao clique de uma tecla e por isso não é de estranhar que a sua pátria seja todo o mundo. Até porque sabemos que um ilustre cavalheiro, ex- Conselheiro de Estado e banqueiro cá da pátria, também correu à Costa Rica, não à procura de ovos de tartaruga, mas à procura de offshores. É um democrata com certeza!
Há na tartaruga um olhar arrepiante, mas o grande capital não tem regras morais e por isso, chega a ser necrófago, porque, vivo ou morto, tanto lhe faz.
Ainda Cabinda
O cidadão em causa “circula livremente” pela França, de onde foi emitida a nota de reivindicação do atentado perpetrado pela FLEC.
Começa-se a perceber quem manipula esse grupelho terrorista. Com ou sem consentimento de “governos democráticos”, ou com esse consentimento encapotado ou não, parece fácil de entender que são algumas das grandes petrolíferas.
Num post no seu blogue, o jornalista angolano Wilson Dada, um crítico, como eu, do governo angolano, condena sem margem para dúvidas o atentado terrorista. Nesse post, um comentário de um angolano, que preferiu manter o anonimato, dá uma ajuda para a compreensão do complicado problema.
Transcrevo-o de seguida:
"No fundo o MPLA agradece pois a FLEC acabou por se colocar numa posição intolerável. Penso que esta história de Cabinda já foi longe demais e que está na altura de os diversos intervenientes se sentarem e conversarem de boa fé. Angola via MPLA errou ao usar em benefício próprio o dinheiro do petróleo de Cabinda não garantindo que uma grossa fratia de tais rendimentos ficasse no território. Os interessados na independência de Cabinda a meu ver estão apenas ao serviço de estranhos a Angola e a Cabinda. É evidente que Angola nunca aceitará a separação de Cabinda pois isso seria aceitar a desfragmentação da unidade territorial de Angola. Não foi por acaso que os portugueses resolveram integrar administrativamente Cabinda em Angola. Sempre actuaram, em termos territoriais de forma muito pragmática. Aliás, não fora a Conferência de Berlim onde Portugal para tentar proteger os seus territórios cedeu uma fatia para acesso do Congo ao mar, e nunca teria havido descontinuidade territorial entre Cabinda e o restante território de Angola. A meu ver esta é a altura para se implementar uma solução federativa para Angola. O caso do Brasil é uma demonstração do sucesso de tal solução. Também aqui houve tentativas de secessão e no entanto todos os diferendos se resolveram de forma adequada. Cabinda isolada será presa fácil para os países vizinhos, iniciará o processo de fragmentação tribal de Angola, processso este que se estenderá, como uma praga aos países vizinhos e dará certamente início a um novo período de guerras civis. Será bom para a rapaziada do petróleo e das armas. Ou seja, interessará muito boa gente mas certamente não interessará aos Africanos que tenham dois palmos de testa. Não é por acaso que a política Portuguesa, ao contrário do que se passou com Timor, anda a assobiar para o lado nesta questão de Cabinda. Para o MNE português a questão de Cabinda não existe".
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Que beleza é o Haiti
O mundo foi informado do terrível tremor de terra que se abateu sobre o Haiti. Muita gente a chorar e muitas dessas lágrimas a serem de crocodilo, porque durante anos comeram a carne àquele povo, que hoje não passa de um esqueleto.
Neste momento de tragédia será bom avivar memórias e a história, porque a amnésia e o branqueamento são um dos modos do embuste que vai levando a dianteira.
O Haiti, colónia espanhola depois francesa e a seguir, protectorado americano, sempre foi um lugar de escravidão e nunca foi questão que preocupasse as democracias e os democratas. Durante muitos anos, governou por lá um tipo carniceiro e sanguinário, do pior que a humanidade já viu e teve. Um tal, Papa Duvalier, ou papa Doc, que foi substituído pelo seu filho, baby Doc, que deu continuidade à saga e a seguir, por um padre católico, Bertand Aristide, que continuou a carnificina e a miséria. Esta gente sempre foi coberta pelo império e sobreviveu montada numa milícia, talvez a mais cruel que correu em toda a América, Caraíbas e Antilhas, os tontons macoutes, que nunca atormentou os mais lúcidos democratas.
Sabe-se que o Haiti é uma notável sequela, mística, social e política do poder de chumbo e da canhoneira, para poder estar a salvo de qualquer ousada experiência. Uma nação paupérrima. Com uma taxa de analfabetos na ordem dos 50% e com uma esperança de vida mitigada e que ainda há poucos anos esteve à beira da implosão como estado e nação.
Evidentemente que as democracias e os democratas nunca por ali viram nada de anormal e a pedir remédio. Medrosos, dir-se-á que o Haiti sempre esteve longe dos olhos e, por isso, longe dos corações.
Entre esses democratas, cito aqui o Doutor Mário Soares, esse dandi da democracia, que naquela zona, só dislumbrou uma ditadura. A dos barbudos, liderados por Fidel, Camilo e Che. Aliás, Fidel tornou-se-lhe o ditador de culto. A questão é que o que separa Cuba do Haiti, é o mesmo que separa o calor do frio, e o Doutor Mário Soares dos verdadeiros democratas.
Esse Doutor Mário Soares, homem de vários sítios, opinador e escrevinhador de regime e por isso, muito requisitado, ainda que na maior parte das vezes, só diga banalidades, que gere uma sua fundação a quem o estado português de volta e meia aguenta e amigo de gente especialista em arrear esperanças em troca dos mais cruéis e sanguinários regimes que a história regista, como no caso do Haiti, mas também o homem que conseguiu, sabe-se lá de que modo, descarregar dos escaparates das livrarias um célebre livro, “contos proibidos, memórias de um P.S. desconhecido”, escrito por um amigo, que foi do peito, Rui Mateus, que bem o conheceu e por ventura, conhece, fica, mais aqueles democratas que por ele nutrem uma militante ternura, desafiados, neste momento de dor, a tomarem o avião e aterrarem em Port-au-Prince, para ver que beleza é o Haiti.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
A gripe A
segunda-feira, 11 de janeiro de 2010
Um balde de água fria? Foi antes uma tempestade de gelo
É que ainda não estou recomposto. Tudo porque os “palancas negras” se armaram em hitchcoquianos. Até o Manuel José ia ficando gago. Reagiu como se nunca tivesse visto um filme do Alfred.
domingo, 10 de janeiro de 2010
A CAN, Angola e a FLEC
Devo dizer que este tipo de comportamento por parte da FLEC infelizmente não me admira. A dúvida, a maior que tenho, é saber quem está por trás desse bando “separatista”.
Sabe-se que durante a luta armada contra o regime colonial a FLEC sempre recusou juntar-se a outros movimentos de libertação. Fossem eles tribalistas, como o caso da UPA/FNLA ou o MPLA, que se queria pan-angolano. A FLEC combatia-os. O regime colonial percebeu e tirou os devidos dividendos.
No início dos anos 60 o MPLA conseguiu abrir uma frente em Cabinda, cujo exército integrava angolanos dos mais variados grupos étnicos, aliás como nos é dado ver no romance de Pepetela, “Mayombe”.
Portanto é fácil de perceber a quem foram criadas dificuldades por parte da FLEC durante a guerra colonial e a quem interessava esse comportamento nada nacionalista.
Sabe-se, também, que esses separatistas, nesse tempo, tinham o apoio do presidente do Congo Brazzaville, Fulbert Youlu. Para um movimento separatista barricado não se sabe em quê, pois pelos vistos não baseado em aspirações populares, estamos em presença de algo incompreensível à luz do bom senso.
Mesmo sabendo que o terrorismo só tem um sinal, persiste uma grande incógnita: Quem estará, afinal e agora, a manobrar e apoiar a FLEC?
sábado, 9 de janeiro de 2010
Os meus penúltimos sapatos adidas, com que corri, foram comprados em Havana
Os textos aqui publicados sobre Cuba provocaram, como seria de esperar, discussão. Alguma sem qualquer nexo, outra, contraditória.
De verdade, tenho que dizer que Cuba não é o paraíso na terra. É só uma pequena ilha que realizou alterações demasiado profundas e inconvenientes, sobretudo, estando situada onde está, por ser exemplo e resistir como resiste. Para que melhor se entenda cito Frank Solar, professor na Faculdade em Santiago de Cuba e membro de base da Juventude Comunista Cubana: “Cuba foi durante meio século a utopia possível. A pequena ilha, embora pobre e subdesenvolvida, mostra, (apesar das suas insuficiências e desacertos), tudo o que é capaz de fazer um Povo quando decide tomar em suas mãos a construção do seu próprio destino. Produziu notáveis avanços em matéria social, educacional, saúde e desportiva… é hoje uma esperança dos povos num mundo melhor”.
Quem assim fala é um intelectual comunista, que não foi castigado por colocar as questões de modo certeiro. Ou como a verdade, afinal, não é delito de opinião.
Cuba não possui em alta escala, recursos e reservas naturais, como é sabido. Nem possui um exército fabuloso treinado na arte da rapina. Não é uma nação colonial. Nem possui um sistema de espionagem electrónica industrial, como o “excelom”.
Certíssimo! É pobre. Alguns lugares, sobretudo Havana, apesar de grandes esforços têm zonas físicas muito deprimidas, como o histórico bairro chinês. Possui um sistema de transportes públicos obsoleto. Perguntaram um dia ao ministro dos transportes, se um sistema de eléctricos rápidos, não seria o ideal para Havana? Com sinceridade, disse: - “essa solução não está esquecida, mas o país não tem por agora os recursos necessários”. Límpido! Mas tem uma cidade velha, recuperada com apoio da Unesco, que é um modelo de recuperação urbana.
Mas se a natureza não dotou a ilha de riquezas e que se saiba não há por lá uma santa Leonor com a faculdade de multiplicar o pão, é inclusive esparso, como se explicam os notáveis avanços sociais? No saneamento público e no acesso a água potável. Uma taxa de mortalidade infantil, só comparada no continente americano, ao Canadá. Na saúde pública, sem o “segurinho”, (está hoje no topo da biotecnologia, por exemplo). No ensino. Nas artes, (uma visita ao museu de arte Nacional em Havana é um fabuloso exercício). No desporto. Na segurança. As três refeições por dia estão absolutamente resolvidas. Nesta matéria, confessou estrondosamente o presidente de um país riquíssimo em petróleo, água e florestas, Lula da Silva. Pequeno-almoço, almoço e jantar, ainda é um luxo para milhões de brasileiros. Mas por contraste, a natureza oferece-lhe de quando em vez, duras tempestades. Mas não consta que dezenas ou centenas morram no olho do furacão. Estas são questões fundamentais da vida, resolvidas, numa pátria pobre, embargada e acossada, enquanto, escandalosamente, os que possuem as notáveis riquezas, fazem questão de não querer passar para lá da fase da Quinta da Marinha ou das paradisíacas ilhas de Angra dos Reis e, mais grave, os milhões que sobram entram em nova fase, a da marcha à ré.
Não sei quanto mais tempo Cuba irá resistir. Mas estou certo, se a deixarem em paz, lá chegará o eléctrico rápido, os micros ondas, os frigoríficos, os televisores, os telemóveis, as roupas e sapatos de marca, em maior abundância.
Antes de me ir e se as coisas têm de ser medidas assim, então sempre vos digo, que os meus penúltimos sapatos adidas, com que corri muitos quilómetros, foram comprados em Havana. Já sei, escusam de me lembrar, que os há em todo o lado, mas em Havana, foram importados para me serem vendidos em exclusividade, porque descobriram que tinha chegado um tipo importante.
sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
O rei do rock
Uma das suas virtudes era o timbre de voz que, segundo especialistas, tinha um alcance difícil para um cantor popular.
Denominado "Rei do rock" foi considerado um dos maiores cantores populares do século XX.
Faria hoje 75 anos.
quinta-feira, 7 de janeiro de 2010
Para o ano, em vez de cavalos, que se ponham burros
O velho João, meu pai, ainda aos 90 anos, costumava declamar os autos do presépio. O velho João, sempre imbricado nestas artes da terra, para além de um grande ponto, foi também ponto nos teatros da “10 de Agosto” e da “Figueirense”. E os meus tios “Paraltas” também por lá andaram. Sobretudo o Zé, que também foi do teatro nos “Caras Direitas”.
Eu, ainda rapaz, lembro-me de vir a pé, e ir, pela noite, dos Vais à Figueira e regresso, e depois, mais tarde, toda a gente de táxi, porque dividido por todos era mais barato, para assistir aos autos pastoris e aos reis. Isto foi ainda no tempo do fascismo. Todos gostávamos muito destas coisas e o poder corporativo, desses tempos, nunca negou, que se saiba, apoios às actividades cénicas do Natal e Ano Novo. Mas agora, no tempo da democracia e do poder autárquico democrático, porque quem toma o poder, toma-o porque o povo vota, parece que esquecem as melhores tradições cénicas. Mas isto é bem feita, porque gente de fora ao fazer lei em casa alheia é o que dá. É de atavismos.
É evidente que um cidadão como eu, que gosta destas coisas e está sempre atento, fica sem saber bem o que se passa. Por isso temos de nos cuidar, porque este desleixo autárquico, ao que parece, começa a fazer escola. É que outro dia já o senhor vereador da cultura faltou a uma cerimónia literária, cá na terra, que contou com gente da Galiza, para galardoar um distinto Figueirinhas.
Será perrisse? Será desleixo? Será já cansaço? Será que o frio da noite assusta e o mais recomendado é ficar de robe, ceroulas e pantufas, esparramado perante a TV e no calor do lar, a fazer zapping? Ou será que estes espectáculos do povo, com mais ou menos sabores a ferrugem, não carregam no bojo o glamor necessário à presença de tão importantes autarcas, que por isso, também negam o necessário apoio? Não o saberemos, porque os nossos autarcas parece que entraram um pouco mudos e por isso querem continuar a falar pouco, porque às faltas, o nosso vereador da cultura, diz nada.
De qualquer modo, sempre aproveito para sugerir às duas colectividades envolvidas nos espectáculos de Natal e Reis, que para o ano, num arrojo de piedade, ofereçam prendas ao senhor vereador da cultura e restantes pares, sobretudo sobretudos, luvas, cachecóis e gorros, para que possam sair nas noites frias dos autos pastoris, ainda que justamente quando se deslocarem ao Centro de Artes e Espectáculos façam a muda de toillete, porque a presença na arte da dança, requer outros cuidados, em linha com um espectáculo mais dado às pífias elites.
Eu penso, evidentemente, que não é obrigatório que os autarcas tenham canudo. Ainda que dê jeito, porque assim se dirá: - “como está senhor doutor?” Mas há por ai gente no povo, com ares de cavalgadura, mas com mais jeito para estas coisas do espírito. O importante é escolher bem. E nessa matéria, somos de atavismos.
Como as coisas estão, para o ano, quem sabe, talvez no lugar de cavalos no desfile dos reis, se ponham burros, em linha com alguns espíritos mais carrancudos, apáticos e negacionistas.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Há prémio
O blogue “Marcha do Vapor” atribuiu-nos o Prémio “Relíquia da Internet”, que agradecemos.
Ditam as regras que temos de escolher outros 5 blogues a quem, na nossa opinião, o prémio também ficará bem.
E assim, por alfabética ordem, aí vão eles:
terça-feira, 5 de janeiro de 2010
Zeca, um homem solidário
O seu nome não ficará, contudo e infelizmente, ligado a estas duas condições.
Mesmo na música, é difícil, muito difícil, centralizar a figura do Zeca. Digamos, o legado do Zeca. Porque muito vasto. Nome grande da canção de Coimbra e da música tradicional portuguesa, é muito mais conotado com a canção de intervenção. Não sem razão, diga-se. Pois sempre foi um crítico da ditadura e sempre se lhe opôs. Com coragem e sem subterfúgios. E mesmo depois da queda do fascismo Zeca criticou o rumo que isto levava. Está bem que era professor de História, mas não foi por isso que ela lhe deu razão. Mas deu-lha.
Zeca será sempre, além de exemplo da luta contra o fascismo, um ícone da cultura portuguesa do século XX.
Zeca é o nosso irmão mais velho porque…
Devo-te tudo o que se deve a quem nos dá força para resistir. Tudo o que se deve a quem tem a coragem de ser até ao fim igual a si mesmo e às ideias que apregoou algum dia.
CAN
Para realizar este evento desportivo Angola teve de construir 4 estádios novos. Em Luanda, Benguela, Cabinda e Lubango.
Temo que quem vai lucrar (ou já lucrou) com esta situação são os mesmos (ou equiparados) que lucraram, em Portugal, com a realização do Euro’04.
E temo também que os angolanos fiquem com o mesmo problema que os portugueses ficaram: com estádios novos onde se gastou uma pipa de massa e sem alguma utilidade. Por exemplo, já houve quem defendesse a demolição do estádio de Aveiro, por ser incomportável a sua manutenção.
Quero com isto dizer que o povo angolano não beneficiará nadinha com isto, pois já se vê que outras prioridades muito mais prementes foram ultrapassadas.
Quanto ao aspecto desportivo claro que vou torcer pela minha equipa, embora não esteja lá muito entusiasmado.
Os “palancas negras”, orientados por um treinador com grande curriculum, Manuel José, têm obrigação de fazer melhor do que fizeram nas duas últimas grandes competições em que entraram. No Mundial’06 não fizeram má figura, atendendo que ficaram no grupo de Portugal e México. No CAN’08 foram eliminados, com grande injustiça, diga-se, nos quartos de final, pelo vencedor da prova, o Egipto.
Mas no actual “consulado” do treinador português, que substituiu o angolano Oliveira Gonçalves, visto pela crítica como “conservador” que revelava medo de arriscar, a equipa rubro-negra ainda não ganhou qualquer jogo. Empatou com o Portimonense, com o Olhanense, com a Gâmbia e com a RD do Congo e perdeu com a Estónia. Está bem que são só jogos-treino, até pode ser que… bem, oxalá.
Uma questão favorável, além do incontornável factor casa, é que em Angola os treinadores portugueses dão-se lindamente: Bernardino Pedroto já foi campeão nacional várias vezes e por várias equipas e, no basquetebol, Luís Magalhães é o actual campeão nacional e africano com o 1º de Agosto, e à frente da selecção venceu o Afrobasket’09.
O site oficial do CAN/2010.
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
A Fuga de Peniche foi há 50 anos
E uma data a relembrar para que a memória não se apague. Mais ainda, quando estamos perante tentativas inclassificáveis de lavagem da História.
Fez ontem, 3 de Janeiro, 50 anos. Já aqui a recordamos.
Ficou conhecido por “A fuga de Peniche”, mas pode-se sempre perguntar: fugir para a frente da batalha é fugir… ou atacar?
sábado, 2 de janeiro de 2010
Como com tretas, papas e um papel, se enganam os tolos
O meu amigo Alexandre, publicou, neste “aldeia olímpica”, uma formidável fotografia tirada na Festa do Avante, que despacha, simultaneamente, uma também notável e fraterna mensagem de amor, mas também de dor: "Esta noite milhões de crianças dormirão nas ruas do mundo. Nenhuma delas é Cubana". Nem o mais empedernido pode ficar indiferente, porque pelo mundo, sem dúvida, muitos milhões, e muitos, especialmente em países democráticos, dormem e sofrem na rua. Lembro aqui os meninos que fazem do pátio da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro, o seu único lugar, sem aconchego, e são acossados, duramente, pela calada da noite, por polícias organizados em esquadrões da morte. Ou os meninos de rua da Cidade de Assunção, no Paraguai, que, sem eira certa, limpam os ocupantes de um autocarro público, num abrir e fechar de olhos, como nos disse, nas suas memórias, Pablo Neruda. Ou os meninos de uma qualquer cidade da Índia, que têm por tecto os ramos de uma arvore, as estrelas e o céu. E para acabar, os meninos do bairro negro de Brooklin, em Nova Yorque, que são vazados no frio, depois da recusa do acto médico, porque não tem o seguro de saúde.
Mas para que se saiba que a vida e a família são de facto um bem precioso, deixo aqui, sem retórica e com medidas sérias no reforço da notável mensagem trazida por essa fotografia, a última das medidas do estado cubano:
Mulheres cubanas, diariamente, recebem em sua casa a visita dos técnicos da sua área de saúde, no sentido do despiste de complicações, neste período de aperto da gripe A. Estão de momento, nesta situação, mais de 81.000 grávidas e mães recentes.
Há aqui, desde já, um verdadeiro acto de amor, que tem de ficar para lembrança futura. Não são as senhoras que se deslocam ao centro de saúde, mas os técnicos do centro de saúde que se deslocam a casa dessas mulheres, que constituem um grupo alvo, sem que lhes seja pedido o “segurinho”.
Evidentemente que a Unicef ao mesmo tempo que reconhece os notáveis progressos em termos de saúde pública na Ilha, não nos foi capaz de dizer quantos cidadãos maiores de 18 anos tem direito ao voto universal. Esta, cuidai, é de facto uma enorme tragédia democrática. Contudo, sempre vos digo que em Cuba qualquer cidadão com mais de 18 anos pode votar em plena consciência. A questão é que lá se vota de modo diferente e por isso não é possível eleger deputados como, por cá, se elegeu o deputado do PPD/PSD, António Preto, que compra votos a 25 euros, como quem compra nas lojas da especialidade da rua do Arsenal, bacalhau a pataco, ou aquele deputado socialista, amante de futebol e do Boavista, que ficou conhecido, deliciosamente, pelo Zé Léguas. Ou ainda, no país que vota de livre consciência, umas dezenas de bons cidadãos, estiveram, há cerca de 5 dias, mais de 12 horas numa fila para poderem ter acesso a um simples acto médico, no hospital da formidável cidade de Cascais, sem outra explicação, para lá daquela que os mandou fazer o papel de bons pretos e ainda por cima, com cara alegre.
Aqui chegados, e para terminar, não restam dúvidas de que esta democracia necessita de uns tantos palermas, que com um pedaço de papel que remetem para uma caixa, que por si só não chega, julgam estar a decidir o seu destino.