Augusto Alberto
À socapa, pelas 5 da manhã, jovens de cara tapada, decidiram denunciar um roubo de 13 milhões no salário mínimo, colocando tarjas em algumas sucursais do Banco Português de Negócios. E disseram ainda: “somos gente cujo investimento e sacrifício dos pais na nossa educação resultou em desemprego e precariedade”.
Eu, que estou para além dos 60, aplaudo. Contudo, deixo um reparo. No meu tempo, o tempo era bem mais difícil e coisas semelhantes foram feitas de cara destapada. Como seria bom, neste tempo de democracia, que soubéssemos quem sóis, para sabermos com quem andastes.
Entretanto, também à socapa, o ministério do Ministro Alberto Martins, resolveu “parabenzar” a própria esposa, por feitos distintos, com uma verba de 72 mil euros. E ainda o seu amigo e amigo da sucata, alto quadro do Partido Socialista, Armando Vara, foi também parabenzado com choruda maquia, pelo BCP, para evitar que se fosse vender à concorrência. Há quem diga que a concorrência, se falarmos de um produto, obriga à baixa do preço, mas aqui, pelos vistos, concorreu para a ladroagem. É conforme o ponto de vista.
E se é amante do golfe, essa coisa vagamente desportiva que cativa presidentes de todo o tipo, antigos e actuais banqueiros, e toda a casta de gente de bem, da República ou levemente da monarquia, já sabe, não deverá mudar, porque o governo prepara a baixa do IVA para 6%. Continue calçando aqueles sapatinhos de vela e vá tacando, porque a noite chegará e não resistirá, depois do esforço, à vontade de uma nobre ceia. E após, o charuto e um gole de uísque, trarão a clareza das ideias, que em regra, concorrerem para nos fornicar.
Mas se vive junto a quartel militar ou da polícia, não se sinta, ainda assim, seguro. Inaugurado em 2007, o edifício construído de raiz para albergar os serviços da antiga Junta Autónoma de Estradas, hoje, Estradas de Portugal, junto ao Palácio de Queluz e do Regimento de Artilharia Anti-aérea nº 1, pelo valor de 1,5 milhões de euros, está abandonado e posto à guarda da tropa, mesmo ao lado, nem por isso deixa de estar à mercê da destruição. Em linguagem muito popular, direi que o nosso dinheiro, nestes instantes, é elevado à categoria de trampa e a guarda da coisa pública, é uma merda.
É por causa destas e de outras coisas, mais do que triviais, cavalgadas por amigos do Presidente Cavaco, e demais gente do PSD/PPD, mortinhos por serem eles agora a abocanhar o poder politico, para logo aconchegar um pouco mais a barriga do poder económico, e por sábios dirigentes e ladrões do Partido Socialista, que convêm cavalgar sobre a inevitabilidade dos PECs, como se todos tivéssemos responsabilidades iguais nesta chafurdice em que vivemos, e na famosa teoria de que afinal os partidos são todos iguais. Que jeito dá a estes espertos e ladrões, a assunção ideológica da inevitabilidade e da igualdade da coisa.
Como sempre, burro velho, calejado em muitas lutas, alerto os jovens com ou sem capuz, se tiver a honra de ser lido, de que não será coisa boa, lá para final de Maio ou principio de Junho, repetir, creio, alguns passinhos dos paizinhos, sob pena daqueles que os tornaram precários se sentirem legitimados a ir um pouco mais além, colocando-os, um patamar acima, na condição de escravos ou em última instância, na condição de emigrantes, essa condição que teima em não acabar.