por Augusto Alberto
Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles o País ficou suspenso da final dos 10.000 metros e quase ciente da vitória de Fernando Mamede. Foi apaixonante e o meu saudoso amigo Armando Vareta, desafiou-me para uma noite de esperança. É preciso lembrar que o tiro para a final seria dado cerca das 05.00 da manhã. Recusei, porque tinha a certeza de que Mamede como quase sempre, sairia pela porta do túnel de acesso à pista. Dormi docemente nessa noite e pela manhã confirmei essa minha suspeita. O meu amigo Vareta ficou como toda a nação, desolado. E eu também, porque mais uma vez, Mamede ficou-se pela entidade biológica de alto rendimento e negou-se renovadamente à alta competição.Imagino como sofria nesses momentos que se exigiam de superação.
Também aqui o meu amigo Alexandre, titular desta “aldeia olímpica”, deu nota e bem, da sua desolação quando encarou numa manhã de 5ª Feira a primeira página do jornal diário “O record”. Nesta aldeia deu-se discussão, e não querendo dar de barato a triologia, fado, futebol e Fátima, quero aqui também entrar.
As coisas são só o resultado daquilo que somos como povo há muitos anos, pobre, e por isso, digo, ávido em permanência de alguma coisa que o ajude a compensar tanto sofrimento, uma simples alegria, nem que seja efémera. E aqui começa logo a porca a torcer o rabo, porque não temos a cultura de depois de conseguir um êxito, voltar a colocar tudo no ponto de partida e partir para novo ciclo. De um modo geral, queremos andar ou chegar à frente sem grande trabalho e isso não existe. A alegria desportiva não se compra, fabrica-se. Salvo honrosas excepções, isso não é matéria em que sejamos especialistas. Tudo é mais ou menos casuístico.
Entretanto, alguma discussão resvalou para a lógica do lucro, tão legítima como qualquer outra, neste mundo canalha, digo, mas, apesar, quero aqui provar que existe mais vida para lá do futebol, deixando pequenos exemplos de experiências para lá dos Pirinéus, mesmo que elas tenham lugar em mundos onde o futebol e o lucro também se confundem, mas onde os outros têm o seu espaço e às vezes bem abundante, e isso depois, muito naturalmente, tem expressão nos resultados que cada uma dessas nações obtém nos grandes eventos internacionais.
Começo por referir que na Flandres, o vencedor do Paris/Roubaix em ciclismo, é o herói da festa e amplamente publicitado tanto na imprensa escrita como falada. Na fria Finlândia, onde os desportos da neve levam vantagem, lançar o dardo é disciplina de heróis e a bela Tânia Lilak, multipla campeã do Mundo e olímpica, atingiu na Pátria falada e escrita, o Olímpo. O Ténis de Mesa arrasta multidões na China. Em Itália, onde o cálcio gera paixões, muitas das vezes irracionais, Milão vê correr pelas suas ruas e avenidas, acima das 50.000 pessoas, na sua Meia Maratona anual, a Stramilano e em 1998, a RAI parou a transmissão de um jogo em directo do cálcio, para transmitir a final do Campeonato do Mundo de remo em shell 2 com timoneiro, ganho pela dupla campeã olímpica, gémea, dos irmãos Abanhale. Nesse ano, um deles foi atleta do ano em terra de futebol. Em que mundo a TV pára o futebol a favor de uma final de remo? Também no ano em que estive em Itália, Pantani foi o herói falado e escrito depois da sua vitória no tour e o Giro disputa taco a taco com o futebol as paixões. Há anos, em França, assisti na imprensa falada e escrita à final do campeonato nacional de rugby. Dentro do estádio, estavam ansiosamente 80.000 pessoas e no exterior estavam mais 20.000 coladas ao som e às imagens passadas em ecrã. O Tour, essa irresistível paixão do Verão, do L’Equipe, leva a palma e os ciclistas são os verdadeiros sujeitos da História. Londres pela Páscoa mobiliza-se, sempre com os morangos com chantily no bornal, na ordem dos 300 mil anónimos, para assistir à mítica Oxford/Cambridge. No final, o derrotado, com garbo, desafia o vencedor para voltarem à desforra. É a renovação do acto. A pequena Holanda desafiou-se para ver o seu shell 8 com timoneiro ser campeão olímpico em Atlanta, dando a única medalha olímpica à pátria que acabou com lágrimas de emoção. E para acabar, coloco no centro, o rugby, que em terras de sua majestade marca paixões.
Fico-me para não provocar indigestão aos leitores e provar que apesar de tudo há mais mundo, e na nossa terra, só não há esse outro mundo porque à cultura dominante do lucro, estão associados baixos níveis de exigência e falta de atitude crítica. É o paradoxo e o liberalismo no seu pior. Ou seja, quanto menos exigentes como povo melhor, e é por isso que quando há futebol as bandeiras são aos molhos e o Belmiro de Azevedo e o Ferraz da Costa, figura com ar de quem gostaria de ser torcionário, falam do modo como falam.
Nos Jogos Olímpicos de Los Angeles o País ficou suspenso da final dos 10.000 metros e quase ciente da vitória de Fernando Mamede. Foi apaixonante e o meu saudoso amigo Armando Vareta, desafiou-me para uma noite de esperança. É preciso lembrar que o tiro para a final seria dado cerca das 05.00 da manhã. Recusei, porque tinha a certeza de que Mamede como quase sempre, sairia pela porta do túnel de acesso à pista. Dormi docemente nessa noite e pela manhã confirmei essa minha suspeita. O meu amigo Vareta ficou como toda a nação, desolado. E eu também, porque mais uma vez, Mamede ficou-se pela entidade biológica de alto rendimento e negou-se renovadamente à alta competição.Imagino como sofria nesses momentos que se exigiam de superação.
Também aqui o meu amigo Alexandre, titular desta “aldeia olímpica”, deu nota e bem, da sua desolação quando encarou numa manhã de 5ª Feira a primeira página do jornal diário “O record”. Nesta aldeia deu-se discussão, e não querendo dar de barato a triologia, fado, futebol e Fátima, quero aqui também entrar.
As coisas são só o resultado daquilo que somos como povo há muitos anos, pobre, e por isso, digo, ávido em permanência de alguma coisa que o ajude a compensar tanto sofrimento, uma simples alegria, nem que seja efémera. E aqui começa logo a porca a torcer o rabo, porque não temos a cultura de depois de conseguir um êxito, voltar a colocar tudo no ponto de partida e partir para novo ciclo. De um modo geral, queremos andar ou chegar à frente sem grande trabalho e isso não existe. A alegria desportiva não se compra, fabrica-se. Salvo honrosas excepções, isso não é matéria em que sejamos especialistas. Tudo é mais ou menos casuístico.
Entretanto, alguma discussão resvalou para a lógica do lucro, tão legítima como qualquer outra, neste mundo canalha, digo, mas, apesar, quero aqui provar que existe mais vida para lá do futebol, deixando pequenos exemplos de experiências para lá dos Pirinéus, mesmo que elas tenham lugar em mundos onde o futebol e o lucro também se confundem, mas onde os outros têm o seu espaço e às vezes bem abundante, e isso depois, muito naturalmente, tem expressão nos resultados que cada uma dessas nações obtém nos grandes eventos internacionais.
Começo por referir que na Flandres, o vencedor do Paris/Roubaix em ciclismo, é o herói da festa e amplamente publicitado tanto na imprensa escrita como falada. Na fria Finlândia, onde os desportos da neve levam vantagem, lançar o dardo é disciplina de heróis e a bela Tânia Lilak, multipla campeã do Mundo e olímpica, atingiu na Pátria falada e escrita, o Olímpo. O Ténis de Mesa arrasta multidões na China. Em Itália, onde o cálcio gera paixões, muitas das vezes irracionais, Milão vê correr pelas suas ruas e avenidas, acima das 50.000 pessoas, na sua Meia Maratona anual, a Stramilano e em 1998, a RAI parou a transmissão de um jogo em directo do cálcio, para transmitir a final do Campeonato do Mundo de remo em shell 2 com timoneiro, ganho pela dupla campeã olímpica, gémea, dos irmãos Abanhale. Nesse ano, um deles foi atleta do ano em terra de futebol. Em que mundo a TV pára o futebol a favor de uma final de remo? Também no ano em que estive em Itália, Pantani foi o herói falado e escrito depois da sua vitória no tour e o Giro disputa taco a taco com o futebol as paixões. Há anos, em França, assisti na imprensa falada e escrita à final do campeonato nacional de rugby. Dentro do estádio, estavam ansiosamente 80.000 pessoas e no exterior estavam mais 20.000 coladas ao som e às imagens passadas em ecrã. O Tour, essa irresistível paixão do Verão, do L’Equipe, leva a palma e os ciclistas são os verdadeiros sujeitos da História. Londres pela Páscoa mobiliza-se, sempre com os morangos com chantily no bornal, na ordem dos 300 mil anónimos, para assistir à mítica Oxford/Cambridge. No final, o derrotado, com garbo, desafia o vencedor para voltarem à desforra. É a renovação do acto. A pequena Holanda desafiou-se para ver o seu shell 8 com timoneiro ser campeão olímpico em Atlanta, dando a única medalha olímpica à pátria que acabou com lágrimas de emoção. E para acabar, coloco no centro, o rugby, que em terras de sua majestade marca paixões.
Fico-me para não provocar indigestão aos leitores e provar que apesar de tudo há mais mundo, e na nossa terra, só não há esse outro mundo porque à cultura dominante do lucro, estão associados baixos níveis de exigência e falta de atitude crítica. É o paradoxo e o liberalismo no seu pior. Ou seja, quanto menos exigentes como povo melhor, e é por isso que quando há futebol as bandeiras são aos molhos e o Belmiro de Azevedo e o Ferraz da Costa, figura com ar de quem gostaria de ser torcionário, falam do modo como falam.