quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Memória olímpica (VIII)

Curiosidades (I)

Nighthorse Campbell (1964)
A história dos Jogos Olímpicos escreve-se falando dos grandes campeões, mas também dando conta da existência de atletas que acabaram por se destacar (no desporto ou fora dele) mesmo sem terem conhecido o ouro. Está entre estes últimos o senador norte-americano Ben Nighthorse Campbell.
A sua vida dava para sustentar um argumento de um bom filme, a começar pela rara combinação das suas origens: filho de pai índio (da tribo cheyenne) e de uma mãe… portuguesa.
A doença (tuberculose) da emigrante açoreana que o deu à luz em 1933 e os desmandos alcoólicos do pai contribuíram para uma adolescência agitada, apenas serenada no desempenho do serviço militar, na guerra da Coreia.
Foi, aliás, a ida para a península da discórdia que fez com que Campbell enveredasse pelo desporto, tornando-se praticante de Judo, a modalidade que o levaria até aos jogos de Tóquio, como melhor membro da equipa dos EUA.
O torneio olímpico não lhe correu da melhor forma, estando ainda hoje convencido de que o facto de ter partido o nariz num dos combates o impediu de chegar ao pódio.
Depois de 1964, ainda se manteve ligado à modalidade, como instrutor, mas acabaria por se lançar noutros voos: primeiro, foi um joalheiro de nomeada e, depois, enveredou pela política. Aí teve mais êxito do que no desporto: nas eleições de 1992, mais de 200 anos depois da fundação dos EUA, tornou-se no primeiro índio a ter assento no senado.


Stylianos Mygiakis (1980)
Após duas dezenas de edições e mais de uma centena de campeões, finalmente um atleta grego conseguiu conquistar uma medalha de ouro na luta… greco-romana.
Stylianos Mygiakis triunfou no escalão de menos de 62 quilos. Foi o único atleta do país onde nasceram os jogos que venceu em Moscovo, onde quebrou um longo jejum de 20 anos. É que a Grécia não alcançava um primeiro posto desde 1960.


Murray Rose (1960)
O australiano Murray Rose tornou-se, em Roma, o primeiro nadador a conquistar dois títulos consecutivos na prova de 400 metros livres.
Curiosamente, em ambas as finais o segundo posto pertenceu também ao mesmo homem, o japonês Tsuyoshi Yamanaka.
Mais curioso ainda é o facto de em ambas as provas os dois atletas terem ficado separados pela mesma diferença cronométrica: 3,1 segundos.


Índia mais bonita (1988)
Numa competição destinada a premiar os melhores do mundo, a Índia, não tendo atletas ou equipas para lutar pelos primeiros postos, jogou os seus argumentos logo no primeiro dia.
Na delegação que desfilou na cerimónia de abertura integrou-se a Miss Mundo de 1988. Não era atleta, mas ninguém colocou em causa a sua presença.



Derartu Tulu (1992)
Trinta e dois anos depois de um etíope ter conquistado o primeiro título olímpico para a África negra – Abebe Bikila, vencedor da Maratona dos jogos de Roma -, uma atleta do mesmo país cometeu a mesma proeza no sector feminino.
Derartu Tulu ganhou os 10 mil metros, uma prova empolgante, na qual a etíope teve como principal adversária a sul-africana Elana Meyer.
A volta de honra que as duas fundistas deram à pista foi um dos momentos mais significativos de Barcelona’92, duas africanas, uma branca e outra preta, de mãos dadas, simbolizaram na perfeição o regresso à família olímpica do país onde o apartheid fora abolido havia pouco tempo.


Fato proibido (1976)
A equipa da Alemanha Federal que conquistou o título na prova de ciclismo de 4000 metros perseguição colectiva apresentou duas importantes inovações.
Os pneus das bicicletas dos quatro germânicos foram enchidos com hélio, por se tratar de um gás mais leve do que o oxigénio.
A outra novidade não foi aceite: a utilização de um fato de uma só peça. Muitos anos mais tarde, esse equipamento, considerado mais aerodinâmico, foi adaptado numa série de modalidades.





(in "Jogos Olímpicos – Um século de glória", edição jornal O Público)

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Obrigado por estas relembranças...

Um abraço.