domingo, 31 de agosto de 2008

Pequim’08: em jeito de balanço (croniqueta de fim-de-semana)

A depressão provocada por deficit medalhístico que inundou o país, atenuada com a vitória de Nelson Évora, foi extemporânea.
O único facto negativo desta oriental odisseia foi protagonizado pelo presidente do COP. Primeiro, ao estabelecer um objectivo quer no número de medalhas quer na pontuação a obter; segundo, ao dizer que se ia embora num momento em que as coisas ficaram “pretas”; e terceiro, que poderia ficar, quando Évora saltou para o Ouro e transformou, supostamente, esta edição numa das melhores de sempre do olimpismo português.
Não se poderá considerar negativa a actuação dos atletas. Claro que houve rendimentos abaixo do esperado, o que acaba sempre por ser uma situação normal, os homens não são máquinas. Perdemos até uma medalha que ninguém estava à espera, a de Naide Gomes. Uma perda acidental, mas são imponderáveis inerentes ao próprio desporto, e não é por isso que ela não continua a ser a melhor do mundo. Tivesse um dos saltos não ter sido nulo e ela poderia, com propriedade, parafrasear e fazer dela as palavras do grande Ali: “sou a mais bonita e a melhor saltadora do mundo”. Não pôde, mas como diz o povo, e o povo tem sempre razão, “há mais marés que marinheiros”.
Obikuelu fez os possíveis. Claro que estávamos à espera, pelo menos, da sua presença na final. Percebemos agora que as suas declarações, demasiado optimistas, não tinham outro objectivo senão aumentar os próprios índices de confiança, pois ele sentia estar perante uma tarefa hérculea. Não aconteceu, não se pode ganhar sempre. Apesar de tudo, devemos estar agradecidos ao atleta. Por muito.

A prova de Jessica Augusto deu a entender que, não fora o acidente que a afastou da final, teria lutado por uma posição entre as oito primeiras.
Também esperávamos medalhas no Judo, modalidade que em Portugal atingiu já um nível internacional bastante aceitável. Assim como na Vela. Não aconteceu, não foi por incompetência dos atletas, foi pelos imponderáveis do próprio desporto. Entre outras coisas.
Na Natação, desporto onde não temos grandes esperanças, 4 dos oito nadadores presentes bateram 5 records nacionais, o que só por si torna, atrever-me-ia a escrever, excelente a participação.
A obtenção, no total, de um primeiro, um segundo, um quarto, 2 sétimos, 4 oitavos, 3 nonos ou 2 décimos lugares pode ser considerado um bom desempenho num país que não tem cultura desportiva. O que existe nem sequer é uma cultura futeboleira, é mais uma cultura clubístico-futeboleira. Porque a grande maioria nem sequer gosta de futebol, gosta-se mais do Benfica, do Sporting ou do Porto. Somos um país onde existem 3 jornais diários supostamente desportivos, mas que as suas páginas são dedicadas, acima dos 90%, ao pontapé no coiro. E este não esteve em Pequim. E um país onde não existe, por exemplo, desporto escolar.
Veja-se a capa de um jornal no dia seguinte à medalha de ouro de Évora: a manchete foi dedicada a um futebolista estrangeiro que apenas assinara por um clube português, não fizera qualquer jogo e nem sequer os portugueses o conhecem. Jogou ontem, e não o vimos fazer nada de especial que qualquer jovem futebolista português não fizesse. É triste. Lembro-me que quando Naide ultrapassou pela primeira vez os 7 metros, teve direito a uma pequena chamada lateral, a considerar um feito histórico. Então se era histórico porque não lhe foi dada a manchete?
Acontece que o futebol tem um efeito eucalipto. Não está sozinho neste efeito, há outras modalidades cujas ligas se disputam maioritariamente por jogadores estrangeiros. As condições que têm, bem como o campo de recrutamento, não são comparáveis às condições de outros, diminuindo-os. Vejamos os estádios novos que se fizeram, os estádios que existem, comparemos o número com as pistas de atletismo que por aí não há.
A conclusão que se pode tirar é que os Lopes, os Mamedes, as Rosas, as Auroras, as Fernandas, as Vanessas, as Machados, os Évoras, as Naides, ou outros, aparecem por geração espontânea e não por via de políticas correctas para um desporto que se queira competitivo.
Exigir medalhas? Estabelecer fasquias? É um absurdo, a menos que se mudem as mentalidades. Começando pela imprensa desportiva, que poderia começar a deixar de ser ridícula. Já era uma grande ajuda. E continuando com a saída do presidente do COP. E, já agora, a nomeação de um ministro da educação a sério também dava um grande jeito.
Para não falar no jeito que dava, não só ao desporto, um governo sério e a sério.

8 comentários:

samuel disse...

Completamente de acordo!
Exigências, façam-nas ao futebol. Podiam mesmo começar por exigir o afastamento dos mafiosos, corruptos e trafulhas de toda a espécie, que enchem contantemente as páginas dos jornais, não deixando espaço para mais nada.
Desporto?! Essa é boa!...

Abraço

Fernando Samuel disse...

Parabéns: magnífica análise de balanço dos JO: lúcida, serena, acutilante - e ainda com a vantagem de estar bem escrita, o que não é de somenos importância se dermos uma vista de olhos pelos jornais que por aí se publicam...

Abraço.

Anónimo disse...

Eu ás vezes penso, sim porque não posso estar sempre a pensar, mas isto está mesmo a precisar de uma grande vassourada, tão grande que nem sei se haverá vassouras que cheguem, nem para onde varrer tanto lixo.
Boa abordagem ao assunto, pela tua parte!

Guimaraes disse...

Notável análise.
A minha opinião:
http://guimaraes2-observador.blogspot.com/2008/08/um-pas-de-campees.html

Anónimo disse...

Formam-se atletas mas não se formam desportistas. Para os proximos jogos os atletas deveriam aprender o significado de palavras como Humildade, desportivismo, camaradagem.

Anónimo disse...

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