sábado, 18 de julho de 2009

Os jogos da Lusofonia

As declarações de Miguel Maia, hoje ao jornal “A Bola”, sobre os Jogos da Lusofonia devem constituir um ponto de partida para uma reflexão séria. Desde o reparo a algumas modalidades que não se fazem representar a um nível mais competitivo, ao escasso público que tem assistido aos jogos. A crítica de Maia é contundente: “A organização de um evento deste cariz devia pensar que é impossível tentar ganhar dinheiro. Deviam pensar em outras coisas em vez de estar a tentar fazer dinheiro com as bilheteiras. Isso é impensável”. Porque estes jogos, acrescenta o atleta, "deviam ser a festa da união e da língua".
Ainda bem que nem todas as modalidades cabem nas críticas do excelente atleta olímpico, pois os atletas lusófonos tiveram, ainda assim, oportunidade de competir e conviver com alguns dos melhores atletas mundiais, casos de Naide Gomes, Nelson Évora, Obikuelu ou Mário Silva.
Entretanto o desporto revela-se sempre uma caixa de surpresas.
Eloy Boa Morte, que representa o Benfica, venceu para S. Tomé e Príncipe a única medalha de ouro daquele país. Transcrevo a notícia do jornal “A Bola”:


“Sobrevivo dos biscates”
A última final (-80kg) do dia no torneio de taekwondo colocou frente a frente o brasileiro Henrique Moura e Eloy Boa Morte, de são Tomé e Príncipe, e de forma surpreendente as bancadas quase vazias animaram-se. Para torcer por Eloy, que confirmou parentesco com o futebolista – “meu pai é irmão da mãe dele mas não o vejo porque saiu muito cedo de S. Tomé” – e o atleta respondeu à altura, vencendo o mais renhido dos combates. “Esta vitória é muito importante para mim e para quem me apoiou aqui. Sabem o esforço que eu fiz para vencer. Despedi-me, deixei de estudar para ganhar. Represento o Benfica e ganhei tudo o que havia mas eles não me dão nenhum apoio. Nem para os transportes”, explicou emocionado. “Até o fato de treino tenho de devolver. Como sobrevivo? Trabalho naquilo que aparece. Transportes, mudanças, todos os biscates, mas passo muitas dificuldades. Muitas mesmo.
Se a situação não se alterar vou ter de abandonar, pois sou emigrante e estou sozinho”
. Sem subsídios, sem fatos de treino mas com direito a Benfica TV no momento em que se sagrou campeão.

4 comentários:

Guimaraes disse...

A imagem concreta da sociedade "descartável" e hipócrita em que vivemos.
O atleta é usado e deixado como um lenço de papel...

cajó disse...

ha que saber a historia deste atleta...ele treinava noutro clube e foi ludibriado a vir para o benfica com falsas promessas...

alex campos disse...

Não conheço a história do atleta, por isso não opinei, limitei-me a transcrever a notícia do jornal que por si só é elucidativa da sociedade em que vivemos. Posso é dizer que as responsabilidades maiores são do governo da nação, que permite tal, e devia ter vergonha por isso.

samuel disse...

Vivam os atletas!
Quanto aos promotores, agentes e alguns clubes, felizmente, o adjectivo "chulos" não é exclusivo de nenhuma actividade.
Chulos!