Augusto Alberto
O velho João, meu pai, ainda aos 90 anos, costumava declamar os autos do presépio. O velho João, sempre imbricado nestas artes da terra, para além de um grande ponto, foi também ponto nos teatros da “10 de Agosto” e da “Figueirense”. E os meus tios “Paraltas” também por lá andaram. Sobretudo o Zé, que também foi do teatro nos “Caras Direitas”.
Eu, ainda rapaz, lembro-me de vir a pé, e ir, pela noite, dos Vais à Figueira e regresso, e depois, mais tarde, toda a gente de táxi, porque dividido por todos era mais barato, para assistir aos autos pastoris e aos reis. Isto foi ainda no tempo do fascismo. Todos gostávamos muito destas coisas e o poder corporativo, desses tempos, nunca negou, que se saiba, apoios às actividades cénicas do Natal e Ano Novo. Mas agora, no tempo da democracia e do poder autárquico democrático, porque quem toma o poder, toma-o porque o povo vota, parece que esquecem as melhores tradições cénicas. Mas isto é bem feita, porque gente de fora ao fazer lei em casa alheia é o que dá. É de atavismos.
É evidente que um cidadão como eu, que gosta destas coisas e está sempre atento, fica sem saber bem o que se passa. Por isso temos de nos cuidar, porque este desleixo autárquico, ao que parece, começa a fazer escola. É que outro dia já o senhor vereador da cultura faltou a uma cerimónia literária, cá na terra, que contou com gente da Galiza, para galardoar um distinto Figueirinhas.
Será perrisse? Será desleixo? Será já cansaço? Será que o frio da noite assusta e o mais recomendado é ficar de robe, ceroulas e pantufas, esparramado perante a TV e no calor do lar, a fazer zapping? Ou será que estes espectáculos do povo, com mais ou menos sabores a ferrugem, não carregam no bojo o glamor necessário à presença de tão importantes autarcas, que por isso, também negam o necessário apoio? Não o saberemos, porque os nossos autarcas parece que entraram um pouco mudos e por isso querem continuar a falar pouco, porque às faltas, o nosso vereador da cultura, diz nada.
De qualquer modo, sempre aproveito para sugerir às duas colectividades envolvidas nos espectáculos de Natal e Reis, que para o ano, num arrojo de piedade, ofereçam prendas ao senhor vereador da cultura e restantes pares, sobretudo sobretudos, luvas, cachecóis e gorros, para que possam sair nas noites frias dos autos pastoris, ainda que justamente quando se deslocarem ao Centro de Artes e Espectáculos façam a muda de toillete, porque a presença na arte da dança, requer outros cuidados, em linha com um espectáculo mais dado às pífias elites.
Eu penso, evidentemente, que não é obrigatório que os autarcas tenham canudo. Ainda que dê jeito, porque assim se dirá: - “como está senhor doutor?” Mas há por ai gente no povo, com ares de cavalgadura, mas com mais jeito para estas coisas do espírito. O importante é escolher bem. E nessa matéria, somos de atavismos.
Como as coisas estão, para o ano, quem sabe, talvez no lugar de cavalos no desfile dos reis, se ponham burros, em linha com alguns espíritos mais carrancudos, apáticos e negacionistas.
O velho João, meu pai, ainda aos 90 anos, costumava declamar os autos do presépio. O velho João, sempre imbricado nestas artes da terra, para além de um grande ponto, foi também ponto nos teatros da “10 de Agosto” e da “Figueirense”. E os meus tios “Paraltas” também por lá andaram. Sobretudo o Zé, que também foi do teatro nos “Caras Direitas”.
Eu, ainda rapaz, lembro-me de vir a pé, e ir, pela noite, dos Vais à Figueira e regresso, e depois, mais tarde, toda a gente de táxi, porque dividido por todos era mais barato, para assistir aos autos pastoris e aos reis. Isto foi ainda no tempo do fascismo. Todos gostávamos muito destas coisas e o poder corporativo, desses tempos, nunca negou, que se saiba, apoios às actividades cénicas do Natal e Ano Novo. Mas agora, no tempo da democracia e do poder autárquico democrático, porque quem toma o poder, toma-o porque o povo vota, parece que esquecem as melhores tradições cénicas. Mas isto é bem feita, porque gente de fora ao fazer lei em casa alheia é o que dá. É de atavismos.
É evidente que um cidadão como eu, que gosta destas coisas e está sempre atento, fica sem saber bem o que se passa. Por isso temos de nos cuidar, porque este desleixo autárquico, ao que parece, começa a fazer escola. É que outro dia já o senhor vereador da cultura faltou a uma cerimónia literária, cá na terra, que contou com gente da Galiza, para galardoar um distinto Figueirinhas.
Será perrisse? Será desleixo? Será já cansaço? Será que o frio da noite assusta e o mais recomendado é ficar de robe, ceroulas e pantufas, esparramado perante a TV e no calor do lar, a fazer zapping? Ou será que estes espectáculos do povo, com mais ou menos sabores a ferrugem, não carregam no bojo o glamor necessário à presença de tão importantes autarcas, que por isso, também negam o necessário apoio? Não o saberemos, porque os nossos autarcas parece que entraram um pouco mudos e por isso querem continuar a falar pouco, porque às faltas, o nosso vereador da cultura, diz nada.
De qualquer modo, sempre aproveito para sugerir às duas colectividades envolvidas nos espectáculos de Natal e Reis, que para o ano, num arrojo de piedade, ofereçam prendas ao senhor vereador da cultura e restantes pares, sobretudo sobretudos, luvas, cachecóis e gorros, para que possam sair nas noites frias dos autos pastoris, ainda que justamente quando se deslocarem ao Centro de Artes e Espectáculos façam a muda de toillete, porque a presença na arte da dança, requer outros cuidados, em linha com um espectáculo mais dado às pífias elites.
Eu penso, evidentemente, que não é obrigatório que os autarcas tenham canudo. Ainda que dê jeito, porque assim se dirá: - “como está senhor doutor?” Mas há por ai gente no povo, com ares de cavalgadura, mas com mais jeito para estas coisas do espírito. O importante é escolher bem. E nessa matéria, somos de atavismos.
Como as coisas estão, para o ano, quem sabe, talvez no lugar de cavalos no desfile dos reis, se ponham burros, em linha com alguns espíritos mais carrancudos, apáticos e negacionistas.
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