Augusto Alberto
Paulo Rangel, deputado no parlamento europeu, assentou violenta catilinária sobre aqueles que, do seu ponto de vista, só conseguem ver nas brumas a democracia económica e social, esquecendo a democracia política. Por uma vez entendo o deputado Rangel, porque tem sabido, como poucos e com brilho, usar a sua democracia política e as suas e nossas liberdades, para conseguir chegar à sêmea e resolver a sua democracia económica e social. Ao contrário de milhões de portugueses que, de posse da mesma democracia política e mesmas liberdades, ainda não acertaram no modo de conseguir resolver a sua democracia económica e social. Mitigados, é seguro, só lhes dá para o desemprego. Para salários de cão. Para a falta de dinheiro para o médico e os medicamentos, e com beneplácito para dormir debaixo de uma montra, cujos néons ajudam a mostrar a nudez. Alguma, por onde passa o deputado para comprar o fato de notável.
Assim a modos como os cardeais católicos de Roma, que só usam seda e cetim e estolas de arminho. Aliás, na posse da democracia política e das fundamentais liberdades, o deputado Rangel faz-me lembrar um porco que, depois de ir à gamela e com a barriga cheia, espalha-se, satisfeito, a resfolgar pelo chiqueiro.
Mas em linha com a democracia de que fala o deputado, quero aqui dar nota de uma conversa que apanhei, após um zapping pelas tv’s, de uma senhora, que nos confidenciou que o seu filho com 23 anos, atirado para o desemprego, teima em conseguir trabalho e, pasmada, disse, até uma oferta de 300 euros por mês lhe foi feita. E ainda uma outra, com um salário de 750 euros, mas tinha de dispor de automóvel e gasolina. E depois dos desabafos, rematou: “Votei nesta gente e fui enganada e por isso, nunca mais votarei seja em quem partido for”.
Ora cá está, como não há razões para temores e tremores. A fazer fé nesta enraivecida portuguesa, e demais, bem pode estar descansado o deputado europeu, Rangel, porque não corre o risco de não ser reeleito e de deixar o chiqueiro.
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