terça-feira, 21 de maio de 2013

Canteiro centenário com flores murchas


Augusto Alberto

Canteiro centenário, com flores murchas, mas nem sempre foi assim. Rogério Neves, no seu “Marcha do Vapor”, enfatiza a Associação Naval 1º Maio, com uma belíssima fotografia do aniversário de 1960. Sem esperança em reverter a História, inclino-me a dizer que a década de 60 do século passado marca o tempo que iniciou a perda do seu próprio pé. Logo na modalidade fundadora. Perdeu lastro técnico, físico e sobretudo material. No ano de 1993, fui convidado a escrever um texto para ser publicado no jornal comemorativo do centenário, que causou perturbação e esteve quase a ser riscado com o lápis azul. Contudo, apesar do desconforto, prevaleceu o bom senso. Nele, adivinhei as coisas e apontei as causas. Os factos comprovam as apreciações. Não há como negar as evidências. Insisto e podem-me chamar cruel. Os principais responsáveis pelo grave estado de astenia da Associação são exactamente os seus mais eméritos e qualificados sócios. Muitos tiveram, em tempo oportuno, a noção da desgraça, mas, sem se perceber, acantonaram-se e ajustaram, e por isso, têm especiais responsabilidades.

Far-se-á em breve o resistente almoço dos antigos remadores e timoneiros e não creio que se faça como habitualmente, a romagem ao túmulo do António Cachola. Cachola, absolutamente, já nada diz. Mas, no passado dia 30 de Abril, inopinadamente, fui convidado a estar presente na ceia dos 120 anos. Para evitar a deselegância, aceitei. E ainda bem. Estando por dentro melhor se percebe a inquietude. Exangue celebração. Nem uma autoridade civil nem desportiva. Nem o Presidente da Comissão administrativa. Nem o Presidente da Assembleia-Geral. Nem um vero registo da notabilíssima História.
Assim, e porque da História nada sabe, e porque o papel de direcção flutua, um jovem que chegou à Figueira, já com o barco adornado, fez-se mestre-de-cerimónias e convidou o que lhe pareceu razoável, o treinador da equipa de futebol e o médico, para falar aos presentes. Para acabar, já no dia 1 de Maio, o hino, melancolicamente ouvido. Nesse momento, desejei ter presentes, a meu lado, os meus três tios-avôs, fundadores da Associação Naval 1º de Maio, que estão no registo fotográfico colectivo que sublinha o facto, para lhes pedir para perdoarem a quem não soube o que fez.
Será assim tão difícil de entender que o futebol profissional é um drama de faca e alguidar e, simultaneamente, um poço sem fundo, a quem já tudo foi dado? Terrenos no valor de muitos milhares de escudos ou euros, bingos, bombas de gasolina, dinheiros autárquicos e “cães” feitos no BPN? Tudo é engolido.
No caso da Associação Naval 1º de Maio, devorou-a até às entranhas. Está na cara! E agora? Quem ficará para fechar as luzes e as portas? Ou será que uma guinada no leme, ainda a pode colocar entre bóias?

1 comentário:

Rogério Neves disse...

Subscrevo inteiramente car amigo Alberto mas o mais importante de tudo são as tuas uyltimas palavras no escrito que fizeste"uma guinada no leme, ainda a pode colocar entre bóias?"
Vamos a isso pessoal...
Aquele Abraço