quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

O Português do tédio e do almoço

Augusto Alberto

Está em vias de choque a sociedade de consumo em Portugal. Pelos vistos, os funcionários das grandes superfícies preparam-se para um dia de greve no próximo dia 24, baralhando os muitos milhares que parecerão tontos na procura do último consumo. Melhor dizendo, os sindicatos desse sector têm um pré – aviso de greve. Evidentemente que da pretensão dos sindicatos à adesão desse povo trabalhador, vai um tempo que em norma é difícil de perceber, mas de qualquer modo, cá estamos para ver.
E greve porquê? Ora porquê, porque pelos vistos, já não basta haver portugueses escravos aqui ao lado em Espanha, na Europa do grande projecto social, no regresso ao sono nos bidões e nas tarimbas, e na completa dependência do negreiro, à semelhança de histórias com mais de 100 anos, como nos contou Ferreira de Castro no seu livro a “Selva”, parece que por cá se caminha alegremente para o regresso a esse passado, mas de todo o modo, perfeitamente legal. Aliás, melhor não poderia estar o representante da associação das empresas de distribuição, eufórico, quando regista a total legalidade da coisa.
Nem mais, caríssimo povo. Por incrível que pareça fica sabendo que aqueles que te obrigam a chegar ao batente pelas 5.00 horas da manhã para carregares prateleiras, e dentro em breve, por a trabalhar 12 horas por dia, estão em linha com a lei. Não sabes porquê. Pois não, porque sem mácula, tens dormido muito e aprendido pouco.
Pois é bom que saibas que, há pouco e de novo, te dignastes democratizar esse modo de escravatura, que é a possibilidade de estares ao serviço do chefe 12 por dia. Evidentemente que não tens ideia de que um dia te alertaram para o facto de vir aí um código de trabalho a definir novas e duras regras? Nenhuma! E por isso, bem me parece que para lá de te continuares a por a jeito, continuas sem saber ao que andas. Elegestes exactamente as pessoas que, simultaneamente o criaram, o aprovaram e estão democraticamente mandatados para o aplicar. Portanto, povo, vai sendo o momento de perceberes como colocastes a tua vida na mão de gente que só vê cifrões, nem que seja à custa das mais trauliteiras relações, mas vai sendo a altura, também, de começares a abrir o olho, sob pena de cedo verificares como apesar da família ser uma flor, está em vias de se tornar numa batata.
Outro dia, um dos teus manifestou apreensão quanto ao futuro dos seus filhos e futuros netos. Logo lhe disse que não se preocupasse, porque rapidamente se adaptarão. Esse é o grande dilema, porque em boa verdade, não foi para escravo que os teus pais te pariram, mas infelizmente, absurdo, tens legalizado o teu carácter sisudo e escravo.
Como diz um eminente português, transmontano, e a viver a diáspora na riquíssima Holanda, és um povo do tédio e do almoço. Tem razão. E fica sabendo que os negreiros sabem disso e por isso, se cagares fora do penico, estão desde já disponíveis 700 mil Portugueses, para começar a encher prateleiras, cortar o bacalhau e escalar bifes.

4 comentários:

samuel disse...

Em cheio!

Abraço.

duarte disse...

olá alex.
nem mais companheiro.
abraço do vale

Ana Tapadas disse...

Precisava publicação, este excelente post!
De acordo!
bj

Guimaraes disse...

Concordo plenamente com a sua posição. A diferença para os "negros" de há 100 anos é que já não se trata de gente iletrada e sem outras competências. Trata-se agora de gente com licenciaturas,mestrados e doutoramentos, em teoria "libertadores" de tais práticas, mas vítimas de grilhetas muito mais elaboradas que as dos capatazes de antigamente.
E há cidades inteiras a viver nesse terror. Ou aceitas essas condições ou não trabalhas! Isto mesmo em empresas tuteladas pelo Estado!
Aos que se atrevem a sair, avisa-se que o retorno é impossível.