terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Uma tal América mestiça

Augusto Alberto


As fotografias de Alberto Korda, o fotógrafo de Fidel, Che e sobretudo, da Revolução Cubana, andam pelo mundo a falar, para lá da história, também de afectos. Aliás, vi outro dia um documentário, filmado um pouco antes da sua morte, em que Korda nos disse que em Cuba, terra onde as coisas sempre foram difíceis, os meninos não arrastam os pés pelo chão nem sofrem com feridas postulentas e muito menos têm o abdómen abaulado, a dizer-nos que a fome os atacou. Também os cubanos não chapinam com os pés nos esgotos a céu aberto, ao contrário do que se passa ainda no Brasil, por exemplo e que levou, aparentemente, o Presidente Lula, num acto público de apresentação do plano nacional para o saneamento, ao desbragamento, dizendo que está ali para tirar o povo da merda. A este presidente sindicalista falta-lhe o perfume na ponta da língua, quem sabe, mas se tal perfume existir, não consegue iludir o cheiro à merda, ainda que muitos palermas achem que sim.
Há uns dias, durante a cimeira Ibero-Americana, uma TV enviou uma jornalista a Havana para fazer reportagem. A jovem deu ares de não perceber bem ao que ia e por isso talvez tenha zarpado com ideias feitas e a realidade a tenha fintado. Acabou a dizer, que afinal tinha visto hospitais, em terra pobre, que pedem meças ao que de melhor há nos países desenvolvidos. Gostaria de lhe dizer, que isso já a gente sabia e que o melhor é pensar em ter formação em criatividade, sob pena de ter de mudar de arte e firma, porque uma evidência daquelas, poderá não agradar ao boss.
Mas da América mestiça, quero lembrar de como a legalização de um golpe de estado teve a bênção do último prémio Nobel da Paz, para assim ficarmos a saber como a democracia pode ser endrominada.
Do México, terra de mariaches e de gente que para ganhar a vida salta em queda livre e com estilo, para a água, de penhascos, que só de olhar para baixo dá medo, como na cosmopolita Acapulco, o que eu quero sublinhar, é que o narcotráfico quase que engoliu o estado, que está em aflições, ao ponto de já ter pedido ajuda internacional para se aguentar. São milhares os mexicanos que já caíram nesse modo do tiro contra tiro, do negócio da droga, sem que uma ponta de segurança lhes chegue. É o México dos vários modos. A dos mariaches, a dos saltos para a água e a dos tiros como passaporte para ir do inferno para o céu. Nada mudou nesse México, desde que Frida Kahlo e Diego Rivera o pintaram. E já foi há muito.
Mas não quero deixar de referir, também, como se morre de fome na Guatemala. E não sou eu que o digo, mas o seu distinto presidente, homem sisudo, que só agora tomou consciência de como na sua pobre pátria se morre à míngua por falta de um prato de sopa. Sendo assim, bardamerda caro senhor.
Ora cá está como a democracia é azougada. E de tão azougada, até parece que afinal, alguns sofistas encartados em paladinos da democracia e da liberdade, acham que afinal o que deverá mudar é Cuba.
Desgraçadamente, já não é só a ramela que não os deixa ver bem, mas também a puta da inteligência que se lhes vai minguando.


1 comentário:

samuel disse...

Em cheio!

Abraço.