Augusto Alberto
Em breve os jovens que estão à rasca, descerão à rua, nesta pátria maior, porque perceberam tarde que, afinal, nasceram para ter uma vida menor. Fazem muito bem. Já não é sem tempo. Contudo, quero, mais uma vez, colocar-me na posição de desalinhado.
Desde sempre, mesmo nos tempos do fascismo, houve gente que se manifestou e tomou partido, e, claro está, nesse tempo o cassetete no lombo foi a recompensa mínima. E depois do 25 de Abril, também. Eu próprio participei em muitas, contra o rumo que as coisas começaram a tomar e nos colocaram aqui, à rasca. Nesses instantes, lembro que houve quem gritasse: “vão trabalhar madraços”. E ainda: “há por ai muita terra para cavar e paredes para levantar”. Sim senhor. Mas a questão sempre foi, e ainda é, a de saber para quê e para quem se destina o produto do trabalho. Mas, a este propósito não me enganarei se disser que provavelmente muitos dos que gritaram são os pais dos muitos meninos que hoje estão à rasca. Ora cá está, como a partir do quadrado se poderá chegar à construção do círculo. Por isso, eu sugiro que os jovens à rasca que se preparam para um acto de pura cidadania comecem por perguntar aos pais o seguinte: “que país ajudaram a construir”? “Que partido tomaram”? Não vale andar ao engano, porque, muitos pais e filhos seduzidos pela possibilidade de aceder às migalhas do banquete, só agora perceberam que afinal, não há migalhas. Tomar partido é estar alinhado. Ou ficar pela omissão. Ou deixar andar. E curiosamente, alguns que durante estes anos, por esses modos, ajudaram a construir esta pátria à rasca, escandalizam-se pelo facto dos comunistas já terem anunciado a participação na manifestação. Isso não é sério.
Quem melhor do que os comunistas para saber o que custa, sempre sem claudicar, tomar partido contra o mundo dos que hoje se opõem à taxação dos lucros frenéticos da banca, num tempo de míngua para o povo, denunciando quem defende todos os sacrifícios para o mundo do trabalho, denunciando quem defende o emprego precário, do recibo verde, dos estágios sem remuneração?
E quem clama, desde sempre, pelo aumento da produção nacional, sem a qual não há independência e salvação? Por isso, impedi-los de participar, é o mesmo que cortar a árvore que regenera o ar que respiramos.
Neste instante de luta e resistência, não esqueço as razões porque sempre tomei partido. Porque quando tive 20 anos, nas várias tentativas de me emancipar, a pergunta clássica, foi: “já foi à guerra”? Pois é, também eu já estive à rasca. Por isso, sem ser parvo, lá estarei no dia 12/3. Voltarei no dia 19/3, para continuar, sempre a tomar partido, pela geração à rasca e por todos os outros que à rasca estão.
Saibamos então, que a teoria de que todos são iguais, é só mais uma manha para nos tornar parvos e capados, capaz de nos fazer crer que a barricada só tem um lado.
2 comentários:
Geração à rasca.
Livres de qualquer filiação partidária, e apenas identificados como um grupo da sociedade civil, vão sem qualquer margem para dúvidas, perder a razão, quanto às causas base da sua criação, caso o pcp ou qualquer outra força política se cole como carraça, numa tentativa de aproveitamento político quanto ao descontentamento desta mesma geração.
O tempo me dirá se eu tenho ou não razão.
Aguardemos as próximas legislativas, altura em que voltarei ao assunto.
Quão ignorante é preciso ser, para dizer que o PCP, com um historial de luta pela liberdade e por uma vida melhor para todos, se cola "como carraça" a uma manifestação maioritariamente de filhos de absentistas, eles próprios também e até há pouco, absentistas, gente que amiúde se gaba de nunca ter votado, que nunca foi capaz de mais do que parazitar as lutas alheias... e que mesmo na convocação da manif advogam a liquidação de TODA a classe política... como se tudo fosse igual?
Mesmo simpatizando com alguns que, de boa fé, aderem a esta manifestação... não contam comigo. Apareçam dia 19... e conversamos.
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