O Relvas, o golfe e a História-Pátria
O capitalismo é a arte de transformar searas em campos de golfe. Viciosa arte. O seu evangelho, o seu sacerdócio e o seu ministério são sempre antipessoais, porque o capitalismo é um anti-humanismo. Quando um Relvas alegre, eufórico até, chega a uma região e se põe a cortar centros de saúde porque sim e a apagar freguesias em nome dos números que do estrangeiro capitalmente lhe ditam, que de facto faz o Relvas? O Relvas desertifica. O Relvas esteriliza. O Relvas interdita. O Relvas joga golfe.
Não creio que o Relvas tenha alguma vez lido a primeira aventura do detective Marlowe, genial criatura do genial Raymond Chandler (The Big Sleep, 1939). Aí se lê que: “A mentira permanente desacredita-nos; a verdade em larga escala tolhe-nos o passo.” Pois é. Só que o Relvas não tolhe nem encolhe. O Relvas escolhe. Quem? Os desvalidos. Os malparidos. Os assumidos. E os tolhidos. E os encolhidos. O Relvas procede mal, até porque Portugal é um sítio bestial para se ser feliz e coisital.
Em contraponto, em Portugal é tão fácil apontar um ladrão público como encontrar um parolo nos espectáculos do Tony Carreira.
Em contrapartida, é dificílimo topar dois compadres de Portel a discutir um “green” de 18 buracos na mesma planura onde outrora a áurea cabeleira do trigo ondulava ao benigno sol português.
Desertificar as aldeias mata a Nação, ó Miguel.
Pôr a estudantada a licenciar-se em Queima das Fitas e a mestrar-se em Desemprego e a doutorar-se em Emigração – dá cabo da Nação, ó Miguel.
Ver em cada trabalhador subassalariado um subversivo inimigo – é um perigo, ó Miguel.
O golfe só compensa quando é pérsico, digo eu com os nervos. E é com os nervos, Miguel, que me lembro de certa comoção patriótica que, menino tenro, senti na aula da primária. Era no tempo em que se estudava História-Pátria na escola. Aí se referia quem era e o que aconteceu a outro Miguel.
O de Vasconcelos, ó Relvas.
Totalmente, inequivocamente, descaradamente, copiado daqui
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