segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os craques do PSI 20

Augusto Alberto


É a correr, em solitário, que melhor me sinto para pensar sobre os horrores e virtudes das pessoas e da pátria. Ontem, ao fim da tarde, corri pela plataforma de areia que se prolonga da Figueira até ao Cabo Mondego, sempre em paralelo, a pouco mais de um metro da maré. Aproveitei para ver o pôr-do-sol, que na Figueira possui um encanto muito especial, dado que a luz tem de desconstruir uma muito ligeira poalha cinzenta, até se recolher no mar.
Num dado momento, lembrei-me de uma das mais belas frases da escrita portuguesa, de José Gomes Ferreira: “viver sempre também cansa”. Uma vida de resistência, verticalidade e probidade, não tenham a mínima dúvida, é muito difícil, num mundo em que a informação e a cultura dominante, protege salteadores e camafeus.

Ocorreu-me, logo, a recusa do Dr. Álvaro Cunhal em receber comendas e demais honrarias. Álvaro Cunhal, e muito bem, entendeu não percorrer os mesmos corredores e salões por onde passaram e viriam a passar tipos de múltiplos gangs, porque a honradez, em sentido inverso, não tem preço.
Pelo contrário, Alexandre Soares dos Santos, piedoso merceeiro a retalho, que montou um império à custa de trabalho pouco abaixo de escravo, recebeu honrarias dos seus melhores pares, a miserável elite financeira e política, e teve ainda a ousadia de dar ares de consciência moral, que entende ser devida a um patrãozinho, empreendedor e amante da pátria.
Mas no instante em que grassa pela pátria a teoria de que é preciso abnegação patriótica, fez um severo e gostoso manguito à boa consciência e a Portugal. Por isso, José Gomes Ferreira e Álvaro Cunhal, gente que se caldeou na resistência, a dizer não, têm razão. É preferível a probidade nos actos que conferem uma vida, do que pisar os mesmos salões por onde pisam todo o tipo de salteadores e camafeus, como tem sido e são, os “craques” do PSI 20.

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