Augusto Alberto
“Sou Maria, tenho 52
anos, sirvo almoços numa cantina escolar através de uma empresa de trabalho
temporário e ganho 190 euros por mês. Neste meu novo trabalho percebi que há
meninos que vem para a escola com fome. E pergunto. Já comestes? E eles
dizem-me, não. Os meninos tem fome e às
vezes eu também, porque aquilo que ganho, somado com aquilo que o meu
marido ganha, não chega. Tenho três filhos e as dificuldades são muitas”.
Esta conversa, ouvia neste dia 23 de Abril de 2012, 38 anos
após o 25 Abril e 42 anos após me enfiarem na prisão e posteriormente me terem enviado
para a guerra, como punição superior. E na esteira desta desgraça, leio também,
neste dia, que a polícia, enfatuada, não está para aturar arruaças, durante as
comemorações do dia 25 Abril. Pasmo e pergunto: Mas o que é isto? Onde chegamos?
À antecâmara do fascismo? Quase, porque o Povo tem andado a brincar com o seu
próprio destino, numa espécie de roleta russa. E por isso, não será tarde para
que um galfarro de um ministro nos venha, com ajuste e bonomia, anunciar: por decisão do meritíssimo governo, as
comemorações do 25 Abril estão suspensas, porque a Nação não se pode dar ao
luxo de perder esse dia de trabalho.
Miguel Cadilhe, espécie de espirra-canivetes da economia,
dirá, por ventura, “sim senhor, é preciso trabalhar mais”, em linha com o seu
saber, que nos diz, também neste dia 23 de Abril de 2012, que Portugal não
deveria ter entrado na “união monetária e na moeda única”…mas hoje não devemos sair.
Queres saber, tu, Maria quase miserável, o que acho que
deverá ser dito deste intrincado estado de coisas. Que vão pró caralho, porque
a verdadeira causa estrutural da nossa miséria, é essa quadratura do círculo,
autêntico saco, onde entram do mesmo passo, os gatos ricos e os gatos pobres.
Lugar, onde em cada momento, os primeiros, os gatos ricos, vão comendo as papas
na cabeça dos segundos, os gatos pobres. A esse saco de gatos, onde cabem 80%
dos que votam PS/PPD/CDS, chama a caudilhagem, democracia.
E se tu acreditas, Maria, então não te queixes querida
amiga.
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