quarta-feira, 25 de abril de 2012

Não te queixes, querida amiga


Augusto Alberto

Sou Maria, tenho 52 anos, sirvo almoços numa cantina escolar através de uma empresa de trabalho temporário e ganho 190 euros por mês. Neste meu novo trabalho percebi que há meninos que vem para a escola com fome. E pergunto. Já comestes? E eles dizem-me, não. Os meninos tem fome e às vezes eu também, porque aquilo que ganho, somado com aquilo que o meu marido ganha, não chega. Tenho três filhos e as dificuldades são muitas”.

Esta conversa, ouvia neste dia 23 de Abril de 2012, 38 anos após o 25 Abril e 42 anos após me enfiarem na prisão e posteriormente me terem enviado para a guerra, como punição superior. E na esteira desta desgraça, leio também, neste dia, que a polícia, enfatuada, não está para aturar arruaças, durante as comemorações do dia 25 Abril. Pasmo e pergunto: Mas o que é isto? Onde chegamos? À antecâmara do fascismo? Quase, porque o Povo tem andado a brincar com o seu próprio destino, numa espécie de roleta russa. E por isso, não será tarde para que um galfarro de um ministro nos venha, com ajuste e bonomia, anunciar:  por decisão do meritíssimo governo, as comemorações do 25 Abril estão suspensas, porque a Nação não se pode dar ao luxo de perder esse dia de trabalho.
Miguel Cadilhe, espécie de espirra-canivetes da economia, dirá, por ventura, “sim senhor, é preciso trabalhar mais”, em linha com o seu saber, que nos diz, também neste dia 23 de Abril de 2012, que Portugal não deveria ter entrado na “união monetária e na moeda única”…mas hoje não devemos sair.
Queres saber, tu, Maria quase miserável, o que acho que deverá ser dito deste intrincado estado de coisas. Que vão pró caralho, porque a verdadeira causa estrutural da nossa miséria, é essa quadratura do círculo, autêntico saco, onde entram do mesmo passo, os gatos ricos e os gatos pobres. Lugar, onde em cada momento, os primeiros, os gatos ricos, vão comendo as papas na cabeça dos segundos, os gatos pobres. A esse saco de gatos, onde cabem 80% dos que votam PS/PPD/CDS, chama a caudilhagem, democracia.
E se tu acreditas, Maria, então não te queixes querida amiga.

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