Augusto Alberto
Foi com espanto que soube que Isabel Jonet foi nomeada
coordenadora da rede europeia do banco alimentar contra a fome. Condiz! É na
caridadezinha e no futebol que melhor nos realizamos. Por isso não admira.
Estava eu ainda a matutar no caso quando, num zapping, me
dou com um documentário a propósito da fome na Europa rica. Mais exactamente na
Holanda, terra de canais, museus e de muitos e belos sonhos. Um velho lobo dos
canais de Amesterdão, piloto de barcos de transporte de mercadorias e sua
filha. Ele, na casa dos 60 e a sua filha, na casa dos 20. Ambos desempregados e
feitos pedintes, com muita regularidade, clientes do banco alimentar contra a
fome, sediado em Amesterdão, de que agora a Isabel é coordenadora.
Mas, coloquemos como hipótese, pouco verosímil, é certo, a
internacionalização da “coisa”. A referida família holandesa, dois, dos cerca
de 30 milhões de famintos da Europa rica, a descer na Portela, e a serem
recebidos por um comité de boas vindas, formado por voluntários, mais uma
caterva de câmaras de televisão, que lhe seguem os passos até Alcântara. Em
Alcântara, voluntários em
alvoroço. Um misto de emoções, mas nenhuma revolta contra o
sistema que com regularidade produz famintos, antes pelo contrário. Cabaz
cheio, beijos e abraços e os holandeses de volta a Amesterdão. Comida para uns
dias e depois, colocada de novo a dispensa a zero, nova visita ao banco
alimentar contra a fome, agora em Amesterdão, porque a internacionalização da
caridadezinha, tem custos.
Em Alcântara, muita emoção. O ministro Pedro “Lambreta”
Soares, um beato da solidariedade e parlapatice, chamado à cena, caga umas
lérias para as TV’s, e as pátrias, portuguesa e holandesa, como outrora, de
novo entrelaçadas.
E no fim o que dizer? Que até a fome e a caridadezinha podem
ter um ar chiquérrimo. Aliás, como a Lagarde, a senhora do FMI, que pelos
vistos, usando um expediente legal, com data de 1961, está isenta de pagamento
de impostos. O que a elite nos diz, (é que deverás fazer o que eu digo, pagar
os impostos, mas não deverás fazer o que eu faço, não pagar os impostos). É
assim que comem, e se comem os pobres.
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