quinta-feira, 31 de maio de 2012

É assim que comem e se comem os pobres


Augusto Alberto

Foi com espanto que soube que Isabel Jonet foi nomeada coordenadora da rede europeia do banco alimentar contra a fome. Condiz! É na caridadezinha e no futebol que melhor nos realizamos. Por isso não admira.

Estava eu ainda a matutar no caso quando, num zapping, me dou com um documentário a propósito da fome na Europa rica. Mais exactamente na Holanda, terra de canais, museus e de muitos e belos sonhos. Um velho lobo dos canais de Amesterdão, piloto de barcos de transporte de mercadorias e sua filha. Ele, na casa dos 60 e a sua filha, na casa dos 20. Ambos desempregados e feitos pedintes, com muita regularidade, clientes do banco alimentar contra a fome, sediado em Amesterdão, de que agora a Isabel é coordenadora.

Mas, coloquemos como hipótese, pouco verosímil, é certo, a internacionalização da “coisa”. A referida família holandesa, dois, dos cerca de 30 milhões de famintos da Europa rica, a descer na Portela, e a serem recebidos por um comité de boas vindas, formado por voluntários, mais uma caterva de câmaras de televisão, que lhe seguem os passos até Alcântara. Em Alcântara, voluntários em alvoroço. Um misto de emoções, mas nenhuma revolta contra o sistema que com regularidade produz famintos, antes pelo contrário. Cabaz cheio, beijos e abraços e os holandeses de volta a Amesterdão. Comida para uns dias e depois, colocada de novo a dispensa a zero, nova visita ao banco alimentar contra a fome, agora em Amesterdão, porque a internacionalização da caridadezinha, tem custos.

Em Alcântara, muita emoção. O ministro Pedro “Lambreta” Soares, um beato da solidariedade e parlapatice, chamado à cena, caga umas lérias para as TV’s, e as pátrias, portuguesa e holandesa, como outrora, de novo entrelaçadas.

E no fim o que dizer? Que até a fome e a caridadezinha podem ter um ar chiquérrimo. Aliás, como a Lagarde, a senhora do FMI, que pelos vistos, usando um expediente legal, com data de 1961, está isenta de pagamento de impostos. O que a elite nos diz, (é que deverás fazer o que eu digo, pagar os impostos, mas não deverás fazer o que eu faço, não pagar os impostos). É assim que comem, e se comem os pobres.

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