sábado, 20 de outubro de 2012

Das democracias


Augusto Alberto

Upa, upa, surpreendente ditadura. Na Venezuela, 81% dos eleitores inscritos foram às urnas exercer a cidadania. O “ditador” Chaves, foi reeleito com 55% dos votos expressos e o seu adversário, representante da grande burguesia económica e financeira, obteve 45%. A Venezuela está dividida ao meio, disse Washington, na tentativa de concertar a perna à rã, esquecendo que foi em Miami que foi dada a grande “bushada” ou chapelada, adiantando ainda, que é preciso respeitar os 45%. Of course!
E também na arejada democracia portuguesa e açoriana, o povo foi a votos. E o que ficou desse fresquíssimo acto de cidadania? Que os votos expressos nas urnas foram de 47.88%. A abstenção foi de 52.12%. Os votos brancos foram 3.21% e os nulos 1.29%. Tudo somado, 56.62% dos eleitores, apesar de viverem em democracia avançada e de consolidados progressos, perguntaram com propósito: - que merda de democracia é esta em que só temos direito a um rabo da totalidade do peixe?

Mas as eleições na Venezuela, adiantam ainda mais. Que as forças progressistas na América Latina jogam sempre o jogo democrático, poder-me-ão dizer, menos em Cuba, bem sei, bem sei, mas cuidado, porque por lá também há eleições, só não se elegem coirões, enquanto a direita trambiqueira, fascista ou “social –democrata”, que em regra clama pelo jogo democrático, logo que pressente que a balança está nivelada, dá um toque num dos pratos, fazendo-o seu, desnivela-os e a seguir corre com o cacete. Tomemos recentes exemplos. O derrube do presidente eleito, Manuel Zelaya, grande fazendeiro e liberal, nas Honduras. Há limites, fazendeiro! E no Paraguai, a retirada do poder ao presidente eleito, o padre Fernando Lugo. Ao que parece, Roma, como sempre, nos jogos de silêncio e traição, comporta-se como verdadeira mãe dos caciques.
Com espanto, percebemos, afinal, que a democracia, nas democracias parlamentares, pode ser uma treta, e que na pior das ditaduras, foi onde melhor se jogou o jogo da democracia parlamentar. Upa, upa, ditadura.
De todo o modo, eu que cumpro sempre o direito de cidadania, e sou escrupuloso respeitador do resultado final, sou dos que acreditam que há-de ser com a democracia parlamentar, que um dia, demorará com certeza, se haverá de explicar a história de uma derrota.
E também acredito, que à força de tanta areia atirada para os olhos, ela um dia vai faltar. Limpa a areia, olhemos, desde já, para o Partido Comunista da Boémia e Morávia, que se tornou na segunda força política no senado da República Checa, com 20.44% dos votos expressos na últimas eleições regionais, atrás de social-democratas, com 23.58%. Tenhamos bem presente que este é um resultado de um Partido Comunista, num país em que um poeta com casinha no Algarve, foi o demiurgo da cidadania e magia. Pelos vistos, hodiernamente, ainda há muita gente que não sabe o que é a democracia socialista, mas cedo aprendeu o que é a democracia parlamentar capitalista.
Upa, upa, democracia bolivariana. E arreda, quem do peixe, só dá o rabo.

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