Augusto Alberto
Upa, upa, surpreendente ditadura.
Na Venezuela, 81% dos eleitores inscritos foram às urnas exercer a cidadania. O
“ditador” Chaves, foi reeleito com 55% dos votos expressos e o seu adversário,
representante da grande burguesia económica e financeira, obteve 45%. A
Venezuela está dividida ao meio, disse Washington, na tentativa de concertar a
perna à rã, esquecendo que foi em Miami que foi dada a grande “bushada” ou
chapelada, adiantando ainda, que é preciso respeitar os 45%. Of course!
E também na arejada democracia portuguesa
e açoriana, o povo foi a votos. E o que ficou desse fresquíssimo acto de
cidadania? Que os votos expressos nas urnas foram de 47.88%. A abstenção foi de
52.12%. Os votos brancos foram 3.21% e os nulos 1.29%. Tudo somado, 56.62% dos
eleitores, apesar de viverem em democracia avançada e de consolidados
progressos, perguntaram com propósito: - que merda de democracia é esta em que
só temos direito a um rabo da totalidade do peixe?
Mas as eleições na Venezuela,
adiantam ainda mais. Que as forças progressistas na América Latina jogam sempre
o jogo democrático, poder-me-ão dizer, menos em Cuba, bem sei, bem sei, mas
cuidado, porque por lá também há eleições, só não se elegem coirões, enquanto a
direita trambiqueira, fascista ou “social –democrata”, que em regra clama pelo
jogo democrático, logo que pressente que a balança está nivelada, dá um toque
num dos pratos, fazendo-o seu, desnivela-os e a seguir corre com o cacete.
Tomemos recentes exemplos. O derrube do presidente eleito, Manuel Zelaya,
grande fazendeiro e liberal, nas Honduras. Há limites, fazendeiro! E no
Paraguai, a retirada do poder ao presidente eleito, o padre Fernando Lugo. Ao
que parece, Roma, como sempre, nos jogos de silêncio e traição, comporta-se
como verdadeira mãe dos caciques.
Com espanto, percebemos, afinal,
que a democracia, nas democracias parlamentares, pode ser uma treta, e que na
pior das ditaduras, foi onde melhor se jogou o jogo da democracia parlamentar.
Upa, upa, ditadura.
De todo o modo, eu que cumpro
sempre o direito de cidadania, e sou escrupuloso respeitador do resultado
final, sou dos que acreditam que há-de ser com a democracia parlamentar, que um
dia, demorará com certeza, se haverá de explicar a história de uma derrota.
E também acredito, que à força de
tanta areia atirada para os olhos, ela um dia vai faltar. Limpa a areia,
olhemos, desde já, para o Partido Comunista da Boémia e Morávia, que se tornou
na segunda força política no senado da República Checa, com 20.44% dos votos
expressos na últimas eleições regionais, atrás de social-democratas, com
23.58%. Tenhamos bem presente que este é um resultado de um Partido Comunista,
num país em que um poeta com casinha no Algarve, foi o demiurgo da cidadania e
magia. Pelos vistos, hodiernamente, ainda há muita gente que não sabe o que é a
democracia socialista, mas cedo aprendeu o que é a democracia parlamentar
capitalista.
Upa, upa, democracia bolivariana.
E arreda, quem do peixe, só dá o rabo.
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