terça-feira, 13 de novembro de 2012

Uma geração em liquidação


Augusto Alberto


Sabe que na União Soviética se distribuíam senhas por alimentos? E ainda que os camaradas do Comité Central do Partido comiam criancinhas ao pequeno-almoço? Se não sabe, não faz mal. Sempre aproveito para dizer que nos Estados Unidos se está a viver um tempo de anti-climax, porque, pelo contrário, são os banqueiros de Wall Street, quem comem correntemente o pequeno-almoço às criancinhas.
Melhor dizendo são 47 milhões, cerca de 15% do total dos americanos, que só sobrevivem à fome, porque o estado fornece senhas por alimentos básicos. E como a fome é pandémica, do lado de cá do Atlântico, também na pátria aprisionada por banqueiros, um secretário de estado confirmou que 10 mil meninos portugueses têm fome. Caracterizando essa fome, explicou um atento professor: “muitos têm por jantar um pratinho de papas de cerelac ou Nestum, e os pratos do almoço de segunda-feira no refeitório da escola, saem limpinhos, tal foi a fome no fim-de-semana que passou”. Perante a evidência, indica o manhoso “governante” que as famílias em causa sejam enviadas para o banco alimentar contra a fome, da “tia” Isabelinha, que com imprudência, se descobriu.

É pois imperioso que se diga a verdade. É certo que muito povo cedeu às lérias maviosas do consumo e da banca e acreditou que as vantagens do capitalismo seriam eternas. Mas também é verdade que a elite, abalada no seu sossêgo em 1974, logo que retomou a dianteira de classe e recapturou a totalidade do estado, faz da pátria uma esbórnia e está calmamente a tirar desforço da derrota. Por isso, dando uso à evidência semântica, deve ser dito, que os juros do clímax consumista e da incapacidade politica de nunca termos sido capazes de dar um chuto na rotatividade, verdadeira trincheira dos herdeiros do fascismo, aí estão.
E a Isabelinha, que pelos vistos gosta de fazer do “banco” um caritativo amortecedor da fome, certa de classe e nada confusa, manda que se corra abaixo o taipal e não se coma bife, mas se gaste produtos da Nestlé, porque ao mesmo tempo que a nestlé agradece, o cidadão lá se vai mantendo em pé.     
Para nosso infortúnio, seja em Nova Iorque, em Atenas, Madrid, Paris, Londres, Roma ou Lisboa, há sempre um banco alimentar que vale aos desvalidos. Contudo, deveria sobretudo merecer a nossa mais nobre atenção o facto desgraçado, de outra vez nesta pátria de 900 anos, boa parte do futuro de uma geração, a actual, dos 6 aos 15anos, estar já a ser liquidado. Não o aflige? 

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