Figueira da Foz-Singapura: ida e volta
Texto e fotos: Augusto Alberto
Quase 24 mil quilómetros, 60 horas de Viagem e 4 dias para participar numa reunião internacional que discutiu questões relativas ao remo internacional mais jovem, realizada na cidade-estado de Singapura e voltar ao lugar do costume, esta cidade e esta pátria.
Desta viagem não resisto a fazer dois comentários sobre também duas questões que me parecem de todo pertinentes. Mas em primeiro, não quero deixar de registar a bela impressão física que me deixou a cidade-estado de Singapura. Um estado tornado independente da Malásia no rescaldo da segunda guerra mundial, hoje assumidamente capitalista, suportado por um notável porto de mar de águas profundas, num lugar, para o efeito, mais do que abençoado pela natureza e por uma rede de bancos privados que multiplicam dinheiro, mas onde a crise também já chegou, com gente a chegar ao desemprego e a reclamar que não foi para viverem assustados, assim de um momento para o outro, que acreditaram em tal estado social. Os meus caros dirão, é a crise. Não nos distraiamos, porque tem sido com o voto de 4 em 4 anos que se vai dando corpo a este modelo político e social que se está cagando para o comum das pessoas, porque durante muito tempo só teve tempo e modos para olhar para o seu umbigo. Cada um que assuma então as suas responsabilidades politicas, porque já vai sendo tempo.
Mas deixemos a cidade-estado para deixar as tais duas impressões de um modo muito claro e sério.
Na volta, viajamos durante toda a noite e do alto dos 10.000 metros deu para ver uma Índia muito povoada e identificada pelas centenas de lugares iluminados, que mais pareciam trabalho de filigrana. Também o mesmo, ao sobrevoar o Paquistão, sobretudo o seu lado mais oriental. Chegados ao Afeganistão, o mapa do avião situou-nos sobre uma imensa massa rochosa alta e branca, porque já coberta de neve. Foram quilómetros e horas percorridas sem ver um pequeno clarão, sequer. Ali só pedra e com certeza povoamento, vida humana organizada, mas longe dos padrões que nos são próximos. Os progressos da civilização ainda ali não chegaram, concluí. E por isso mesmo, perguntei-me porque razão o mundo levou para ali o centro de uma querela bem séria e que bem vistas as coisas, sem saber como sair a bem. Então pareceu-me estar o mundo suspenso de um conjunto de decisões completamente loucas e esta de querer levar a “democracia às pedras”, só pode ser parva e abstrusa. Mas será que será mesmo parva? Não creio! De parva e abstrusa nada terá, porque esta gente raramente se engana e rápido se agiorna. E desse modo, começa a ser corrente que está na hora de retirar, deixando caminho livre a qualquer soez ditadorzinho, desde que permita a pressão sobre a fronteira Russa, porque a Sibéria fica ali tão perto e colocar a mão nas suas imensas riquezas é questão central. Depois, adiante até à China. Desmembrada, o centro de gravidade do mundo continuaria por muito e bom tempo inamovível. Isso sim! Mas acontece que ninguém calculou que naquelas pedras alguém iria resistir ferozmente, impedindo novas cruzadas. Esta coisa de ganhar uma guerra por ali, está a custar mais uma vez caro, não só a quem decidiu, mas também ao mundo em geral, porque esta coisa de construir “democracias” à porrada, e estruturar estratégias cruzadas, e quando tudo falha, toca a fugir, coloca invariavelmente o mundo sujeito a muitos perigos. Direi, que o mundo está mal atrelado e as primeiras sequelas aí estão. Cuidemo-nos, pois então.
A segunda questão, esta magnífica, é a que tem a ver com uma coisa que por cá ainda ninguém pelos vistos, imagina, e como tal, nem pode ser levada a sério. Falo da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Juventude, a realizar exactamente em Singapura, no mês de Setembro de 2010. A cidade-estado candidatou-se, ganhou e por isso já se prepara para realizar esta primeira edição que vai acolher mais de 5.000 pessoas. Para além de me querer parecer que o centro de muitas decisões começa a passar pelo Oriente e isso deve estar a provocar azia em muita gente, fiquei a saber que países como a Grã-Bretanha, Nova Zelândia, Austrália, Alemanha, Holanda, a própria Singapura, um pequeno estado com duas medalhas nos Jogos Olímpicos de Pequim, já se movimentam em atenção a estes Jogos. Já têm programas e estratégias, sobretudo a Grã-Bretanha, dado que os seus Jogos são após dois anos e muito provavelmente alguns dos seus magníficos atletas passarão primeiro por Singapura. Por cá, que sei eu, que sabemos nós? Nada, absolutamente nada. Será possível que de um modo inopinado a pátria bem amada venha a conseguir o apuramento de um punhado de jovens, provavelmente sem saber como, até porque a universalidade do acontecimento protege os países menos desenvolvidos e distraídos. Mais uma vez, será uma dádiva, para um país incapaz de aprender. Sem desporto escolar, que é um embuste, sem desporto universitário, que nem embuste é, porque não existe de um modo sustentado, só mesmo a providência nos poderá ajudar. Aliás, nesta matéria, quero aqui deixar uma nota sobre a brilhante lembrança que um senhor vereador da nossa cidade teve ao propor uma distinção de mérito desportivo a uma jovem universitária figueirense, creio, jogadora de futebol de 5, medalha de prata no último Campeonato da Europa Universitário realizado em Coimbra. Com todo o respeito para com a jovem atleta universitária, que de certeza deu o seu melhor, eu deixo um conselho ao senhor vereador proponente. Não se baralhe. Saberemos nós quantos dias, quantas horas treinou a jovem atleta ao longo da sua ainda breve carreira desportiva? Se soubermos, provavelmente ficará o senhor vereador então a perceber que a brincadeira não calha com alto rendimento e que então, por cá, muita outra gente que vai brincando também ao desporto, exigirá semelhante distinção.
Mas passemos à frente, porque destas confusões o senhor vereador não sairá, porque nunca perceberá quando é que a bota há-de bater com a perdigota.
Falava eu de nem sequer sabermos que Singapura vai então realizar os primeiros Jogos Olímpicos da Juventude, da nossa ignorância e da nossa apatia relativamente a este lado social da vida. Mas de qualquer modo, será importante esclarecer que nem me admira que a pátria venha a ganhar em Singapura umas quantas medalhas, porque a competição vai chamar à liça, exactamente os escalões onde de um modo geral os nossos jovens atingem maior notoriedade desportiva. Acreditem que será da precocidade atlética. Esse será o caminho, dirão, mas pura ilusão, porque os jovens de outros países esperam pela maioridade para se colocarem no verdadeiro caminho da consagração adulta. A precocidade em desporto não é nunca boa conselheira porque mata e impede a chegada à maturidade desportiva. É possível chegar aos 19/20 anos ao alto nível, mas depois prolongá-lo por mais 8/10, é tarefa difícil, porque requer tempo e muito trabalho e sobretudo, quando em sociedades como a nossa, pouco dadas ao compromisso social e também ao rigor, obrigam a decisões sociais e profissionais incompatíveis com a idade da maturidade, matando cerce a possibilidade de futura expressão. A desistência está sempre ali à mão e acaba por ser a porta de saída, naturalmente, também precoce. E nessa matéria a Universidade não ajuda, embora volta e meia se desafie a umas brincadeiras, como modo de expiação.
Então só nos restará estar atentos e ver como vai a pátria dar resposta a mais este desafio desportivo universal. Mas não nos chateemos se as coisas não correrem bem, por mais uma vez, porque pela ignorância somos nós também responsáveis, e nem vale a pena atirar bolas para o pinhal. Nesta medida, mau foi a pátria no futebol ter empatado com a Albânia, para gáudio dos albaneses que em frente à estação do Rossio estendem a mão à caridadezinha para matar a fome.
Só me resta perguntar, mais uma vez, que Pátria é esta que só na bola consome a alma?
sexta-feira, 24 de outubro de 2008
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1 comentário:
Mais um excelente texto de Augusto Alberto.
Dois abraços.
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