Augusto Alberto (texto e fotos)
A TV de um modo geral é fraquinha, mas de volta e meia lá se arranca alguma coisa de jeito. Um pouquinho, não se ganhem bons hábitos. E foi exactamente o que sucedeu com uma pequena peça que tratou de pessoas que no Brasil catam latas de cerveja, sumos e claro está, coca -cola, para depois de pisadas serem vendidas para a reciclagem. Ora aqui temos uma tarefa que baixa a taxa de desemprego, com certeza. Lá vinha um menino com 8/10 anos da praia de Copacabana, pé pelo chão, calção escuro e tronco ao vento, com o seu saco carregado com as latas. Com a crise, o quilo das latas baixara de 3 reais, para metade, 1,5 reais, disse o entrevistado. Que corte brutal! Conformado! Oh crise, que tão mal tratas o povo. Como é possível num País com imensas riquezas, petróleo inclusive, haver assim tanta gente deserdada? Lembro - me que em Portugal uma das profissões mais abjectas no tempo do fascismo, era o trabalho de andar à mala nas estações da C.P. Concluído o frete, a mão era estendida, quase que por caridade. Uma humilhação. Mas à lata… Em 1974 um velho militante comunista brasileiro confidenciou-me que o pior para o Povo, era o Brasil ganhar o campeonato do mundo de futebol. O Povo desligava em absoluto. Mas hoje, peço desculpa a esse meu velho camarada, para dizer, e vamos aqui esquecer o futebol, fado e Fátima, pese essa clara verdade, que aquela selecção Brasileira que em 1970 no México ganhou o campeonato do mundo, era uma pérola. Lembro-me de Pelé, admirável, Tostão, astuto, dois extremos iniguais, Rivelino à esquerda e Jairzinho à direita. Pelo meio, uma formiga, Clodoaldo, e não me lembro de mais. Essa equipa foi a melhor de todas quantas já vi e vingou o fracasso de 4 anos antes em Londres, de boa memória para o futebol português, que glorificou Eusébio e confirmou um fabuloso Vicente, que secou completamente Pelé, enquanto pode jogar, até ao momento em que Morais lhe deu em cheio e o atirou a mancar para a linha, quase sem se poder mexer. Mas antes, quero aqui recordar Matateu, irmão de Vicente, que foi do meu ponto de vista, o melhor jogador português de sempre, só que veio antes do tempo. Um negro magistral. Tivesse chegado agora...
O Brasil assim continua, mas não resisto a contar um diálogo apanhado na minha última viagem a Lisboa, no penúltimo dia do ano de 2008. Tive por companhia nos dois lugares ao lado, um senhor já pela meia-idade e uma jovem na casa dos 20. Falaram calmamente de viagens. Ele mais viajado, mas ambos com passagem por Havana e Varadero. Disse ele, que também tinha passado pelo Rio de Janeiro e ali por vezes teve medo, mas em Cuba, esteve sempre à vontade. Ela, que tinha chegado a Varadero poucos dias após um tufão, mas marcas, nem uma. Mas a grande confissão desta jovem, era a de não perceber como é que os cubanos com aquela sua moeda, adquiriam os produtos do dia a dia, e aonde, mas, contudo, estava espantada porque não viu meninos rotos, sujos, descalços, andrajosos e barriga redonda. Todos limpinhos nos seus trajes escolares. Ora aqui está. Comparemos então. Os cubanos apesar de pobres, por causa de um petróleo rasca, mas dignos, não andam à cata da lata e essa jovem com certeza não percebe como é que meninos em Cuba andam limpinhos e escorreitos e a segurança ser uma regra. Nem ela, nem muita outra boa gente. Então eu aconselho aos que não entendem esta coisas, que deverão, em primeiro, começar por expurgar as notícias, porque anda por aí gente má e má noticia. Quem sabe se não virão um dia, então, a perceber?
Estamos em data de comemorar os 50 anos do fim da Ilha dos Casinos. Resistência, que nem a política da Canhoneira dobrou. E a melhor homenagem a estes 50 anos, deu-a esta minha jovem companheira de viagem, sem saber. Um espanto!
Desejo terminar, registando uma pequena nota deixada por um antropólogo que há uma dúzia de anos atrás, estabeleceu o primeiro contacto com uma tribo, até então desconhecida, exactamente na Amazónia. Estava feliz com certeza, mas preocupado, e disse-o: - “no dia em que esta gente tiver o primeiro contacto com a Coca-Cola, caminhará para a perdição”. E eu digo o mesmo e já agora, também vos digo que gosto de futebol, mas ele acaba para mim logo no fim do jogo, porque o futebol não tem importância nenhuma.
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2 comentários:
Ó senhor Alberto, em desalinho?
Mas a crónica até está muito nem alinhadinha, ou não estará?
Pois é, Dona Olga, para que se saiba, nem sempre sou desalinhado. Só quando me dá jeito. outras há em que sou bem alinhadinho.
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