quarta-feira, 15 de julho de 2009

O “Boca do Inferno”

Gregório de Mattos nasceu e morreu no século XVII. No Brasil. De boas famílias, o pai era de Guimarães, andou por cá, tendo-se formado em Coimbra. Exerceu o cargo de juiz de fora em Alcácer do Sal, de juiz cível em Lisboa e representou a Baía nas Cortes de Lisboa.
Devido a um comportamento, digamos, politicamente incorrecto, foi destituído de vários cargos, por, entre outras coisas, não querer usar batina nem aceitar a imposição das ordens maiores. A alcunha que ganhou, “Boca do Inferno” deve-se à aspereza com que criticava a igreja e a classe política em truculentos poemas.
A sua poesia, bastante satírica, arranjou-lhe os inimigos suficientes para ter de ser deportado para Angola. Cultivou a poesia erótica, bastas vezes roçando a pornografia, sendo esta a sua faceta menos conhecida.
E agora perguntais: porque me lembrei do “Boca”? E eu respondo: porque o mais recente cromo do delicioso "album figueirense" do artista Fernando Campos é um juiz que também vem de fora, mais propriamente de Coimbra mas que, ao contrário do “tio” Gregório, é muito bem comportado e conhece o Estádio do Dragão.
Entre por aqui, não tem que enganar, é logo em frente.
A obra de Gregório de Mattos estende-se desde a lírica à sátira social e à política. Mas leiamo-lo na sua faceta menos conhecida. Façam o favor:


O caralho do moleiro
É feito de papelão
Arreita pelo inverno
Para foder no Verão

I
O moleiro e o criado
Tiveram grande porfia
Saber qual deles teria
Mor membro e mais estirado.
Pôs-se o negócio em julgado
E, botando a soalheiro
Um e outro membro inteiro
Às polegadas medido
Se viu que era mais comprido
O caralho do moleiro
II
Disto o criado apelou
E foi a razão que deu:
Que o membro, então, mais cresceu,
Porque então mais arreitou.
Logo alegou e provou
Não ser bastante razão
A polegada da mão
Para vencer-lhe o partido
Que, suposto que é comprido,
É feito de papelão.
III
Item, sendo necessário,
Disse mais, que provaria
Que se era papel se havia
Abaixar como ordinário;
Que o membro era muito falsário
Feito de um pobre caderno
Tão fora do uso moderno;
Que, se uma moça arreitada
Lhe dá no Verão entrada,
É para foder no Inverno.
IV
E que, depois de se erguer
É tão tardo e tão ronceiro,
Que há de mister o moleiro
Seis meses para o meter;
Porque depois de já ter
Aceso, como um tição,
Engana a putinha, então,
Pois pedindo que a fornicasse
Lhe dizia que esperasse
Para foder no Verão.

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

Este Gregório de Mattos só podia ser odiado pela choldra...

Um abraço.