domingo, 18 de janeiro de 2009

Histórias de mineiros (XI)

Ponto final

Augusto Alberto


Durante algumas semanas, algumas histórias de mineiros foram contadas. É chegado o momento de se concluírem estas histórias, ficando embora muita coisa para contar.
Retratar a mina é difícil, senão impossível, para quem nunca a viveu. Aquilo que se conseguiu foi o depoimento memorial dos que da mina fizeram ganha-pão. Depois houve que trabalhar a história, imaginar quadros. E foi assim que saíram durante 10 edições coisas da mina.
Foi curioso verificar como as reacções a um passado não muito distante foram de tal forma fechadas que se tornou difícil, por vezes, a recolha daquilo que interessava na história, salvo raríssimas excepções. Todos os contactados concluíam pela vida difícil, paupérrima, mas chegado o momento de desenvolver os quadros possíveis da época aparecia o enconchamento, numa recusa simples e humanamente perceptível. “Oh! Já pouco ou nada recordo!”. Ficava-se com a ideia de que os homens não queriam desenterrar um passado de privações e humilhações. Um passado cruel. E quem sabe mesmo se daí a recusa generalizada em o lembrar?
Hoje o que existe da mina sãos homens. Vivem no mesmo bairro, ontem exclusivo de mineiros, hoje compartilhado com os filhos e com outros que da mina só lhe ouviram o nome. Adquiriram as casas simples à companhia. Introduziram-lhe modificações para as tornar mais salutares, criaram anexos onde vivem os filhos e os netos. Deram um âmbito mais lato às coisas que ontem eram seu exclusivo, e hoje pertença de todos. É o caso da Festa em honra de Santa Bárbara. Santa Bárbara já não percorre as galerias e nem sequer se realiza em Dezembro. A Festa dos Mineiros adaptou-se ao sentido real da vida. Foi antecipada de Dezembro para Agosto. Recolhe a presença de emigrantes e aumenta os respectivos proventos.

Muitos dos mineiros têm filhos e netos nas sete partidas do mundo. Há como que uma continuidade histórica da incapacidade do mundo que é seu em satisfazer os seus. Se ontem era a humidade que resfriava os ossos, a fome e os maus cheiros da mina, hoje é a necessidade de recorrer a outro mundo para viver.
Muitos estão para lá há já bastantes anos. Assimilam novos hábitos, nova cultura, enquanto os mais novos, alguns já lá nascidos, engajam esses novos hábitos, essa nova cultura. De tenra idade que da mina do avô nem a mínima referência possuem.
O fascismo obrigou a emigrar e concomitantemente criou a ignorância e a exploração desenfreada. Hoje algumas dessas premissas ainda se mantêm quase intactas. Há como que um atavismo histórico.
Recordo que há bem pouco tempo uma mulher de mineiro, ao jeito triste do nosso povo, recorreu ao vizinho, mineiro reformado, para lhe ler a carta que a filha lhe tinha escrito da França. No fim desabafou:
“é triste não saber ler, mas logo de pequeninos tínhamos de ir trabalhar…”
Creio que a esta mulher talvez tivesse faltado a percepção de que o mundo dela, da mina, ao mundo de sua filha emigrante, só existe uma diferença de forma, porque o drama continua a existir. Ou não será que a saudade da filha pela terra que a viu nascer e crescer, a despedida à hora da partida, a carta que se escreve e que se lê, até talvez a assimilação forçada daquilo que é estranho, também não são um drama?
A mina lá está banhada pelas águas do oceano. Resta o local, as entradas pela serra, totalmente cobertas de arvoredo, urzes e espinhos.
Os mineiros reformados, ou os que ainda trabalham nas fábricas de cal ou do cimento, juntam-se no cantinho dos reformados, consomem horas a fio no jogo da malha, na conversa. Ambições, nenhumas. A mina cansou-os!...

1 comentário:

Anónimo disse...

Ich entschuldige mich, aber meiner Meinung nach lassen Sie den Fehler zu. Geben Sie wir werden es besprechen. Schreiben Sie mir in PM, wir werden umgehen. viagra nebenwirkungen bluthochdruck levitra [url=http//t7-isis.org]levitra 20mg filmtabletten[/url]