sábado, 6 de junho de 2009

O caracazo



Augusto Alberto



A 4 de Junho deste 2009, comemorou-se os 20 anos dos acontecimentos da praça de Tianamen. Acho muito bem. Ainda por cima, do ponto de vista da paisagem, a praça só é especial porque é um panegírico e, por isso mesmo, austera. Temos por cá mais belo. Aliás, entendo que tudo deverá ser comemorado e lembrado, ainda que por cá, certa, ou quase toda a imprensa, falada e escrita, seja vesga, com todo o seu propósito. E é por isso que para azar, num mesmo tempo, várias coisas possam ser comemoradas, embora, em regra, se escolha a dedo. Então, eu aproveito, contra a corrente, para falar de outra coisa. O caracazo. E o que é o caracazo?
O caracazo foi o caso que levou a uma brutal repressão em toda a Venezuela, mas sobretudo na Cidade de Caracas, exactamente no mesmo ano de 1989, num período de grandes dificuldades sociais, com gente amargurada, que desceu das favelas, e saiu às praças e avenidas, em protesto, porque a vida lhe estava insuportável. Passaram agora também 20 anos, na terra em que agora governa Chavez, o tal populista que anda com furor nacionalizador. Dados conhecidos, falam em centenas de mortos e até hoje, cerca de 2.000 desaparecidos.
Mas este caracazo tem um rosto, e ele é de um tal Carlos Andrés Pérez, Presidente de um partido social-democrata, membro da Internacional Socialista, amigo de Felipe Gonzalez e de Mário Soares. Aliás, no ano de 1978, Caracas recebeu o congresso dessa internacional socialista. Essa personalidade, que mandou sair a tropa às praças, acabou, sem espinhas, como todo o bom “cabron” oriundo da América Latina, no amigo do norte, os Estados Unidos.
Continuo a achar que tudo deverá ser lembrado, mas exactamente tudo e então, eu espero que por cá e por todo o lado, se fale também dos 20 anos do caracazo, e dos tais, até hoje, mais de 2.000 desaparecidos, sob pena de considerar que a imprensa nativa não passa de uma imprensa abjecta e curvada, porque considera um despropósito aquela gente de um branco meio acastanhado. Pela amostra, o mais provável é nada ser dito, e então, eu aproveito desde já para dizer aqueles que acreditam que a democracia assim é coisa linda, que ganhem tino.

3 comentários:

Olímpio disse...

Dizia-me o meu colega e amigo Manangão,que a amizade é igual ao azeite...vem ao de cima.Mas tambem não sei o que se passa,pois ,inclusive,até o contacto por telemovel está errado e vou falar para Alcobaça.Obrigado pelo cuidado,caro Campos.

Olímpio disse...

Quanto ao caracazo e outras fobias da humanidade,sou sei dizer que os poderosos são sempre uns grandes sacanas para com os humildes,pois são imcapazes de os sentir e compreender os seus dramas sociais e anseios.

Fernando Samuel disse...

A imprensa «democrática» que nos «informa» não está interessada em caracazos: só se interessa pelo que interessa aos seus donos, por isso é «abjecta e curvada»...

Um abraço.