quinta-feira, 30 de julho de 2009

O tiro de zagalote

Augusto Alberto


Recuperar património é caminho que surge como respeito pela memória… É extraordinário o exemplo dado pela Câmara Municipal de Almada ao enfrentar uma situação degradada, à volta da antiga capela de São Sebastião, até a transformar num lugar devolvido a quem pode dar-lhe vida. Aqui a opção foi devolver o lugar à sua funcionalidade primitiva e entregá-lo à comunidade que lhe deu origem…A arquitecta autora do projecto, Maria José Lopes, mostra ter percebido que os lugares não são para reconstruir como mera arqueologia de repetição…A amplitude da intervenção camarária avança até à criação de algumas alfaias litúrgicas de qualidade que possam servir nas celebrações e condizer com o teor do espaço, como deve acontecer… A entrega da criação das peças ao conhecido escultor José Aurélio completa e garante essa visão integrada…
Está de parabéns Maria Emília Neto de Sousa e a sua cidade de Almada.
Aqui estão, recortes de um texto publicado num jornal diário generalista, talvez o de maior circulação, assinado, não por um comunista, apesar de se tratar de recuperação sua, mas de D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa.
Num momento de mais e nova raiva anticomunista, que confere com as enormes dificuldades sociais, sempre se buscam responsabilidades ao lado, este é um belo exercício teórico e de grande coragem intelectual. Estamos perante um texto de um padre, do topo da hierarquia católica portuguesa, que não teve medo de falar sobre a verdade, colocando, claro está, nos respectivos espaços, diferenças ideológicas, sempre presentes.
Esta é sem dúvida, uma homilia, séria, a crédito do trabalho, da seriedade e serenidade dos comunistas.
Mas no mesmo dia, foi-nos contada a história, acerca de um uivo, em forma de tiro de zagalote, que bastou para baralhar as coisas. Um balão de ar quente que subiu uns centímetros acima do monte e que queria chamar a atenção para, “ olho na ladroagem”, foi arreado à custa de chumbo de caçadeira. Dirão os mais prosaicos que esta é matéria pouca e, de todo o modo, para a polícia. Cuidado, porque então, ou se é tolo, ou se teima em não aprender, porque em termos absolutos, na ilha, o que se levou à prática, foi o pior de alguns métodos na caça. Ou seja: - atirar a tudo o que mexe.
Ora aqui está como num mesmo tempo e em espaços diferentes, se desenvolveram duas realidades bem distintas e opostas. Para quem tem o hábito de clamar por tolerância como um valor soberano da democracia, avalie-se então quem a tem e quem de outrossim, é belicoso.
Abel Mateus, alto quadro da Administração, disse-nos, ser possível, em tempo curto, o país ter um baque semelhante ao que teve a Islândia. Pois é. O melhor é precatar-nos. E nunca nos deveremos esquecer que, em momentos de aperto, há gente que sem ser capaz de atinar com o norte, acha que as coisas se resolvem, “atirando sobre tudo o que mexe.”

1 comentário:

J.S. Teixeira disse...

Parabéns ao executivo da Câmara de Almada. Quando estes sectores da sociedade, por norma tão avessos ao comunismo, fazem rasgados elogios à forma como uma comunista gere a Câmara é porque o trabalho não é bom, é EXCELENTE!