Augusto Alberto
À americana, um longo comboio de mercadorias, ao passar por
uma ponte que liga duas margens de um rio, descarrilou e acabou na água.
Procuraram-se explicações. E elas vieram, pela constatação de que um batelão ao
realizar uma manobra junto da ponte, embateu num dos pilares e fez desalinhar
os carris. Em marcha, a máquina num instante perdeu aderência e acabou a
afocinhar no rio.
Esta história contada ao pormenor, remete-me para o comboio lusitano.
Que com toda a corda, vai em marcha rápida e com os maquinistas assarapantados
e tomados por sezões do diabo, a recusar controlar a velocidade e sem vontade
de atender aos sinais exteriores e interiores, que alertam para os perigos.
Dentro das carruagens vai um povo consumido, aos brados, que
a coisa vai descarrilar, embater e projectar para fora os mais fracos e
alheados. Muitos morrerão, já muita gente percebeu. Alguém interroga, aos
gritos, que maquinistas são estes que parecem espavoridos? Outro diz, vamos de
rompante e ninguém nos pode valer, enquanto as rodas rilham no ferro, pobre
terra, pobre terra, pobre terra… Um amigo, que até à percepção do desastre, confiava
amavelmente.
Que visse eu bem, que nem o subsídio de desemprego ou de
doença está livre de uma taxa. Pois é, afaguei. Onde andastes, que nunca votastes?
Não vale a pena, disse, apesar de alarmado pelo imediato grande solavanco da
carruagem. Todavia, a pedido dos dois partidos de esquerda, P.C.P. e BE, apesar
do Presidente da República ter feito vista grossa ao dislate, o Tribunal Constitucional
apreciou a medida contida no O.E. para 2013 e mandou o governo da nação recuar,
expliquei-lhe. Vais ter o teu soberbo subsídio de desemprego ou de doença, por
inteiro e sem mais contratempos. Não sabia! Pois não, continuas palerma e
descentrado, aferrei-lhe, enquanto o comboio patina desalmadamente. Apesar do
facto e do caos, ainda me atirou com renovada ousadia, são todos iguais. Ai é!
Não quererás, então, antes que esta porcaria descarrile, saltar pela janela?
Agora não, porque a velocidade é demais. Então o que queres tu? Sobreviver, assegurou.
No meio deste caos? Sim! Com efeito. Tenho filhos e preciso de os alimentar.
Então ajeita-te e tenta mudar de posição. Podes ser que tenhas mais sorte do
que saber e escapes deste transe sem rachar a cabeça.
E para concluir, dir-te-ei antes do desastre, que o mais
surdo é o que não quer ouvir os rumores do comboio…pobre terra, pobre terra…e o
mais cego, é o que não quer ver que vamos descarrilar.
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