quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ainda por cá temos gente como a Dona Supico Pinto e o Dr. Ramiro Valadão

Augusto Alberto


Fez 37 anos que em Moçambique recebi uma prenda muito especial de Natal. Uma caixa em cartão torrado, com 12 livrinhos RTP. Oferta do caridoso Movimento Nacional Feminino, ao glorioso Exército Português, em África. Acabei por fazer a colecção inteira, que guardo, porque fui juntando os livrinhos que outros não queriam, como é óbvio, numa Pátria macambúzia e iletrada.
Nesse Natal de 1972 a central de propaganda do fascismo já dava com gosto conta das dificuldades da Unidade Popular, no Chile. Apesar de estarmos longe, soubemos que mulheres bem trajadas, com casacos com gola de pele de marta, vieram à rua bater com as tampas de panelas e tachos no chão, porque, vejam só, andavam famintas. Foi o prenúncio da greve dos camionistas, que deixou o país à míngua de alimentos e que preparou a pinochetada. O que se seguiu já a gente sabe, mas parece que por hora, anda muita gente distraída.
E é também neste Natal, idos 35 anos após Abril, que estamos a saber que muitos dos que nesta pátria fizeram a sua diáspora, na esperança de uma vida melhor, sobretudo brasileiros, estão de volta à sua pátria, porque o país que escolheram vai de rastos e deixou de ser o jardim prometido.
E esta realidade pode ser bem vista. Basta estarmos atentos à programação de uma estação de TV. Porque a verdade ai está, nessa matéria nada mudou, antes tudo se repete, agravado, ano após ano. No mínimo fica o mérito de vermos a fome em várias gentes, de vários modos e em vários lugares.
Mas o que mais impressiona, é a quantidade de organizações não governamentais, como se diz, que nos mais variados locais da pátria pretendem matar a fome a gente atirada para as fímbrias e que, dia a dia, aumenta exponencialmente. Mesmo gente que tem o seu emprego, e que apesar de pegar no batente e largar, a tempo e horas, o magnifico soldo, não chega para garantir uma qualidade de vida mínima e daí às sopas, vai um pequeno passo. Tenho de confessar, talvez por defeito e por sentir a irritação à flor da pele e na ponta da língua, porque nem sequer conheço as pessoas, que de cada vez que vejo nesta quadra de profunda hipocrisia, menina, senhora ou senhor, bafejado de voluntário, ocorre-me que ali poderá estar uma dona Supico Pinto ou um Dr. Ramiro Valadão a fazer a caridadezinha, depois de ter colaborado na formação da pobreza, nem que seja por omissão da denúncia.
E é neste caldo, que me ocorreu lembrar a pinochetada no Chile, para que não duvidem como a Pátria vai, alguém deverá estar mortinho para vir “à la calle” bater no alcatrão, com tampas de tachos e panelas. Que as pessoas de bem e preocupadas não se distraiam, porque o ambiente está cada vez mais espesso e as centrais de propaganda e de poder, estão em plena laboração, aliás, como nos é contado no blog “Cheira-me a Revolução”.

2 comentários:

Anónimo disse...

A Supico Pinto era militar?
Não? De certeza?
Mas marchava...

Guimaraes disse...

Até já se pede o fim dos feriados para diminuir o desemprego!
Não percebo, mas deve ser da idade...