quinta-feira, 21 de abril de 2011

Cangas

Augusto Alberto

Tem papeira? Isso resolve-se com a canga, disse o fulano das rezas, crendices e mesinhas a um vizinho muito próximo. Isto foi há muitos anos, num tempo de bons e repetidos milagres. Dias a fio, pelo fim da tarde, o meu vizinho meteu a canga do boi no pescoço e com enorme esforço rodava a nora e o balde subia e a água corria para o pote. Era eu uma criança e, espantado claro, olhava para aquilo como quem olhava para um boi. Evidentemente que após um bom par de dias com a canga à volta do pescoço e das voltas ao poço da água, a papeira persistia e o duplo incómodo também. O padecente, cansado da mezinha, deixou a canga para o boi e em quase desespero, alterou a terapia, abeirou-se do médico e começou o tratamento adequado. A papeira murchou.
Hoje, para lá dos 60, sinto que meio século é muito tempo, mas parece que a canga aperta e a nora continua à roda, porque deparo com um cartaz que nos convoca para uma manifestação contra a canga. Não a canga que cerca o pescoço do boi, e a que cercou a do meu vizinho, mas a canga que nos cerca económica e socialmente. E o que diz o cartaz? “Não te deixes roubar, combate-os”.
E com toda a clareza indica quem temos de combater, que é quem nos tem posto a canga. Conferindo: Cavaco, Sócrates, Teixeira dos Santos, Passos, Portas, Fernando Ulrich, Santos Ferreira, Belmiro, etc. Surpreendente, parece ser a coragem de chamar os ladrões pelos nomes. Uma má surpresa para os ladrões, evidentemente, que por isso nunca perdoarão. Ficaram, se ainda restasse dúvidas, a saber que felizmente ainda há gente que não está infantilizada por aquela máxima que diz: nunca cuspas na mão que te dá o prato da sopa. Antes pelo contrário, é gente firme e com todo o propósito, escorraçada de alguns lugares, porque tem a coragem de denunciar as mãos que nos roubam o pão. É então o momento de fazer perceber a alguns meus camaradas, que me aparecem tristes e aborrecidos, que as coisas são muitos claras. Não é por acaso que a comunicação social, aos comunistas, os apaga e o Cavaco que convoca todo o traste para conselheiro do estado, aos comunistas, diz não.
Muitos são os ladrões, sabemos de fonte segura, mas outros, convencidos, estão com a ladroagem, porque lhes parece que aqui e agora, vão sobrar umas migalhas. Devo sublinhar que é um engano, porque a ladroagem quer que a roda rode e a nora gire sempre no mesmo sentido, para que balde a balde a água suba e caía sempre no mesmo pote.
Quem vos avisa, vosso amigo é.

1 comentário:

cangas disse...

Excelente Augusto!