Há cerca de vinte anos, na Figueira da Foz, não numa sala do Casino, mas numa salinha bem perto, assisti a uma conferência cujo tema central era a pobreza. Ou como a repartição da riqueza, à época, já estava em escarpadíssimo desequilíbrio. Foi conferencista, o jornalista César Príncipe, um príncipe do jornalismo, do ainda Jornal de Noticias do Porto.
Antes de ir mais adiante, quero desde já deixar aqui uma pequena nota de interesse. Afinal nem só na magnífica sala do Casino da cidade se fazem grandes conferências, nem sequer é preciso que se chame para a moderação augusta jornalista. Sobre propriamente a conferência, quero aqui registar uma cabal boutade, que ao cabo de 20 anos, ainda se mantém vivíssima, ou actualíssima. Ao correr da conversa, César Príncipe aproveitou para classificar a marginalidade, que nunca deixou de nos atormentar, com a seguinte escala de grandeza: “Há os marginais de 1 estrela, até aos marginais de 5 estrelas”. E explicou. O marginal de 1 estrela, bem pode ser, digo eu agora, um daqueles que ainda outro dia vi em Lisboa, com o cartão a guardar o canto que sobra de uma montra de uma loja “armani”, por exemplo e que entretanto aproveita o vagar do tempo para uma sopa dos pobres, ou um banho e barba feita num dos balneários públicos da capital. O de 5 estrelas pode ser alguém que compra naquela loja “armani”, que o marginal de 1 estrela tem marcado para a noite, com um papelão, como por exemplo, José Sócrates. Se dúvidas houver quanto à previsibilidade de tamanha boutade de César Príncipe, relembre-se a posse, camisinha imaculada e gravata a condizer, com que Sócrates apareceu nas TV’s na noite do anúncio da degola dos pobres, ou se quisermos, dos marginais de 1, 2 e 3 estrelas. – “Oh Luís vê lá como é que fico ao olhar para os…assim fica melhor?”. Se eu fosse o Luís do cenário e da imagem, responderia de supetão. “Fica sim, fica bem meu marginal de 5 estrelas”. César Príncipe acertou em cheio na sistematização da marginalidade e quanto às estrelas que cabem a cada marginal. Sócrates recebe 5. Mas também os banqueiros que o utilizaram para nos chuparem, que depois de o utilizar, atiraram-no, como se atiram os ossos, para a cremação. Estratégia limpa, muito em voga por colonialistas, que depois de usarem, por exemplo, um “preto”, para chupar até ao tutano, logo que acabasse o tutano e chegasse o osso, logo outro “preto” tiravam da cartola para dar continuidade à sofreguidão.
Cá fico para ver, que marginal de 5 estrelas os marginais de 5 estrelas dos banqueiros vão acabar por eleger no dia 5 de Junho, no ano desta nossa desgraça de 2011. E se o marginal de 5 estrelas, Sócrates, acabar a ser eleito ainda e mais uma vez, o marginal de 5 estrelas? Então os marginais de 5 estrelas dos banqueiros por uma vez fizeram mal as contas, e acharão que aquele outro marginal de 5 estrelas, com carinha de menino chorão, não merece a roupinha de 5 estrelas. Sabe-se lá!
Como foi certeiro César Príncipe, porque estas histórias que metem marginais de 5 estrelas e pretos pelo meio, nunca acabam bem para os marginais de uma, duas e três estrelas.
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