sábado, 2 de julho de 2011

Desdenhar

Augusto Alberto 

O comboio sai de entre rochedos, que quase formam um túnel e começa a descer suavemente. Do lado esquerdo, a curva a jusante da barragem do Pocinho, e em cima, talvez a casa mais emblemática do Douro, a quinta da D. Antónia, que em tempos submeteu o Marquês de Pombal aos seus interesses e aos do Douro. Hoje, é a famosa quinta de Vale Meão, de onde sai vinho para príncipes e reis. No bar da estação do Pocinho, resguardado da canícula, a conversa vai longa. Sobre a pátria, a C.P e a Refer, que sendo duas coisas, deveriam ser em boa verdade, a mesma coisa, C.P. A questão é que interesses mais prosaicos, avançaram para o retalho com as devidas consequências.
    - Eu não votei! Sim senhor. E então? Sabe que quando não se vota se deixa o mundo ao livre arbítrio? É bem pior do que votar naqueles que nos roubam, porque, mal ou bem, foi a opção. Aguenta-se e esperar-se por nova oportunidade, ainda que depois se cometa o mesmo erro. É a modos como a pescadinha de rabo na boca. E já agora, sabe do frete? O estudo encomendado pelo anterior governo socialista, que propõe o encerramento de cerca de 800 Km de ferrovia? E desses, são para suprimir os km da Régua até aqui ao Pocinho. O que diz? Digo que sem ter lido a notícia, essa intenção vem fazendo o seu caminho há muito tempo. E que acha? Acho mal! Vai-me desculpar. Como é possível um cidadão rejeitar a limitada oportunidade que o voto lhe dá? Pois, mas não vale a pena…Está enganado! Já pensou que alguns portugueses, tal como o senhor, depois de um dia de praia e da recusa em votar, podem passados uns dias, para espanto, encontrar a empresa fechada? Ficarão aflitíssimos, como calcula. Imagine que um dia, a si, dirão, a linha fechou da Régua ao Pocinho, e portanto, a partir de agora não há cá lugar para si… Que idade tem? 46! Muito cuidado, porque é do mesmo passo, muito velho e muito novo. E agora?
Dois autocarros esperavam do lado de fora da estação, por um numeroso grupo de visitantes do Douro, enquanto um outro, um mini, que indicava Barca de Alva, que dista do Pocinho cerca de 30 km, faz a transferência pelas terras antes servidas pela linha até à fronteira.
     - Sabe, incomoda-me muito que as pessoas votem nos tipos que a seguir as vão roubar. Mas incomoda-me mais, saber que há gente que desdenha.

3 comentários:

Guimaraes disse...

Estamos perante verdadeiros crimes, que passo a denunciar:
1 - A via férrea entre o Porto e Salamanca foi paga pelos homens de negócios do Porto, para facilitação do desenvolvimento da sua economia de exportação para Espanha e a Europa. O encerramento de qualquer troço é um roubo às gentes do Porto e do Norte.
2 - O transporte ferroviário de mercadorias (os passageiros são deficitários)é o mais económico e ecologicamente sustentável. Não é por acaso que nos liberais Estados Unidos a única companhia ferroviária que transporta passageiros é a estatal AMTRACK. A simples linha de via única, com 3 comboios por dia, que liga o porto de Aveiro à linha do Norte em Cacia, retirou, nos primeiros 2 meses de funcionamento, 6.500 camiões da estrada e já permitiu que a Cimpor exportasse cimento para o Brasil e que haja transporte de materiais de Inglaterra para Espanha através de Aveiro.
Encerrar via férrea é disparate e crime económico.

Anónimo disse...

Bem digo eu que vou ao molho norte gritar aos Gregos que mostrem aos adormecidos e conformados como se luta.

Anónimo disse...

Bem digo eu que vou ao molho norte gritar aos Gregos que mostrem aos adormecidos e conformados como se luta.