terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Jagas

Augusto Alberto

Pepetela escreveu uma deliciosa história, “A Sul. O sombreiro”, em que conta sobre Luanda e da conquista e construção de Benguela. No inicio terra pequena, com casas e fortim, construídos em pau a pique. E dos miseráveis portugueses que por lá passaram, mais o miserável rei espanhol, Filipe, dos amores e dos “jagas”, o nome que os portugueses deram no final do século XVI e durante o século XVII, a grupos de nativos africanos, predominantemente nómadas, que se dedicavam ao canibalismo e à rapina. Explica muitíssimo bem o esforço aguerrido dos portugueses, para colonizar e recolher escravos que enviavam para as roças de São Tomé e do Brasil.

Mas o que mais me atraiu no romance foi a palavra “jaga”, que foneticamente nos endossa de imediato, para a probabilidade de estarmos perante gente hostil. Canibais, matavam as suas crianças, logo à nascença e faziam seus filhos, as crianças de outras comunidades apresadas. E no ajuntamento, por dote, o homem deveria apresentar aos pais da futura mulher, outro homem, para ser comido após passar pelo espeto e a fogueira.
Acabo o livro e, nem de propósito, leio uma notícia acerca do regresso dos portugueses a Angola, muitos milhares, e do modo como um economista e professor angolano, de forma justa e muito clara, aborda o assunto. E logo a questão se me coloca. Porque voltam os portugueses a Angola neste século XXI? Por causa dos “jagas”. E quais “jagas”? Os autóctones ou domésticos, de colarinho branco. Cavaco, Passos, Marcelo Rebelo de Sousa, (filho de “jaga”, “jagazinho” é), Portas, mais o resto da chusma, Saraiva, Proença e Seguro, (o apanha bonés), mais os restantes camaradas socialistas, todos, Vasconcelos de apelido.
Evidentemente que não nos apontam a grande sertã, carregada de azeite e o lume brando. Mas canibalizam-nos a paciência, a moral e a esperança, ordenando que deixemos a terra e a família onde crescemos. E porque também estão ao serviço de gente que a gente não vê nem sabe por onde pára. Se o livro começa assim: “Manuel Cerveira Pereira, o conquistador de Benguela é um filho de puta”, eu devo terminar, dizendo: os que não vemos e os que os servem, são uns reles filhos da puta.

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