quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O sonho americano

Augusto Alberto

Antes que a memória se gaste, Fidel começou a editar as memórias. E logo a independente imprensa nacional, tirou as devidas conclusões. Aliás, inteligentemente, porque o objectivo é dar a ideia de que para lá do mundo em que vivemos, é o finito. A conclusão foi: tinha sido um “equívoco” pensar que o socialismo iria resolver todos os problemas económicos da ilha. Bem sabemos que a vida é feito de avanços e de equívocos e a construção de Cuba não foge à regra. Por ventura não lerei os livros de Fidel, mas basta de modo esparso ir à descoberta das suas memórias, para ter acesso a informações que me escapam. É a diferença entre música escrita ou tocar de ouvido.

Admito que por vezes Fidel me espanta, ainda que nele veja uma pontinha de culto, que faço por esquecer. Sublinho, então, um naco reflexivo sobre o modo como foi sempre preparado o assalto às Américas. Disse: - Os oficiais das Forças Armadas da América Latina tinham suas escolas privilegiadas nos Estados Unidos, onde os campeões “olímpicos das democracias” os educavam em cursos especiais destinados a preservar a ordem imperialista e burguesa. Os golpes de Estado seriam bem-vindos sempre que fossem destinados a "defender as democracias"… em aliança com as oligarquias. Se os eleitores sabiam ou não ler e escrever, se tinham ou não casas, emprego, serviços médicos e educação, isso não tinha importância, sempre que o sagrado direito à propriedade fosse defendido.

E agora vejamos como o provável candidato Republicano à Casa Branca, Mitt Romney, na singeleza do seu pensamento, tropeça e confirma Fidel. O sublinhado é meu. "Estou-me “cagando” para os pobres, porque já tem o direito à senha que dá direito à sopa do estado". Mas como não chega abjurar os seus pobres, é ainda, contudo, necessário que haja outros, como sintetiza Fidel. Melhor será o mundo estar bem mais preocupado com o homem que vai estar aos comandos da maior máquina de guerra do mundo, do que com o modo como na pequena ilha os homens vão resolvendo os problemas que a utopia lhes coloca. E num mundo muito dado a espezinhar utopias e fracos, se eu fosse jornalista em Portugal talvez cuidasse em saber em que momento reúno condições para ir à botica do fundo de desemprego, depois do trabalhito feito e mal pago. Saibam que em dias em que os dentes rangem de frio, as sopas quentinhas só com senhas nas tendas da Câmara Municipal de Lisboa.

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