Augusto Alberto
Ainda que me repita, quero contar a história de uma cidadã
sexagenária que teve um acalorado bate boca na entrada do supermercado, porque
recusou, sem mais delongas, contribuir para o banco alimentar contra a fome.
Tomar essa opção, em contra ciclo, é obstinadamente um acto desviante e ao
mesmo tempo, de coragem. Esse singelo bate boca, ensinou, para quem ouviu,
muito mais do que ensinam os monólogos televisivos, sobretudo se quem monologa
é pessoa que nos bate.
Perguntou a outra cidadã: “Então porque não contribui para matar a fome a quem a tem?” - “Porque tenho de contribuir? Nunca lhe
pareceu que para muitos, a fome é da sua responsabilidade?”- “ Como assim? Como assim?”- “Pergunte a essa
gente em quem votou. Logo verá, sem nenhuma novidade, que votaram em quem os
colocou no desemprego. Em quem não
lhes paga o salário ao fim de um mês. Alguns, inclusive, na hora do voto, deram
em abstencionistas, porque escolheram o sol da praia. Vá, pergunte! E diga-me.
Por onde andou a senhora também?” – “Não
seja assim!” – “Sou assim e nada me
fará mudar, nem a sua súplica. E já agora, ouça. Virá o dia em que não se virá
aqui só pedir massa ou arroz para a sopa. Não se lamente, se a obrigarem,
também, a pagar propinas para que o seu menino possa concluir a escolaridade
obrigatória, sob pena de não ir além da 3ª classe, como no tempo do Salazar.
Ainda não sabe? Pois é bom que saiba. E alguma vez ouviu falar das sopas do
Sidónio? Também não! Olhe que não foi assim há tantos anos. Foi num tempo em
que o português andou esfarrapado e mirrado. E de momento, lá voltamos, outra
vez, ao caldeiro da sopa dos pobres e em breve, de nós, sobrará pouco mais do
que o esqueleto. Reconheço-lhe singeleza menina, mas é altura de amadurecer e
de perceber que vive numa pátria em que têm sobrado figurões, que com arte e
papas e bolos, vão enganando os tolos. Acorde! Precisamos de ser mais do que um
povo de burros de carga”. E concluiu:
“Contribuirei,
sim, mas de outro modo”.
Tem razão a sexagenária cidadã. É com a caridadezinha que o
burguês clama pelo seu “orgasmo” cultural.
3 comentários:
Exmo Sr Augusto Alberto.
O seu texto revela um enorme sentido politico e humanistico o qual o poderia assinar de olhos fechados. Tenho é muitas duvidas se a sociedade que deseja para o nosso povo seria a fraternidade que todos desejamos. O nosso drama social é inquietante para os nossos irmãos desfavorecidos,pois é eu sinto e vejo, tal como disse a miss da Russia, um bando de malfeitores e ladrões, na sua terra e por cá? Já agora e com o mais elevado respeito pela sua luta de classes,da qual partilho o seu texto, venha daí no dia 5 de Março 2013, visitar Cuba, como faço pela segunda vez e quem sabe se não vai encontrar mais equilibrio e amor pelo próximo Desejo-lhe um natal de paz em familia e com os" inimigos"porque se for só para os amigos, não fazemos nada de especial OLIMPIO FERNANDES
A burguesia dedica ao PCP um ódio de morte que não dedica a nenhuma outra organização da esquerda portuguesa. Odeiam o PCP por aquilo que ele é: um partido de trabalhadores, em que a direcção é composta maioritariamente por operários (Sim operários, gente que faz com as mãos as coisas que nós usamos). Odeiam o PCP, por ao contrário do PS ou do Bloco de Esquerda, nunca ter traído nem dado o dito por não dito. Assusta-os a clareza com que propõe a destruição do capitalismo, intimida-os a firmeza da sua convicção na vitória dos explorados sobre os exploradores.
Não sou militante do PCP. Não sei se alguma vez o serei. Condeno veementemente todos os regimes ditatoriais do passado e do presente, comunistas, pretensamente comunistas ou não. Condeno Estaline. A China. A Coreia. A Síria.
Muito me separa do PCP e se calhar por isso é que nunca poderei ser seu militante. E no entanto, nunca votei em nenhum outro Partido desde que tenho idade para votar. Porque nenhum outro defende, como o PCP, os trabalhadores, os explorados, os pobres.
Quando penso na forma como combateu a Ditadura. Quando penso nas conquistas sociais de 1974 e 1975. Quando penso em décadas de luta ao serviço dos trabalhadores. Quando penso que, sem o PCP, muito do que temos nunca poderia ter sido conseguido, só consigo mesmo ter um enorme orgulho no Partido Comunista Português e no privilégio que é ser seu votante.
E é verdade, Paulo, os burgueses odeiam os comunistas pelas razões que apontas. Porque sabem que na política interna do PCP há um trajecto de coerência. E porque sabem que, se um dia o PCP chegasse ao poder, os seus privilégios acabavam. Não haveria ditaduras nem restrições à liberdade. Eles sabem disso, mas fingem que não. Porque lhes interessa. Porque comem todos da mesma gamela.
"E porque sabem que, se um dia o PCP chegasse ao poder, os seus privilégios acabavam."
É verdade: e começavam os do PCP.
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