sábado, 2 de março de 2013

O cavaleiro da boa figura


Augusto Alberto

Façam o favor de passar os olhos por Cervantes e D. Quixote. É leitura inigualável e de deslumbrante inteligência e fino humor. Se vivesse hoje, Cervantes escreveria sobre as andanças e desditas no reino de Espanha. O seu cavaleiro D. Quixote, desta feita, trocaria a leitura dos romances de cavalaria sobre Palmeirim de Inglaterra e Amadis de Gaula, pela leitura de Marx, para melhor interpretar a teoria da acumulação do capital, confirmada com os 5 milhões de desempregados em Espanha. D. Quixote, que foi probo, inteligente, letrado e casto, porque se deu de amores a uma única mulher, na companhia do camponês Sancho Pança, seu fiel escudeiro, percorreria a Espanha, numa batalha sem quartel, contra os que trazem a fome.
Passasse por botequins, ou estalagens baratas, haveria de topar com gente puída e despossuída de casa e pão, e não acharia na moderna Espanha, a sua amada e virgem Dulcineia del Toboso, mas uma “infanta” comprometida com a mais desbragada e fascinante corrupção. Talvez acometesse de lança e elmo e rubro de raiva contra o palácio real. Mandaria, entretanto, ao Palácio da Moncloa, por o seu tempo ser escasso, o seu fiel escudeiro, Pança, montado no ruço pachorrento, para avisar que mais cedo do que tarde, o seu amo, D. Quixote, lá chegaria, para pedir explicações a quem permite que homens e mulheres em desespero, se lancem de um andar para o passeio, ou se imolem num centro de emprego, e para perceber que políticas criaram o espantoso exercito de desempregados, que sempre que sai à rua, é violentamente sovado pela policia e que têm um rei, que em vez de exigir a boa democracia, sai à caça de rinocerontes pretos e se perde por uma puída baronesa teutónica.
E à sede do Partido Popular chegaria para pedir informações sobre a lisura, que nunca houve, desde o tempo do fascista galego, Fraga Iribarne e ao tempo do fascista Aznar. D. Quixote, cavaleiro da grande figura, montado no estafado Rocinante, de lança, elmo e chapéu em forma de bacia de barbeiro, hoje, surpreendido, deixaria os moinhos de vento em paz e atirar-se-ia contra bancos e palácios, onde mora gente de má-fé e má conduta. Passaria o cavaleiro Manchego, para sossegar e aprender um pouco mais com os ensinamentos de Marx, pela sua Alcalá de Henares, e na sua preciosa tarefa, não teria uma pequena Ilha para administrar, mas teria o grande capital e toda a Espanha para limpar. 

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