sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Como no filme de Kazan

Augusto Alberto

Com “Há lodo no cais”, Elia Kazan (que foi perseguido pelo mccartismo e de seguida, tremente, passou a delator) construiu uma fita, verdadeira obra prima, sobre os critérios usados por um gangster, com vista ao controle de cargas e descargas de um porto, ainda por cima com música de um extraordinário compositor e regente, Leonard Berstein, que percebeu como ninguém, que o melhor meio para divulgar a grande musica, era a TV, ao gravar no Carnegie Hall, um longo conjunto de sessões de divulgação, com o genérico nome de concerto para jovem, que em definitivo, marcou o meu gosto musical.
Nestes tempos de grande luta ideológica, apesar de uns tantos crentes terem decretado o fim das ideias e da luta de classes, não posso passar sem chamar aqui outras sequelas de “Há lodo no cais”.
Sabemos de modo seguro que no Partido Socialista, como também no Partido Social-democrata, o lodo se espalha de um modo teimoso, que só não vê, quem anda absolutamente tapado. Quem não se lembra do deputado Preto, no PSD, comprar votos, pagos em “cash”, logo ali e sem delongas? E agora a revista “Sábado” e a respeitável TVI, que foi da Igreja, a fazer barba e cabelo ao Partido Socialista, revelando provas do enormíssimo cambalacho eleitoral, para as suas distritais. No tempo de Salazar e de Tomás, a gente chamava chapeladas a estas coisas. Pois é de chapeladas à boa moda fascista, que a “democracia” vive tanto no PPD como no Partido Socialista.

Mas o lodo é em tanta abundância que soubemos há dias que no Partido Socialista, o seu líder parlamentar Assis jogou o seu futuro numa votação em que os seus pares foram obrigados ao voto por braço no ar. Quero já aqui deixar claro, como interessado, que o modo como essa votação foi feita, foi uma redonda canalhice. E porquê? Porque durante anos, lembra-se, os comunistas foram acusados de comer criancinhas e de passar os velhinhos com uma injecção atrás da orelha, ao deitar, para a coisa ser mais suave. Mas a mais safada desconsideração foi a acusação de que os comunistas utilizavam o mais vil instrumento de votação antidemocrática, o braço no ar, para que por esse meio, fossem apanhados e punidos os que tivessem a coragem de desafinar. Aliás, para suprema punição, foi aprovada lei que obriga a votação por urna, para que desse modo, os “impolutos” comunistas que quisessem destoar, o pudessem fazer sem receio de punição. Acontece que o deputado Assis mais os seus pares, desrespeitaram a lei que os próprios prepararam. Desse modo, comportaram-se como gente pérfida. Se tivessem um pingo de vergonha, chamariam a si, isso sim, o anátema que lançaram sobre os comunistas, porque, afinal, parece que de respeito sabem os comunistas.
A questão suprema, é saber como muita gente séria embarcou nestas moscambilhas e como pode o povo suportar esta gente, que só descobre a democracia se ela se fizer na direcção dos seus umbigos, e que nas curvas mais apertadas se comportam como verdadeiros canalhas.
Será que esta gente se acha no direito de considerar, quem vive do trabalho mísero e escravo e de reformas, que são paliativos para evitar que morramos de um só assopro, e todos os que teimam em dizer-lhes não, como os seus estivadores a quem sugam o sangue e o suor nos cais, que como gansgters dirigem, como no filme de Kazan?

1 comentário:

Anónimo disse...

A situação nos portos, actualmente, é parecida (salvo as devidas diferenças e contextos) com a conivência dos sindicatos do ramo.