segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Trambiqueiros

Augusto Alberto



Estou a imaginar como será a redacção de um jornal diário, afadigadíssima, na procura das melhores soluções jornalísticas. E inclusive, parece que vejo o chefe a chamar ao seu gabinete um dos seus mais zelosos jornalistas, para lhe comunicar a necessidade de levar adiante uma tarefa muito especial: elaborar uma notícia à volta de uma personalidade que se coloque como alternativa a Sócrates. Para melhor explicitação, diz-lhe que está na altura de começar a promover a campanha de substituição do actual primeiro-ministro, porque apesar do seu carácter implacável, já deu o suficiente para alimentar o clero e a nobreza da pátria bem amada. Por isso, é urgente começar a criar, no mínimo, não uma, mas duas figuras. O jornalista tomou boa nota da tarefa e de volta ao seu eficaz computador, começou a escrever o que se segue: - a contestação social, o desgaste nas sondagens, a rebeldia de Carlos César, o incomodo dentro do Partido, são sinais de fim de festa. Este naco de prosa, ou uma caixa de um texto mais desenvolvido é real, porque foi escrito por um jornalista do Público, cujo nome não tem para o caso qualquer relevância.

É bom aqui lembrar que José Sócrates no início da sua campanha como primeiro-ministro, foi tido como um homem de grande coragem política, e por isso recebeu da direita, que não é parva nem trôpega, os mais rasgados elogios, porque foi capaz de fazer a reforma da administração pública, da segurança social, do trabalho, da saúde e do ensino. E nos intervalos enfrentou todo o tipo de cooperações, na justiça, nas escolas, nos hospitais e centros de saúde, e ainda lhe sobrou tempo para berrar aos ouvidos dos trabalhadores, etc. Mas a usura do poder, como gosta de dizer toda a tralha de analistas, comentadores e restantes figurinhas, coloca,como diz o diligente jornalista, Sócrates em fim de festa.

Desse ponto de vista, as soluções avançam de mansinho, na mira do único e real objectivo, continuar a levar em frente a cooperação estratégica e a alternância do poder, ou na melhor linguagem, para que tudo fique na mesma. Desse modo, são precisos sempre dois para dançar o tango, ou para melhor esclarecimento, a pátria precisa não de um trambiqueiro, mas dois ou três. Seguramente Cavaco já o é, Passos Coelho será o próximo, e quem sabe, se o Carlos César dos Açores não se está a posicionar para ser o terceiro, porque cautelas e caldos de galinha podem evitar que perigos se levantem por ai.

Nunca tomem esta direita por parva, antes pelo contrário.

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