domingo, 11 de novembro de 2007

E aos costumes disse nada… (croniqueta de fim-de-semana)

O debate sobre o Orçamento de Estado provou mais uma vez que a política, hoje em dia, é a arte de enganar para conservar o poder. E partindo desta premissa temos de convir que José Sócrates é um excelente político.
Porque durante o debate não debateu nada, não respondeu nada. Limitou-se a atacar como quis a Oposição. E ataques que foram sempre os mesmos de sempre, tal qual uma cassete. E com o beneplácito de os outros da Direita não terem tido necessidade de inventarem uma qualquer estratégia do género da do queijo limiano, para poderem disfarçar e votar contra e o dito ser aprovado. Desta vez o resto até se deu ao luxo de votar contra. A favor votaram também alguns que se dizem, ou gostam de dizer, que são de Esquerda. Mas, enfim, só se violenta quem quer, só é livre quem quer. Opções são opções e temos de as respeitar. Sobretudo se são dramas alegres.
É evidente que o governo não tem preocupações sociais nenhumas. O desemprego aumenta, o trabalho precário aumenta, os impostos aumentam, os salários desvalorizam, o IVA subiu em contra ponto com outros países em que desceu. Para o sector bancário é que a vida está boa: com fabulosos milhões de lucros, têm uma taxa de IRC menor do que qualquer pequena ou micro empresa, o que representa, o que não se lê na nossa inefável imprensa onde diariamente não faltam experts a botar opinião, uma perda fiscal que ronda os 400 milhões de euros.
A nada (…) respondeu Sócrates, preferindo produzir a “ironia" de que “o PCP está sempre contra”. Pois está. Na proporção exacta em que o seu Governo, dito “socialista”, está todo a favor – mas dos grandes interesses capitalistas.

7 comentários:

Anónimo disse...

Caro Xaninho, meu bom e velho amigo: O Mundo não é feito só a duas cores, nem à medida da nossa emoção. Direi que que a utopia já não passa pelas estreitas margens dos sistemas económicos "paridos" no racionalismo do final do sec. XIX. A história encarregou-se de demonstrar, sem apelo nem agravo,que não há "amanhãs que cantam" e que a concepção determinista da espiral do aperfeiçoamento humano é tão irreal como as sociedades da abundância do lucro! Cada passo é só um passo, em cada momento, em cada contexto, em cada gesto! O resto, julgo eu, é tão só crença e ilusão! Grande abraço.

alex campos disse...

Caro Pedro, claro que haverá amanhãs que cantam, o mundo não há-de ser sempre feito a uma cor.Pela simples razão de que não chegamos ao fim da História.
Mas utopias àparte (e é nelas que mora a esperança), o facto é que vivemos numa pseudodemocracia baseada na mentira, na hipocrisia, no poder do "vil metal". Nos textos não estão utopias, estão realidades agrestes, não vale a pena dourar a pílula. E cada um escolhe o campo que quer.
Um abração.

Anónimo disse...

Óbviamente que cada qual escolhe o seu caminho sendo que tal decisão é estimável se revestida de convicção.Mas as coisas são o que realmente são e não o que queremos que elas sejam, num esforço voluntarista inglório, como dizia o "barbudo alemão". Nessa medida se até posso dar de barato a ideia de que vivemos numa pseudodemocracia, também não vejo caminhos concretos de alternativa por esse mundo fora. Como ouvi, há tempos dizer num jantar-conferência ao Fernando Henrique Cardoso (ex-Presidente do Brasil), o Chavez, por exemplo, só significará alguma coisa se souber aproveitar o petróleo para melhorar a qualidade de vida do seu povo e afirmar internacionalmente a Venezuela. Não são as bocas deselegantes ou as "conversas em família" na TV, ou o populismo da desgraça latina-americana que o farão ser referência de coisa alguma. Veremos como é que ele utiliza a riqueza natural para tornar o desenvolvimento do seu país uma realidade sustentável! Pelo que tenho lido presumo que aquilo irá dar um real estoiro, como aconteceu na Nicarágua...
Se a História não acabou, como pretendia o Fukuyama, a nossa existência colectiva será definida por condicionantes imprevisíveis e afirmadas a cada passo. Esta é a incerteza que nos desafia, estimula a imaginação e um olhar para além da evidência imediata. E a política, no sentido nobre do termo, é a arte do compromisso entre tempos curto e longo, razão-emoção, entre os vários interesses, o essencial e acessório, individual e colectivo. Caminhos pré-definidos de futuro, em sociedades artificiais, ditas igualitárias, não me convencem!
Olha, ao menos que frutifiquem as amizades de longo curso como a nossa...

AC disse...

"As coisas continuarão a ser como são
-Nenhuma voz além da dos que mandam"
Brecht
Reside em cada homem a sua vontade ou não de transformar o mundo...que pena tenho daqueles que já não sonham!

alex campos disse...

Claro que o Chavez vai conseguir aproveitar o petróleo. Ele consegue coisas fantásticas, tais como: ganhar eleições, sobreviver a golpes de estado (possivelmente democráticos), ganhar referendos (também possivelmente democráticos), resistir a "greves gerais", daquelas que fazem inveja aos países democráticos que as não conseguem fazer. Enfim. Só o Salvador Allende não teve essa sorte.
Da América Latina tenho a minha visão, forçosamente diferente de qualquer europeu, como é lógico.
(Realmente chamar fascista a um terrorista e não esperar que ele se ofenda)

Anónimo disse...

Caro Xaninho: não pretendo que me dês razão até porque não a pretendo ter! Da mesma forma desejo que acredites no que queres acreditar e que, com isso, te sintas feliz. Sinceramente ! Eu, que nunca acreditei no destino marcado de cada um, também não acho plausível a visão esteriotipada do futuro dos povos.E se isso não me dá felicidade nenhuma, também não me angustia, tal como bem refere o Eduardo Lourenço que, com mais idade do que nós, mantém a lucidez ácida dos inconformados.
Quanto a caudillo Chavez, não nutro qualquer simpatia pelo estilo de star-pimba, embora lhe dê o benefício da dúvida, naquele contexto de subdesenvolvimento...

Anónimo disse...

Outrora, na flor dos meus anos belos,
Também me julgava coisa apurada.
Bertolt Brecht