terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

As "chegas"

Augusto Alberto

Poucos dias antes de ser assassinado em Dallas, Jonh Kennedy quis saber da possibilidade de derrubar o governo brasileiro de João Goulart. Provam documentos, entretanto desclassificados, sob o testemunho de “Arquivos da ditadura”. Daqui se conclui que John só era meigo enquanto esmifrava a vagina da Monroe, porque, quanto ao resto, foi mais um meliante, especialista na “boa” arte da canhoneira.

Entretanto, no mesmo dia em que li estes testemunhos, vi imagens de uma “chega” de bois à transmontana. Colocados os bois frente a frente, encaixam na perfeição os cornos que só se desenlaçam com a fuga do mais fraco. Ora, este é o actual caso da Ucrânia. Palco, preferencial, para o capital desavindo, encaixar os cornos, na ânsia de que um, se sobreponha ao outro. De um lado, a oligarquia capitalista russa, vencedor dos escombros da experiência socialista, que não cede na defesa dos seus espaços físicos, onde há enormes riquezas e do outro, as oligarquias capitalistas ocidentais, que bem conhecemos, com Gaspares, Coelhos, Portas e Seguros, a atacarem na fronteira, onde há carne disponível para o canhão, no sentido de colocar a mão, onde hoje, manda a oligarquia russa.
A traquitana ucraniana é um perigo, porque a oligarquia russa é bruta, e vai responder sem delicadeza e onde mais dói. Por isso, agora em Kiev, parece que estamos perante uma “chega à moda da Ucrânia”. Que “boi” se vai desensarilhar, carregando o fardo da derrota e que ondas de choque sobrarão para os povos, como os que sobraram, entre os anos de 39/45, do século passado?
Chaves em vida “traiu” os manhosos caceteiros de 1989, quando mandou investigar o “caracaço”, que só em Caracas, fez mais de 4.000 mortos. Por isso, “arreceia-se”, tanto a oligarquia capitalista ocidental e americana, como a oligarquia venezuelana, que, presa por uma arreata, convoca de novo meninos, meninas, e senhoras de rostos mimosos, a baterem tachos, para sinalizar a falta(?) de comida. O modelo é o do Chile, de 1973. Então, como é regra nos partidos de poder nas democracias parlamentares, a estrutura do Partido de Allende era eleitoralista e por isso, incapaz de mobilizar gente para vir à rua defender as transformações sociais. Ora, na Venezuela, hoje, a coisa não é bem assim. O fascismo sai à rua e dos morros, para lhe dar o troco, à cidade, descem ainda muitos mais. Por isso, o fascismo na Venezuela vai ter que fazer trabalhos suplementares.
E quem sabe se o actual líder do golpe fascista na Venezuela, Leopoldo López, não é um neto da liderança de Andrés Perez, o amigo socialista de Soares, que há 25 anos, com o “caracaço”, reprimiu violentamente o povo com fome?     
Os diabos são cornudos e o capitalismo também. Desde os primórdios, passando por Kennedy, ou no tempo que corre, de Obama, Merkel ou Barroso. De todo o modo, há sempre quem acredite, que ter um Mercedes e um BMW, é quanto basta para haver democracia. Infelizmente, para os incautos que nada têm.   

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

“As gafeiras” no paraíso*

Augusto Alberto


 Era hora do chã, e um grupo de “tias” tomava o das cinco. Eu também estava presente e logo coquei a enfática conversa e os concomitantes disparates.
-Imaginem -  disse uma, que tinha cabelo volumoso e langorosos traços de rímel – uma mulher arreliada com os preços das coisas e a reclamar que não tinha dinheiro para a compra. Gesticulava que era preciso acabar com isto e promover um sobressalto. E como? Imaginem! Votar na CDU. Nos comunistas! Confesso que até me assustei. Não fosse a mulher, naquele instante, ter a ousadia, também, de me tratar por camarada. Longe vá o presságio. Prefiro viver 100 anos debaixo do mando da troika, do que ver os comunistas com algum tipo de decisão…que despautério!
Não nos admiremos. É muito comum na histórias dos povos as elites fracassarem e esperarem que outros, vindos de longe, possam tirar as castanhas do lume. Foi assim quando a elite cedeu a soberania a Castela, e quando a coroa fugiu, deixando o povo maltrapilho a ser comandado por um inglês, que logo tirou as melhores do lume. E para melhor entendimento, informar, também, que a aristocracia e burguesia russa, atrapalhadas em 1917, aspiravam pela derrota militar e moral da Rússia perante as tropas alemãs do imperador Guilherme, para, como diziam…com a chegada dos alemães…chegar a lei e a ordem…E lembrar, também, que parte da elite francesa capitulou com o governo de Vichy.
Essas “tias” não sei quem são, evidentemente, mas não tenho a mínima dúvida em afirmar, que são “tias” da burguesia peralvilha, convictas dos actuais benefícios. Maior desigualdade na distribuição da riqueza. Os ricos, mais ricos, e os pobres, mais pobres, ainda que para isso se tenham verificado cedência ao capital estrangeiro, do melhor da produção nacional. Pagamento aos mercados (?), de juros usuários. Drástica desregulação das leis laborais, (por primeira iniciativa do P.S. e total complacência da UGT, a central sindical socialista), com custos seriíssimos para os trabalhadores. Baixa do custo unitário do trabalho. Aumento exponencial da emigração, ao nível da dos anos 60 do século passado. Acelerada desertificação do país. Desaceleração na natalidade, colocando riscos sociais e demográficos.
Dizia o cristão (?) cónego Melo, no intervalo da pólvora e traulitada, mancomunado com socialistas moderados (?), sociais-democratas (?), e cristãos (?), do CDS, à vez, ou por atacado, que a democracia e a soberania, são uma ova e um enfado.
E tomando a lembrança, disse, ainda, para rematar e sem prever, me danar, uma outra senhora, com unhas de gel e grosso anel: Se for preciso, aos insurrectos, dá-se-lhes chumbo.
     - Reagi! Então, dona! Isto vai-lhe a preceito, mas ainda não recuamos à “gafeira”. (Arquétipo, do criminoso Portugal fascista. - “Só no ano passado, emigraram da freguesia dezanove famílias inteiras, calcule Vossa Excelência”- Regedor da Freguesia, 1778). Em “Delfim”, de José Cardoso Pires.
- Não me diga, que o senhor, ai, é camarada?
- Sou sim e depois?
   

     * Não desligue, porque a história é verdadeira.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Toda a vida é dívida, toda a vida é fado

Augusto Alberto


Anos após Hitler receber o poder democraticamente, recorde-se, oferecido pelo voto do povo alemão, Goebels, assistiu a um concerto dado pela Filarmónica de Berlim, dirigida por Wilhem Furtwangler, em honra da Juventude Hitleriana. Primeiro, o mestre botou palavra, perante grandes dignitários civis e militares do fascismo alemão, e depois ouviu-se a 9ª sinfonia, como muito bem mostra, a propósito, um documentário que passa, amiúde, no canal Mezzo. Furtwangler, à época, era figura maior da cultura alemã, contudo, não é certo o seu affaire com o fascismo. Todavia, por cá, os opinadores de colarinho branco, sem receios e restrições, colaram-se aos poderes reinantes, ainda que nenhum, apesar da cagança e jactância, se aproxime do nível de Goebels. Mas não se julgue que não fazem mossa. Fazem, sim! Por isso, alguns Goebel(zinhos) domésticos, que bem conhecemos de ginjeira, afadigam-se na tese da recuperação, omitindo, contudo, o essencial da questão. E ela é... o programa cautelar, foi o manto diáfano, que permitiu cavalgar a baixa do custo unitário do trabalho e a transferência da maior parte da riqueza produzida, para um punhado de bandidos, em linha com a filosofia “fascista”, de catapultar algumas famílias, a donas da nação.
Alexandre Soares dos Santos levou vantagens fiscais, que depositou na Holanda. A Mota-Engil, mais o futebol doméstico, usufruíram de gordas subvenções. No primeiro caso, 8.142 milhões de euros e no segundo, 9 milhões. Contudo, após anos de tarraxa, o défice achado para o ano de 2013, ficou em 5.6%. Seria suposto ficar em 2%, na hora da despedida. A divida soberana da nação, trepou de 127%, para 129%. E aqui reside a mãe de todas as pérfidas. As maturidades em referência à divida da Nação, foram as que mais renderam aos credores internacionais, 6.6%. Mais dos que as maturidades grega, espanhola ou irlandesa. Ora cá está, por que razão, as hienas consideram a divida soberana portuguesa um figo maduro e por isso, não abdicam de a trazer inscrita no excel, segura por uma corda, a arroxear os nossos pescoços.
Salazar e o fascismo dirigiram esforços e muitos meios, para a criação de grandes monopólios industriais, mas agora, este “fascismozinho”, saído do 25 de Novembro de 1974, remete riqueza e meios, para as áreas da saúde, ensino e distribuição. Uma espécie de fascismo de merceeiro, que inexplicavelmente colhe o apoio eleitoral da maioria dos portugueses, como colheu, dos alemães, Hitler e o seu Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães.

Desenganem-se os que acham que o actual estado democrático, é neutro. Pelo contrário, é um estado de classe, que protege gente cavernosa e mal cheirosa, tal como o estado fascista alemão protegeu a elite industrial e financeira, arruinada e dilacerada por múltiplas contradições. Por isso, toda a vida é dívida, toda a vida é fado.

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Mondego que une

Augusto Alberto



Terra danada, esta. Dirigida por uma elite bafienta que procura, viciada, os raios de sol que a aqueçam, na razão oposta da friagem das suas ideias e compromissos. Ao ponto de ir por aí uma discussão troglodita, a propósito de um assunto sério, como é o caso, que tende a filar um novo clube, sobre os escombros da Associação Naval 1º de Maio. Qualquer coisa, como Naval 1893. Se assim for, a estultícia é grande. Porque “Naval”, indica água, barcos, (as gigas), homens e rio. Como Cachola, que no apogeu da vida, em1933, se colocou na condição de herói insano, porque a meio de uma regata, e na sequência de um acidente técnico, sem saber nadar, se atirou à água, para ser recolhido cadáver, horas após, agarrado ao pegão da velha ponte, que ligou a cidade à Ilha da Morraceira, no caminho para sul.
Ou ainda, o grande Edmundo, de quem disseram os ingleses do Rowing Clube de Londres, presença assídua nas majestosas regatas Internacionais, (com as margens cobertas de gente, digo margens, sim, que faria, hoje, inveja a muita assistência em jogos das ligas profissionais de futebol), ser o remador mais bravo que alguma vez observaram.
Ou ainda Zezinho, o terrível, o último da primeira grande geração de remadores da cidade. Ou bem mais perto, Manuel Parreira e Luciana Alçada, ambos finalistas nos respectivos campeonatos do Mundo.
E reafirmar que foi precisamente devido à obsessão pelo futebol que a Associação Naval 1º de Maio se tornou irrelevante, do ponto de vista patrimonial, do ponto de vista dos quadros, que são peças fundamentais em qualquer projecto desportivo, e vai a caminho da irrelevância desportiva e social.
Ficarão parcos registos, porque os melhores foram devorados pelas chamas, e a memória, que se apagará inexoravelmente, por morte biológica, de um clube que congregou os figueirenses, não só no Rio, mas também nas tardes de futebol, (esse sim, jogado por gente da nossa terra), no velho campo da Mata, (Tó Pinto, Pinto Machado, emérito guarda-redes e remador) e outros, mais tarde também, no estádio municipal, nas matinés dançantes, e nas da ginástica acrobática, no teatro, com o exclusivo “Casamento da Vasca”, nos jogos de basquete, (no S. Siro), de Ténis de Mesa, ou no tiro de sala, na sua engenhosa carreira de tiro, tudo, na velha sede da Rua da República, que também serviu para tratar e confortar combatentes chegados em péssimo estado, da 1ª guerra mundial.
É imperioso deixar de apoucar e arreliar a história, que é quase o pouco que ainda resta, e perceber que as soluções para resolver o problema de uma colectividade, com mais de 120 anos, não passa por acabar com ela, e sobre os seus escombros e a sua história, construir uma outra, rebuscando o substantivo e a data, (1893), para prosseguir um modelo que se revelou inábil, mas manter e reforçar o pouco que ainda resta e acabar com o futebol profissional, que foi quem colocou a Associação Naval 1º de Maio, no estado de catalepsia, há custa de promessas e do recrutamento de gente, calçada com sapatos de pelica ou chuteiras, muita dela, sem saber que a cidade tem um rio, que não sendo maior do que outros, é, contudo, o rio mais belo.

O destino de uma colectividade com mais de 120 de vida, não merece esta discussão troglodita, porque, Ela, pode para acabar mal.