quarta-feira, 30 de março de 2011

A deselegância de Lula

Estou consternado.
Primeiro porque partilho de uma opinião com a cavacal figura que exerce o cargo de presidente da república portuguesa. Não me fica nada bem.
Segundo, porque Lula, o ex-presidente do Brasil, cometeu uma deselegância para com o eleitorado português.
Explico:
A cavacal figura diz que tem uma “admiração imensa” pelo ex-presidente brasileiro. Talqualmente eu. Depois, tendo eu essa admiração pelo ex-sindicalista nunca esperei que ele manifestasse uma insensibilidade tão grande ao ponto de contrariar o desejo desse eleitorado. Ou terá sido, somente, uma gafe diplomática?
Desancou Lula no FMI, precisamente no país onde o povo aspira solenemente que a dita organização de malfeitores assente praça.
Diz Lula que o famigerado FMI arranja mais problemas do que aqueles que resolve. Quase um lugar comum, toda a gente sabe. Só que julgando pelas últimas sondagens, que dão a vitória precisamente ao partido que derrubou o governo em exercício, possibilitando ainda mais aos “mercados que nos governam” uma maior ênfase na especulação, só se pode deduzir que o eleitorado tem o FMI em boa conta. Sabendo-se ainda de antemão que a política a aplicar só poderia ser a mesma. Há que ter em conta, segundo essas sondagens, que PS e PSD atingem uma marca acima dos 70%. Sem contar com os seus satélites.
Sempre esperei que Lula tivesse um pouco mais de diplomacia, o tal terreno onde nem sempre as verdades são convenientes. Mas enfim. Não é por aí que deixo de admirar o homem.
Também o “imperador” Obama declarou guerra à Líbia durante uma visita oficial ao Brasil
Pelos vistos há mais sítios onde existe porco preto.

terça-feira, 29 de março de 2011

Coisas triviais

Augusto Alberto

À socapa, pelas 5 da manhã, jovens de cara tapada, decidiram denunciar um roubo de 13 milhões no salário mínimo, colocando tarjas em algumas sucursais do Banco Português de Negócios. E disseram ainda: “somos gente cujo investimento e sacrifício dos pais na nossa educação resultou em desemprego e precariedade”.
Eu, que estou para além dos 60, aplaudo. Contudo, deixo um reparo. No meu tempo, o tempo era bem mais difícil e coisas semelhantes foram feitas de cara destapada. Como seria bom, neste tempo de democracia, que soubéssemos quem sóis, para sabermos com quem andastes.
Entretanto, também à socapa, o ministério do Ministro Alberto Martins, resolveu “parabenzar” a própria esposa, por feitos distintos, com uma verba de 72 mil euros. E ainda o seu amigo e amigo da sucata, alto quadro do Partido Socialista, Armando Vara, foi também parabenzado com choruda maquia, pelo BCP, para evitar que se fosse vender à concorrência. Há quem diga que a concorrência, se falarmos de um produto, obriga à baixa do preço, mas aqui, pelos vistos, concorreu para a ladroagem. É conforme o ponto de vista.
E se é amante do golfe, essa coisa vagamente desportiva que cativa presidentes de todo o tipo, antigos e actuais banqueiros, e toda a casta de gente de bem, da República ou levemente da monarquia, já sabe, não deverá mudar, porque o governo prepara a baixa do IVA para 6%. Continue calçando aqueles sapatinhos de vela e vá tacando, porque a noite chegará e não resistirá, depois do esforço, à vontade de uma nobre ceia. E após, o charuto e um gole de uísque, trarão a clareza das ideias, que em regra, concorrerem para nos fornicar.
Mas se vive junto a quartel militar ou da polícia, não se sinta, ainda assim, seguro. Inaugurado em 2007, o edifício construído de raiz para albergar os serviços da antiga Junta Autónoma de Estradas, hoje, Estradas de Portugal, junto ao Palácio de Queluz e do Regimento de Artilharia Anti-aérea nº 1, pelo valor de 1,5 milhões de euros, está abandonado e posto à guarda da tropa, mesmo ao lado, nem por isso deixa de estar à mercê da destruição. Em linguagem muito popular, direi que o nosso dinheiro, nestes instantes, é elevado à categoria de trampa e a guarda da coisa pública, é uma merda.
É por causa destas e de outras coisas, mais do que triviais, cavalgadas por amigos do Presidente Cavaco, e demais gente do PSD/PPD, mortinhos por serem eles agora a abocanhar o poder politico, para logo aconchegar um pouco mais a barriga do poder económico, e por sábios dirigentes e ladrões do Partido Socialista, que convêm cavalgar sobre a inevitabilidade dos PECs, como se todos tivéssemos responsabilidades iguais nesta chafurdice em que vivemos, e na famosa teoria de que afinal os partidos são todos iguais. Que jeito dá a estes espertos e ladrões, a assunção ideológica da inevitabilidade e da igualdade da coisa.
Como sempre, burro velho, calejado em muitas lutas, alerto os jovens com ou sem capuz, se tiver a honra de ser lido, de que não será coisa boa, lá para final de Maio ou principio de Junho, repetir, creio, alguns passinhos dos paizinhos, sob pena daqueles que os tornaram precários se sentirem legitimados a ir um pouco mais além, colocando-os, um patamar acima, na condição de escravos ou em última instância, na condição de emigrantes, essa condição que teima em não acabar.

domingo, 27 de março de 2011

As eleições no Sporting e a comunicação social


Independentemente de quem ganhou, ou perdeu, as eleições para a direcção do Sporting, quem ficou mal na fotografia foi a comunicação social.
Acompanhei, de quando em vez, é certo, a transmissão em vários canais. Foi até à exaustão, o que é uma enormidade, só por si. Mas desde a possível, mas mais que provável vitória da Lista C, desde a notícia, em última hora, da vitória da referida lista foi uma correria à informação em primeira mão, sem atender à verdade dos factos.
Pelos vistos, nunca a Lista C, encabeçada por Bruno Carvalho, aliás a lista da minha preferência, devo dizer, liderou o sufrágio. E nunca houve informação por parte das entidades competentes do clube, ou da respectiva comissão eleitoral, nesse sentido.
Desta vez a comunicação social que temos denunciou-se pura e simplesmente, quanto aos critérios por que se rege, no maior atropelo quanto aos seus códigos deontológicos, morais, de isenção ou o que queiram.
Não admira que a opinião pública esteja convencida dos intentos humanitários do imperialismo quando destrói o Iraque, por exemplo, ou quando vai em defesa dos indefesos civis líbios. Ou que nem sequer tenha noção do que aconteceu nas Honduras, em 2010.
Quanto ao meu desalmado Sporting… enfim. Lá continuará refém da banca. Mas no estado em que chegou penso ser impossível que desça mais. Apesar de pensar que estará pior que o país, “pois este sempre tem o FMI para o socorrer”. Só que no pontapé no coiro não há FMI.
Agora que seria preciso fazer chegar ao Sporting os princípios básicos da democracia, já ancestrais, lá isso era. Um homem, um voto.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Enquanto que...

Enquanto a “democratização” da Líbia prossegue e os meus correligionários sportinguistas andam baratinados sobre que treinador ou jogadores escolher amanhã, tal a fartura, a Ângela foi perfeita no seu papel. Talqualmente uma actriz, fez-me mesmo lembrar Meryl Streep no papel de Sofia Zawistowski. A senhora alemã foi convincente ao fingir-se solenemente chateada com a pseudo-guerra civil travada pela Direita, em Portugal. Uma dramatização perfeita.

O ataque à Líbia com a desculpa esfarrapada de salvar civis, é uma reprise da destruição do Iraque com o argumento das armas de destruição massiva. Quantos inocentes, mulheres e crianças foram assassinados? Quantos inocentes, mulheres e crianças vão ser assassinados? Ainda renderá, seria o primeiro na História a repetir, outro prémio Nobel da Paz ao Obama. Atendendo a que, em 2010, o homem, que não perde tempo, patrocinou já o derrube pela força de um governo democraticamente eleito, substituindo-o por uma ditadura. Sim, sim, nas Honduras. Pode-se dizer que a eloquente besta se porta à altura. Na Colômbia continua em cena a mesma peça. E por aí fora.
Não se pense que estou a defender o Kadafi. Acho até que é bem feito, pois andou a apaparicar e financiar o capitalismo internacional. Só que quem sofre é sempre o mesmo. E o povo líbio está inocente.

Quanto ao meu desalmado Sporting, também não quero deixar de emitir opinião, apesar de já não ser sócio. Qualquer dos quatro treinadores anunciados me parece minimamente atraente, mas, por exclusão de partes e cingindo-me às candidaturas, tenho de manifestar uma leve inclinação para que Van Basten seja o treinador da equipa na próxima época. Poderia era ter havido mais imaginação e mais discussão sobre o clube.

Agora o teatro da Ângela é que me parece estapafúrdio. Mas ultrapassou largamente em expressão artística a guerra encenada nos arrabaldes. Até porque os sacrossantos mercados até agradeceram: aproveitaram logo para continuar a especulação, razão única da sua existência. Mas não havia necessidade. Os "beligerantes" ainda se encontrarão no poder, pazes feitas. Maldita comédia.

Enquanto o Obama mais a Ângela poderiam ir para o raio que os partisse… que viva o meu Sporting.

quarta-feira, 23 de março de 2011

O pai

Terra de semente inculta e bravia,
terra onde não há esteiros ou caminhos,
sob o sol minha vida se alonga e estremece.


Pai, nada podem teus olhos doces,
como nada puderam as estrelas
que me abrasam os olhos e as faces.


Escureceu-me a vista o mal de amor
e na doce fonte do meu sonho
outra fonte tremida se reflecte.


Depois... Pergunta a Deus porque me deram
o que me deram e porque depois
conheci a solidão do céu e da terra.


Olha, minha juventude foi um puro
botão que ficou por rebentar e perde
a sua doçura de seiva e de sangue.


O sol que cai e cai eternamente
cansou-se de a beijar... E o outono.
Pai, nada podem teus olhos doces.


Escutarei de noite as tuas palavras:
... menino, meu menino...


E na noite imensa
com as feridas de ambos seguirei.

Pablo Neruda

sexta-feira, 18 de março de 2011

Com um coice

Augusto Alberto

Com um coice, um tipo chamado Sócrates alcandorado a primeiro-ministro, para levar a água ao seu moinho elegeu a função pública como responsável por todos os males da pátria. Evidentemente que todo o bom cabresto e cabrão, armado em politólogo, analista e comentador, ficou em êxtase. Tinha chegado o homem providencial e afortunado. E muito povo também achou que sim. Clamou-se pelo fim da função pública, numa alarvidade sem precedentes, sem que nenhum cabresto na arte de opinar tivesse a coragem de dizer basta, porque tamanha alarvidade só pode trazer o caos. Ora acontece que os funcionários públicos, debaixo de fogo cerrado e canhestro, às mãos do partido socialista, porque estas coisas nunca são obra de um homem só, não passaram de ratinhos no laboratório das experiências sociais, sem que muito bom povo tenha percebido que estávamos na alvorada de uma triste sina. Ou seja, tudo o que se experienciava com os funcionários públicos seria, mais cedo do que tarde, colocado em marcha, apanhando todas as camadas e sectores sociais. Nem de propósito. Primeiro roubaram nas pensões acima dos 1.500 euros dos funcionários públicos e logo após, amadurecida a medida no clorofórmio do laboratório público, desceu ao sector privado e ainda foi um passo adiante. Todas as reformas, públicas ou privadas, mesmo as que são uma parca vianda, que tem o único condão de evitar que se morra de um estoiro, serão sujeitas a um travão durante os próximos anos.
De que se queixam agora, filhos? Sim, de que se queixam? Se não sabem, então é bom que fiquem a saber ainda um pouco mais. Foi mais ou menos por essa altura que também se começou a vender a famosa teoria de que, emprego para toda a vida, jamais. Isso foi coisa do socialismo e por isso, está nos baús da arqueologia das ideias e antropologia. Uma finta. Só uma finta, porque essa ideia logo cavalgou. Muito empregador, esperto, tratou em dar um passo mais à frente. Cavalgaram sobre licenciados, com estágios de meses e anos a fio, sem uma leve remuneração. Cedência do saber luxuoso e escravo, porque logo à porta outro se posicionava para a renovação do ciclo. Ou ainda, trabalho pago miseravelmente, com o recibo verde a levar para as finanças e segurança social, metade, ou mais, do magro soldo. Há gente tonta, bem sei, mas tenham paciência. Em primeiro, deverão queixar-se de vós próprios, porque durante anos acreditastes nas muitas milongas e cedestes sem um coice. Sabem, o mundo não é coisa imaterial e por isso, quem vos vendeu as patranhas da impossibilidade de emprego para o resto da vida e da inevitabilidade do trabalho à peça, e as embrulhou no fino conceito do fim das ideologias e da luta de classes, enganou-vos e está a fazer de vós, se não reagirdes desde já, não a geração à rasca ou parva, mas a geração assexuada, que são todos aqueles que são incapazes de copular, na esperança de fazer um mundo melhor.
E quanto aos nossos amigos socialistas, o que dizer? Espera-se que alguns aguentem uns coices, mesmo que isso rache algumas cabeças. Por mim, dia 19, sábado, lá estarei para contribuir para as estoirar.
Politicamente, claro está.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Balha-nos Deus, nosso senhor!!!!!!

Que os filhos da puta que o imperialismo coloca, quando consegue, como presidentes de algumas repúblicas da América Latina não conheçam absolutamente nada da História dos seus países, nem dos seus próprios povos, ainda se tolera.
Agora, um país com 8 séculos de História, na Europa, com a possibilidade de eleger o seu presidente, eleger um pascácio, acho inqualificável.
Nasci e cresci no interior norte de Angola. Tinha já 5 anos quando pela primeira vez de lá saí, para ir a Luanda. Convivi durante anos com soldados portugueses. Um deles, dias após o “25 de Abril”, safou-me, e a um amigo que os provocou, de levarmos uma valente carga de porrada de quatro esbirros da PIDE. Das conversas ficou a imagem de jovens revoltados, fartos, desiludidos, cientes de que aquela guerra não lhes dizia respeito. Não tinham nada a ver com aquilo, desabafavam.
Nunca tive a percepção, portanto, que os soldados portugueses tivessem assumido a sua participação na guerra que o fascismo infligiu aos povos africanos com “desprendimento e determinação”.
Que os fascistas não tenham ideias e sejam imbecis, também não será coisa que me incomode. Agora que ostentem, chateia-me solenemente.
Um desconhecimento total e completo da História recente do seu próprio país. Inadmissível. Mas parece que temos o Tomaz reeditado.

terça-feira, 15 de março de 2011

Quem vai alombar?

Augusto Alberto

Disse Jorge de Sena: “Um burro nasce burro e ao fim de vinte anos não é cavalo”.
Nesse sentido foi muito curioso anotar dois tipos de jornalismo durante a jornada de sábado. O primeiro, durante a manifestação que levou uma das jornalistas da RTP ao esmero ideológico de repetidamente perguntar: - então a senhora está aqui contra os partidos? Aparentemente, quis fazer um jornalismo que baliza uma sociedade assexuada ou inorgânica. Mas ela bem sabe que isso não é assim, porque a sociedade é estruturada e move-se. A outra, após a manifestação, cumpriu a segunda parte da estratégia. A defesa canina da subida ao poder do PPD/PSD. Ou o circulo que se fecha em definitivo e que culmina o grande objectivo que a direita persegue há 37 anos. Um presidente, uma maioria e um governo. Ora cá está, afinal, como a sociedade é orgânica e nada assexuada. Em boa verdade a rapariga larocas foi ao frete.
Que se desengane, então, quem pensa que quem dirige, se enganou e por essa razão, nos colocou neste estado lamentável. Aliás, dando crédito, não me engano se disser que muitos dos que passaram pelas manifestações de sábado, de certeza deram, com o seu voto, o aval necessário para a construção da sociedade de que agora reclamam. Poderemos dizer, então, sem receio de errar, que há enganos, sim, mas unicamente dos que constantemente têm votado contra si próprios, de tal modo, que encurralados, se sentiram na obrigação de descer a avenida. Mas logo, sem truques, e de modo descarado e persistente, foi muito útil ver como os comentadores após a manifestação, cumprindo a preceito o papel, salivaram como o cão de Pavlov, porque está a chegar o dia da troca dos rapazes, em linha com um presidente, uma maioria e um governo. Sem rodeios, e no devido tempo, falaram da urgência do enterro do P.S, (só mais um), e no inicio da nova maioria, omitindo as propostas do PPD/PSD, não vá o diabo atrapalhar, que são de uma ignóbil crueza e que a serem aplicadas, são o pontapé para o lado, no banco onde ainda temos os pés, que impede o fecho, definitivo, do laço que o P S. nos colocou à volta do pescoço, após anos a construir o nosso cadafalso. A saber:
- parcerias privadas na área da saúde, consubstanciando a celebérrima teoria reaccionária de um ex- ministro do PPD, que disse: -quem quer saúde, paga-a. Ao jeito, evidentemente, do grupo Mello. A extinção pública da RTP, obedecendo a um velho desejo do velho reaccionário, Pinto Balsemão, que visa o completo controlo privado da informação, tanto pela vantagem ideológica como económica.
-As parcerias privadas no ensino, escavacando o ensino público, e prosseguindo um ensino elitista.
-Tornar o mercado de trabalho, mais selvagem, com relações muito mais desfavoráveis para quem trabalha, com contratos orais ou mesmo pagos à peça, contrariando o desejo expresso na manifestação, etc.
Volto a repetir que quem dirige nunca se engana e é por isso que os ricos desta amada pátria, estão mais ricos e os pobres mais pobres. Então, em definitivo, falar de burros, é falar de quem alomba. E quem vai alombar, vão ser os nossos netos, bisnetos, trisnetos, e por ai além, que pagarão com a língua esticada, o enriquecimento imoral de quem de momento, faz parte da lista da “Forbes” e ainda de todos aqueles que por artes, com classe e de “classe”, fogem ao magnânimo contributo para deixarmos de ser o país “à rasca”, ou simplesmente, “rasca”.

Nem tudo é mau

Diz o Sócrates...

cartoon de FCampos   (com um fabuloso entremez)

..."defender Portugal significa ganhar a confiança dos mercados financeiros."

Confesso que não consegui, e também não quis, diga-se em abono da verdade, ouvir mais.
Acho que chega. Ou não o compreendi bem, ou não estou em sintonia com a filha da putice.
Das duas três.
Defender Portugal é mandar os mercados financeiros para a puta que os pariu, digo eu.

O Jasmim e o resto

Penso eu, poderei até ser influenciado por de ideias pré-concebidas, posso admitir, que as revoluções, manifestações, ou qualquer outra reacção contra o poder instituído são sempre possuídas por uma carga ideológica.
Não sou tão inocente ao ponto de acreditar que aquelas inconstâncias sociais no norte de África sejam fruto unicamente da vontade popular e que apareceram por geração espontânea. É cedo, muito cedo mesmo, para se perceber o que está por detrás daquela coisa toda, quem lidera aquilo. Relevo, evidentemente, a questão da Líbia, uma questão muito à parte.
Na questão da Tunísia e do Egipto chegou-se a considerar, a imprensa que temos, “ventos de mudança”. Sabe-se, ou por outro lado, apesar de não se saber bem o que lá se passa, é que no Egipto a classe que dominava continua a dominar, “malgré” o homem dos americanos ter ido embora. Na Tunísia, idem.
Se essas “revoluções”, de jasmim, ou isso, foram aparentemente promovidas por geração instantânea, via feiçe buque ou coisa parecida, quase que sou tentado a pensar que as manifes da “geração à rasca” foram uma caricatura destas.
Primeiro, porque ainda há pouco mais de um mês tivemos um acto eleitoral (que no norte de África não tiveram) e o resultado foi que as forças do poder instituído foram as grandes vencedoras. Parece-me estranho que um mês depois haja um descontentamento assim tão grande.
Segundo, acreditando nesses manifestantes todos, acreditaria que estão reunidas as condições para se encontrar um novo rumo e uma nova política para o país, pois no próximo dia 19, ou seja, no próximo sábado, a manifestação da central sindical será uma avalanche medonha, tipo tsunami, comparada com as manifestações que levaram às mudanças na Tunísia ou no Egipto.
Vamos a isso?

terça-feira, 8 de março de 2011

A manha de quem nos quer tornar parvos e capados

Augusto Alberto

Em breve os jovens que estão à rasca, descerão à rua, nesta pátria maior, porque perceberam tarde que, afinal, nasceram para ter uma vida menor. Fazem muito bem. Já não é sem tempo. Contudo, quero, mais uma vez, colocar-me na posição de desalinhado.
Desde sempre, mesmo nos tempos do fascismo, houve gente que se manifestou e tomou partido, e, claro está, nesse tempo o cassetete no lombo foi a recompensa mínima. E depois do 25 de Abril, também. Eu próprio participei em muitas, contra o rumo que as coisas começaram a tomar e nos colocaram aqui, à rasca. Nesses instantes, lembro que houve quem gritasse: “vão trabalhar madraços”. E ainda: “há por ai muita terra para cavar e paredes para levantar”. Sim senhor. Mas a questão sempre foi, e ainda é, a de saber para quê e para quem se destina o produto do trabalho. Mas, a este propósito não me enganarei se disser que provavelmente muitos dos que gritaram são os pais dos muitos meninos que hoje estão à rasca. Ora cá está, como a partir do quadrado se poderá chegar à construção do círculo. Por isso, eu sugiro que os jovens à rasca que se preparam para um acto de pura cidadania comecem por perguntar aos pais o seguinte: “que país ajudaram a construir”? “Que partido tomaram”? Não vale andar ao engano, porque, muitos pais e filhos seduzidos pela possibilidade de aceder às migalhas do banquete, só agora perceberam que afinal, não há migalhas. Tomar partido é estar alinhado. Ou ficar pela omissão. Ou deixar andar. E curiosamente, alguns que durante estes anos, por esses modos, ajudaram a construir esta pátria à rasca, escandalizam-se pelo facto dos comunistas já terem anunciado a participação na manifestação. Isso não é sério.
Quem melhor do que os comunistas para saber o que custa, sempre sem claudicar, tomar partido contra o mundo dos que hoje se opõem à taxação dos lucros frenéticos da banca, num tempo de míngua para o povo, denunciando quem defende todos os sacrifícios para o mundo do trabalho, denunciando quem defende o emprego precário, do recibo verde, dos estágios sem remuneração?
E quem clama, desde sempre, pelo aumento da produção nacional, sem a qual não há independência e salvação? Por isso, impedi-los de participar, é o mesmo que cortar a árvore que regenera o ar que respiramos.
Neste instante de luta e resistência, não esqueço as razões porque sempre tomei partido. Porque quando tive 20 anos, nas várias tentativas de me emancipar, a pergunta clássica, foi: “já foi à guerra”? Pois é, também eu já estive à rasca. Por isso, sem ser parvo, lá estarei no dia 12/3. Voltarei no dia 19/3, para continuar, sempre a tomar partido, pela geração à rasca e por todos os outros que à rasca estão.
Saibamos então, que a teoria de que todos são iguais, é só mais uma manha para nos tornar parvos e capados, capaz de nos fazer crer que a barricada só tem um lado.

8 de Março

Por demais conhecido o significado desta data. E, como muitas outras será esquecida durante o resto dos dias do ano, numa sociedade que cada vez mais vai perdendo cada vez mais valores. Mas não resisto a fazer-lhe, novamente, referência. Com uma frase de uma grande mulher, como se todas elas não fossem grandes: "Se a mulher não existisse, os homens tê-la-iam inventado".
E com uma canção, embora da autoria de um homem, interpretada por outra.

domingo, 6 de março de 2011

PCP: 90 anos

90 anos de lutas e resistências. Mais de metade na clandestinidade. Onde a história se fez de lutas, perseguições, prisões e mortes. Foram dezenas de militantes comunistas – homens, mulheres, jovens, operários, empregados, intelectuais – que foram assassinados pelos esbirros do regime fascista. Através da tortura ou traiçoeiramente, a tiro.


O exemplo dos que deram a vida por um ideal, e de muitos outros torturados mas que escaparam, é um património do PCP. De que o partido só se pode orgulhar.

Único partido que resistiu à implantação da ditadura, os comunistas estiveram sempre, quase sempre sozinhos, na vanguarda da luta contra o regime.

A canção que se segue, de Zeca Afonso, da qual não existia registo em vídeo, é uma prenda de Samuel aos militantes e simpatizantes do “partidão”.

sábado, 5 de março de 2011

Vai ou não vai?


Não será por acaso que estas recentes convulsões movidas a redes sociais, por agora chamo-lhes assim, (não sei, não se sabe, o que aquilo vai dar) que têm ocorrido, sobretudo no norte de África, o tenham em “países amigos”.

Sabe-se é que a coisa tende a estender-se. Inclusivamente partidos da Internacional Socialista no poder também começam a sofrer contestação. Isto se atendermos a que o regime deste senhor e dos seus kambas (o amorim das cortiças, o coelho do pêésse, e o mota & companhia) está com medo das redes sociais. Nem mais. Consta mesmo que nos últimos dias os telemóveis terão deixado de funcionar.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Porque é possivel, sim senhor

De modos que o futebol é qu’induca







Há dias tive a feliz e rara oportunidade de ver uma exposição de Vincent Van Gogh. Feliz e rara, mesmo. Muitas das obras expostas são de colecções particulares, o que quer dizer que a possibilidade de alguém as ver, ou tornar a ver, tão cedo é diminuta. O bilhete custava 12 euros, mas o passe para os transportes públicos tirado para vários dias dava-me entrada gratuita nos dois primeiros museus e um desconto nos seguintes. Daí que o mergulho no frenético mundo d’”o homem da orelha cortada” ficou-me pela módica quantia de 8,50 euros.
A sensação é manifestamente indiscritível. Única, como única é cada superfície que olhamos.
Isto vem a propósito das salas de troféus dos grandes clubes do pontapé no coiro se chamarem, agora, “museus”. Até aqui nada de mais.
Só que numa crónica de Nuno Ribeiro, hoje no jornal “Público”, fiquei a saber que visitar o “museu” do Real Madrid custa 16 euros, mais dois que visitar o Museu Van Gogh de Amsterdão, e visitar o “museu” do Barcelona custa mais 4,50 euros do que o ingresso para o Museu do Louvre.
Não sei quanto custa a visita às salas de troféus, “museus” perdão, do FC Porto, Benfica ou Sporting, mas também não estou interessado em saber. Na Gulbenkian sei o preço, certamente mais barato, suponho eu.
O cronista acaba assim: “Ninguém duvida que Leo Messi é um artista. Mas não é Ticiano ou Michelangelo, Goya ou Rubens. Quando marca, Messi está feliz, mas não é seu o sorriso de Monalisa. Falta sensatez, portanto. Excessos de bola”.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Carrega na pedra para baixo



Augusto Alberto

A WikiLeaks, desta vez utilizando o semanário Expresso, deu-nos notícias espessas. Que só nos podem envergonhar, evidentemente. Nesta matéria só tenho uma dúvida. É se o “espesso” consegue ir para lá do chinelo. Quer dizer, se o “espesso” consegue confessar pecados que estão para lá das administrações socialistas, porque também o Partido Social-Democrata, do patrão Balsemão, foi governo da nação.
Mas deixem-me dizer que também eu, antes da WikiLeaks, tive acesso a outros telegramas. E que telegramas são esses que a WikiLeaks não tem? Os seguintes: “ …na criação de novas estruturas, à semelhança do que se praticava na Holanda e na Inglaterra, estaria a garantia de alguma salvação para o império português”. Isto foi o telegrama de Padre António Vieira enviado ao rei de Portugal no ano de 1671. E na sequência, o rei mandou reunir as cortes, pediu ainda a opinião aos Bispos e Universidades, que se demonstraram desfavoráveis à proposta, porque santa inveja, isso permitiria aos endinheirados cristãos novos, escorraçados pelos padres, de voltarem à nação. “ E entretanto, ontem, na Rua de…caiu inanimado de fome um individuo bem trajado. Conduzido para uma botica próxima, o infeliz revelou toda a verdade – era o embaixador português. Deram-lhe logo bifes. O desgraçado sorria, com lágrimas nos olhos”. Este foi um telegrama de Eça de Queirós, publicado em 1890, nas Farpas. É quase o que se passa hoje com os actuais funcionários diplomáticos na nossa embaixada na Suíça, que parece, também correm famintos e envergonhados e por isso, como sugere Eça, dêem-lhes menos títulos e mais bifes. E ainda nos disse que: - “sua majestade a rainha passeava no Aterro. Um mendigo vem junto dela e pede-lhe uma esmola. Um polícia corre e prende o mendigo. O desgraçado, retido todo o dia na esquadra policial, com fome e frio, tem uma dor. Foi necessário mandá-lo para o hospital. Não se sabe ainda se o fuzilarão…Sua majestade, cujo vestido de veludo ornado de peles era perfeito, continua serenamente na serenidade da tarde”. Porra, hoje, há por cá quem vista “prada” ou “armani”. Quase tal e qual.
 
Lendo com alguma distância o que foi dito, sempre digo que pouco é novidade. Gente esperta. Sentada à espera de água de coco, metidos a doutores, como esse Rui Machete, corrido por vaidade e peculato, da Fundação Luso-Americana. Mais um do séquito do Cavaco. Mais Rainhas, Reis, Ministros, padres, banqueiros, alguns intelectuais, nunca quiseram, nem querem que o país mude. Pelo que só me resta concluir: sendo a coisa endémica, a pátria sempre esteve entregue, e continua, a elites de fancaria, que têm uma especial habilidade para puxar o saco. Não se esqueçam que um dos figurões da praça é conhecido pelo “bolsa na mão”. E infelizmente, este povo amante das coisas divinas, que há muitos séculos, como diz ainda Eça no telegrama, “tem um clero que carrega na pedra para baixo”, eu acrescento, mais as suas elites financeiras, económicas, politicas e alguma elite intelectual, utiliza de 4 em 4 anos o seu votinho para carregar ainda mais.
E as elites da caca agradecem. Evidentemente.

terça-feira, 1 de março de 2011

Apitos há muitos...

cartoon de F. Campos


...ou, se não houver, é porque sofrem de mimetismo.
Como alguém já disse, a História é um julgamento. Ou o Calabote revisitado.

Metapoema

DESTEMPERO

Um poema cru
poema sem tempero
poema cruel
reflexo da vida
vida crua
destemperada
vida cruel
cruel como o poema
sem tempero consumido
de vidas consumidas.




Este poema foi escrito logo depois do poeta ter lido o "Confissão", de Alda Lara.
Mas, segundo alguns critérios, não é bem um metapoema. É o próprio autor, Jorge Willian, que levanta a questão que só pode ser debatida por especialistas. Que se pronunciem, pois seria uma discussão fascinante.