quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Pessoal, bora aquecer pó rabaion!!!!





A "aldeia olímpica" deseja a todos os seus visitantes um bom 2009

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Crónicas em desalinho (VIII)

De Setúbal à Colômbia e Cuba
Augusto Alberto (texto e fotos)


Nestes dias de Natal, o Bispo de Setúbal publicamente afirmou que meninos tomam a sua única refeição diária na escola. Também amigos meus, professores no ensino secundário no distrito, me disseram o mesmo. Vindo esta notícia de um eclesiástico do topo da Igreja, é de acreditar. Não estamos, pois, no reino da vermelha invenção.
Também organismos de referência da ONU e outras Ongs, nos falaram por este Natal, da miséria moral e social na Colômbia. País governado por um senhor de óculos com aros dourados e finos, e intelectualmente um escroque, em posição de 4 perante o império do norte. Em nenhum país os sindicalistas e jornalistas são tão massacrados, contam-se às dezenas as mortes, e órgãos do estado, como a assembleia Nacional ou a polícia, estão tão virulentamente ao serviço de uma casta reaccionária. São muitos milhões, digo milhões, de indigentes e miséria a rodos.
Por causa deste país a Festa do Avante e o Partido que a realiza foram violentamente achincalhados por receberem no seu seio membros de um movimento de libertação, que se comporta como se comportaram, ontem, os movimentos de libertação em Países de África. Não esqueçam.
Na província de Setúbal reina desde há muito a desesperança, porque foi atacada por estratégias do grande capital mais recuadas a que um país europeu pode estar sujeito. Quase todo o sistema produtivo foi liquidado e hoje o balanço, apesar de todos os projectos, magnanimamente riscados no papel, é miserável, tanto dos pontos de vista social como moral. O Drº. Soares e o seu ex. amigo de “esquerda”, Alegre, poderão explicar melhor. E a Colômbia continua a ser o quintal do império, um pouco mais recuado, porque o império, pelos vistos, está em dificuldade e por agora começa a perder o pé.
E eu no ano passado, mais precisamente em Maio, resolvi, antes que a morte me apanhe, fazer uma visita à ilha. Passeei por Havana e senti e vi o magistral trabalho de recuperação e manutenção da zona velha da cidade. A Praça de Armas é uma coisa absolutamente notável e a catedral e a sua praça, de desenho barroco, Borromini arquitecto de seu nome, pérolas. Nunca vi, e tinha Barcelona ou o centro histórico de Vilnius como imagens supletivas, tantos meios dados à cultura como por ali. O Malecon, o paredão por onde os Americanos deixaram a sua marca urbana, a começar a ser reconstruída, ainda que me tenha parecido com um pouco de lentidão, mas os meios…
O bairro chinês, esse muito degradado e a precisar claramente, senão de integral recuperação, porque muito dele terá de ser arrasado. Mas num país pobre, com muito poucos meios naturais que possam qualificar uma nação como auto-suficiente em muitos aspectos, com muitas e várias carências, ainda vi coisas que me emocionaram. Na Baia de Matanzas, que dá o nome à cidade e é sede da província que acolhe a estância turística de Varadero, onde mergulhei em águas com 28 graus, tive a oportunidade de ver uma experiência magnífica. Numa tarde de sol imenso, na tal baia, dei por mim a ver dezenas de barcos à vela, modalidade olímpica como sabemos, e aqui escrevo nesta aldeia, a deslizarem de um lado para o outro. Achei um espanto, porque não se tratava nem de 1,2,3,4, dezenas de barcos, mas de bem mais dezenas. A vela como sabemos é no contexto do desporto das sociedades capitalistas uma modalidade para elites. Não é um qualquer cavalheiro que dispõe de meios para ter o prazer de velejar olimpicamente, mas ali na baía de Matanzas, na Ilha de Cuba, olá, lá, lá, a vela olímpica estava democraticamente transformada. Vejam só, afinal, o equilíbrio! Absolutamente raro! Já vi muito, nunca tudo, e exactamente por isso, acabei por perceber que afinal ali na Ilha a riqueza e os meios, tem mais graça, porque estão democraticamente mais bem distribuídos. Não estamos perante um mundo em que um punhado tem muito e os outros, muitos, têm pouco. Só assim é possível fazer de uma modalidade em norma de elites, numa modalidade de massas. Também não vi meninos ranhosos, com os pés a arrastar pelo chão e em ferida, andrajosos e com barrigas ovalizadas da fome e da sede. Afinal, alguns méritos haverá de ter aquela nação, apesar de todas as dificuldades, os escassos meios e muita maledicência.
A província de Setúbal e a Colômbia, são outra conversa. Dizem-nos que são a essência da democracia. Mas percebam que nem todos somos tolos!
Já sei que virá um qualquer anónimo, que dirá, patatipatatá, mas comigo é perda de tempo. Tenho ossos duros e também já não sou dado a embalos.

Bilderberg United Football Club


Fiquei espantado há dias atrás porque me dei conta de que há muita gente que não conhece ou ouviu falar do chamado clube Bilderberg, apesar da sua natureza mais ou menos secreta. É um grupo restrito de escroques de elite, cerca de 130, uns fixos, como por exemplo o exemplar Donald Rumsfield, outros por convite, que se reúnem secretamente de vez em quando. O produto é constituído por leaders financeiros, ministros, primeiros-ministros, barões da imprensa, além de outra escumalha. São poderosos, tipo senhores do universo, vão delineando o andar do mundo e escolhem mesmo primeiros-ministros.
O supervisor da agremiação para Portugal é um antigo deputado da União Nacional, quando esta ainda não estava tripartida. Uma teoria existe que afirma que o propósito deste grupo é criar um governo totalitário mundial.
O nome do clube vem do hotel holandês onde, em 1954, se procedeu à primeira reunião.
Consta-se que terão já escolhido os dois próximos primeiros-ministros de Portugal. As eleições vão se realizar na mesma, não se assustem. Mas, claro, é só para entreter o pagode.
Leia aqui um delicioso e elucidativo artigo sobre este privadíssimo clube.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Aviso à navegação

Alto aí!
Aviso à navegação!
eu não morri:
Estou aqui
na ilha sem nome,
sem latitude nem longitude,
perdida nos mapas,
perdida no mar Tenebroso!
Sim, eu,
o perigo para a navegação!
o dos saques e das abordagens,
o capitão da fragata
cem vezes torpedeada,
cem vezes afundada,
mas sempre ressuscitada!
Eu que aportei
com os porões inundados,
as torres desmoronadas,
os mastros e os lemes quebrados
- mas aportei!
e não espereis de mim a paz...
Aviso à navegação
Não espereis de mim a paz!
Que quanto mais me afundo
maior é a minha ânsia de salvar-me!
Que quanto mais um golpe me decepa
maior é a minha ânsia de luar!
Não espereis de mim a paz!
Que na guerra
só conheço dois destinos
ou vencer - ai dos vencidos!
ou morrer sob os escombros
da luta que alevantei!
- (foi jeito que me ficou,
não me sei desinteressar
do jogo que me jogar.)
Não espereis de mim a paz.
aviso á navegação!
Não espereis de mim a paz
que vos não sei perdoar!
Joaquim Namorado



Faz hoje 22 anos que um grande, enorme coração deixou de bater. Um coração feito de ternura, de solidariedade, de generosidade.
Grande figura da cultura portuguesa, combatente anti-fascista, intransigente quanto aos seus princípios. Perseguido pelo Estado Novo, tendo sido proíbido de leccionar na escolas públicas, viveu de explicações: "Fiquei em Coimbra a vender lições como quem vende tremoços", diria ele mais tarde. Perseguido também por um governo do PS que o afastou, de novo, do ensino.
A História não rezará daqueles que acabaram com o Prémio de Conto Joaquim Namorado, instituído pela CMFF, em 1983. Quanto a esse acto socorro-me de uma expressão do próprio autor de "Incomodidade" para sutentar a minha opinião: "Na vida temos de estar preparados para tudo, mesmo para comer merda em colheres de chá".
Se há homens que se vão da lei da morte libertando, Joaquim Namorado é um deles.

domingo, 28 de dezembro de 2008

Histórias de mineiros (VIII)

Augusto Alberto


O luar era intenso. A floresta banhada pela luz da lua e das estrelas, que penetrava por entre as folhas e ramos das árvores, tinha um ar manso e suave.
Só pela madrugada, andando em passo estugado pela estrada negra da floresta, o homem regressava à camarata colectiva, onde os seus companheiros já descansavam. Regressava da povoação vizinha onde tinha passado uns momentos no baile.
Vinha despreocupado, sem medo, que não era homem para se “acagaçar”, habituado que estava ao trabalho duro e arriscado.
Mas eis que na sua viagem, por alturas da mina, alguma coisa lhe chama a atenção. Sente que é perseguido por um carro com os faróis desligados. Não altera o ritmo do seu passo e sente que o carro se está a aproximar. A dada altura vê-o a seu lado. Dois homens no seu interior com uma silhueta do corpo negra e de chapéu com aba descaída para a esquerda, mandam-no, com ar grave, parar. Ele pára e espera pela fase seguinte.
E eis que de dentro do carro um dos homens lhe pergunta se vinha da mina? Responde que não. E nova pergunta: - e na mina como está o ambiente? Tudo bem e normal, responde.
Após esta brevíssima e seca troca de perguntas de respostas o carro acelera e desaparece logo à frente coberto pela sombra da noite. O mineiro tinha percebido.
A polícia temia a radicalização da luta e dia e noite rondava em guarda discreta a mina.
Mas talvez mais do que isso, desejasse apanhar as pontas do movimento. Desejaria matá-lo se conseguisse apanhar os seus dirigentes de uma forma discreta e individualmente, não dando motivos de revolta colectiva na defesa dos companheiros presos. Era mais seguro actuar discretamente numa primeira fase do que fechar pura e simplesmente as portas do sindicato, mesmo naquela época.
Uns escassos dias antes os mineiros tinham tomado a decisão de reivindicar melhorias salariais.
Naquela época era um acto corajoso. O fascismo não gostava e não deixava. Além do mais a grande maioria dos homens não estava familiarizada com situações deste tipo.
Tinham sido camponeses antes de serem mineiros. Só há bem pouco começaram a formar a sua consciência de explorados. E daí à manifestação colectiva, que se consubstanciou na recusa de descida à mina, passou um longo rosário de dificuldades. Foram pois gradualmente sentindo que só em plena unidade poderiam actuar.
Foi o pequeno sindicato local, com sede em Buarcos, cujos dirigentes ao contrário da maioria dos mineiros possuíam já experiência destas lutas, colhida em S. Pedro da Cova, quem chamou à discussão no seu seio os mineiros possíveis e na hora prevista, não sem dificuldades, tomou a direcção da luta.
Foi à entrada do turno das 16 horas, num dia e ano que a memória dos mineiros já não lembra com precisão, mas que dizem se situou entre 1958 e 1960.
Os homens juntaram-se à boca da mina e em perfeita sintonia disseram não à descida. Exigiram naquele lugar a presença do Director da Companhia ao mesmo tempo que deixaram apoplécticos e lívidos de medo tantos encarregados como engenheiros., pela imagem de unidade, determinação e à primeira vista espontaneidade e, porque não? novidade.
Compareceu rápido o Director, que aflito tentou impor com um ar severo a descida aos poços. Mas o não uníssono foi determinante. O homem ficou nervoso e repetiu a ordem. A situação agudizava-se nitidamente e era preciso uma saída rápida, pois o perigo da repressão poderia ser iminente. Era preciso antes de mais evitar logo no primeiro embate o contacto com a polícia como era costume em situações idênticas. O movimento nesse caso poderia morrer por ali.
Foi então que alguém do meio dos homens rudes falou e avançou uma proposta.
- Sr. Director, desceremos aos poços se nos garantir que porá a Administração ao corrente das nossas exigências e se nos der uma resposta rápida.
O homem descomprimiu-se, tomou mais à-vontade, concordou, e os homens acabaram por descer.
O simples facto de o Director ter descido ao contacto com os mineiros e de ter acedido às suas propostas, antes mesmo de ter usado a inflexibilidade e a polícia à porta, era já de si uma vitória em tal época.
Mas em todo o caso, lá no alto, nos morros vizinhos, de onde se avistava a mina, a polícia rapidamente avisada já tinha assentado acampamento, pronta a intervir em caso de violação da “ordem e da paz” então estabelecidas.
O tempo passou com os homens esperando e dispostos a continuar. Depois veio a resposta, e não se sabe bem como, era positiva. Hoje dizem-me que foi um aumento jeitoso para aquela época.
………………………………………………………………………………………………………………………………………
Ironicamente, o homem que descontraidamente regressava ao seio dos seus companheiros, deambulando de madrugada pelas estradas da floresta e que tinha por luz a iluminar-lhe o caminho a lua redonda que lhe sorria amigavelmente lá do alto, ao contrário dos homens sinistros que o abeiraram, era um dos activos dirigentes sindicais empenhados na luta.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Morreu Harold Pinter


O escritor britânico Harold Pinter, vencedor do Prémio Nobel de literatura de 2005, faleceu ontem, aos 78 anos.
Autor de mais de 30 peças de teatro, poeta e argumentista de vários sucessos cinematográficos, Pinter foi um homem com voz própria e um dos principais críticos da intervenção americana no Iraque, tendo mesmo classificado o então primeiro-ministro inglês de criminoso de guerra.
Pode ler mais aqui. E aqui 4 poemas de guerra extraídos do livro "Guerra".

Ainda o Natal. Uma história de



Esta fotografia, surripiada ao blogue "O tempo das cerejas*" é de 1975 e da autoria do fotógrafo francês Gérard Bloncourt.
O título é "jovem desempregado no Norte" e bem podia ser de 1930, como de 1960, ou ainda de 2000. Ela diz-nos que o capitalismo enquanto regime político-social não resolve problema nenhum. É antes, ele próprio, um problema. E gravíssimo. Além do desemprego produz também a fome, as guerras, a desumanização das relações entre as pessoas. É, tout court, redutor da condição humana.
Esta história de natal é elucidativa. E de hoje, 25 de Dezembro, de 2008 depois de Cristo. Deveríamos parar um pouco para pensar, reflectir, enfim, partir para outra. Aconselho-vos a lê-la.
E a pensar, se não for muito incómodo.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Reflexões (não só poéticas) sobre o Natal

Não me apetecia falar sobre o Natal
Para não ter de lembrar a hipocrisia
Saber tantos no mundo a fazer mal
Querendo ser bonzinhos só nesse dia
-
Natal é amor feito justiça e verdade
Reúne a família nessa noite nesse dia
As crianças sonham com a igualdade
Que não existe como Jesus pretendia
-
Convido todos os homens a prosseguir
O exemplo que por Cristo nos foi dado
Vamos todos dar as mãos e conseguir
Esse sonho por demais tempo adiado
-
Chegou o tempo de exigir nossas regalias
Por vezes sonegadas de maneira imoral
Vamos unir-nos para que todos os dias
Sejam para todos o grande dia de Natal.



domingo, 21 de dezembro de 2008

Histórias de mineiros (VII)

Augusto Alberto

Eram bidons e latões de ferro espalhados por aqui e ali pelas galerias. Tinham uma função colectiva e neles os homens faziam as suas necessidades fisiológicas.
Destapados no geral e expostos sem serem limpos uma mão cheia de dias, 10 ou mesmo 15, ao ambiente quente e húmido da mina, exalavam cheiros podres e horríveis.
No interior dos recipientes negros e de uma imagem nauseabunda, pululavam em marcha serpenteante vermes viscosos e nojentos, marcando meandros na massa podre de dias imensos de repouso fétido.
A sua limpeza nunca era total. Subidos à superfície e virados a lixeira, era vazado o maior e a água raramente limpava as suas paredes e exteriores. Agarrados às paredes voltavam vermes e resíduos em crostas sucessivas, de uma massa, mescla de castanho, azul esverdeado e negro.
Os homens, uns atrás dos outros iam retomando a realização das suas necessidades, criando condições para a continuação do mesmo ambiente podre e soturno.
O mineiro de volta e meia sentia a ”caganeira”. A dor apertava a barriga e os homens lá corriam direitos ao latão, chapinhando na água da galeria e já com o cinto ou o cordel para não perder muito tempo. Depois vinham as fezes compactas ou meio aguadas que para ali ficavam depositadas em plataformas sucessivas durante tempos enormes.
Era como um ciclo quase impossível de modificar. Os homens habituavam-se, também eles, àquele ciclo de vida, permitindo que ele se realizasse regularmente.
Concomitantemente havia os barris com a água para saciar a sede ou para a lavagem do corpo. Também aqui havia uma situação semelhante.
Água fresca só no momento em que chegava ao fundo da mina.
Os homens iam bebendo a goles, sôfregos; iam lavando o corpo, até à total extinção da água dos barris. Podiam passar 10 ou mais dias.
A água tornava-se quente, podre, empoeirada.
Também os barris não eram limpos e no seu interior criava-se uma parede escorregadia de limos verdes. Com o tempo, poeira e limos somavam-se numa massa lodosa como a do fundo dos rios poluídos.
Assim vivendo, realizavam-se as 8 horas de trabalho e o ambiente era o ideal para doenças várias.
A doença pegava os homens. Ou era o corpo que tremia de sesões, como se um homem estivesse continuadamente ao frio e nem o bater sucessivo e sem garra da picareta na pedra lhe desse mais calor. De volta e meia vinham uns arrepios de frio mais intensos e, então, o desejo de parar; e porque as forças também se sumiam, o de deitar o corpo, esticado, num sono profundo e lânguido entre dois lençóis. Ou era a barriga em constante dor, inchada como bola de pedra, que nem o tronco se mexia em frente.
E a doença continuava. O frio, os suores, as dores, por muitos e muitos dias.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Prendas de natal: uma sugestão. Seguida de votos de um bom próximo ano



A acção passa-se numa só noite. A noite da consoada. O cenário são as ruas da capital do Império. O tema, nunca ou raramente explorado pela literatura portuguesa, o que me leva a pensar que os portugueses terão vergonha dessa época, o que será despiciendo, daí as tentativas de lavagem da História a que vamos assistindo, é, por isso um dos méritos deste prosador exímio: a luta clandestina contra a ditadura fascista que assolou o país. A que foi derrotada em 1974, entendamo-nos.
Um belo romance, sobre a luta, a solidariedade, a amizade. Também sobre medos e tristezas. E amores. Estes, correspondidos mas impossíveis, transporta-nos ao universo camiliano. Mas à fatalidade do velho mestre, José Casanova contrapõe a esperança…
A cena final recorda-nos inevitavelmente uma canção de Brel. Aquela em que se ouve:
“Heureux les amants séparés
Et qui ne savent pas encore
Qu’ils vont demain se retrouver”


O Belo não é necessariamente útil. Um livro é necessariamente útil. Então, como prenda de natal, um belo romance é assim a modos como juntar o útil ao agradável.
Para quem ainda não conhece, por distracção ou por não ser dado a estas coisas da literatura, José Casanova é um escritor a descobrir. Tem publicados mais dois romances, “O caminho das aves” e “O tempo das giestas”, estando neste momento a ultimar o quarto.

Aproveito a oportunidade para desejar a todos os visitantes desta humilde aldeia um bom natal e, já agora, um ano de 2009 que se não for igual ao 2008, pelo menos seja muito melhor.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Crónicas em desalinho (VII)

Um breve comentário a meio da publicação das Histórias de mineiros


Augusto Alberto

Chegados a meio da publicação destas histórias, quero fazer breves, e creio que justos, comentários, antes que o tempo e a oportunidade se percam.
É justo que o anónimo neo-liberal diga que as histórias são um pouco naifs. Eu próprio hoje lhes reconheço essa face, mas ao cabo de tantos anos nada quis mudar, porque tudo tem o seu tempo e aquelas histórias não fogem à regra. Contudo, já não resisto a comentar a sua observação acerca do tempo histórico das histórias. Acho mesmo que se trata de uma pérola que merece resposta adequada e séria.
O anónimo neo-liberal dificilmente me engana. Não andarei longe da verdade se disser que pisou as mesmas tábuas que eu pisei na Rua da República e na Rua Fernandes Tomás. Cruzou e descruzou as mesmas escadas e corredores. Foi num tempo em que disse coisas e hoje está num tempo em que diz o seu contrário, apesar de o mundo correr para pior. Não é por defeito, mas porque acabou a vestir o casaco com o forro para fora e lhe parece moda. Não é único, aliás, é hoje espécie exactamente como o camaleão, que muda de tom para salvar a pele.
Ficou incomodado, porque as histórias não passam de material dado à arqueologia social, disse. Bem dito. Incomodou o nosso amigo neo-liberal a lembrança e a denúncia de que por cá, na nossa terra, houve coisas assim tão dolorosas. Parece mentira vindo de quem pisou as mesmas tábuas. Mas não nos admiremos! Incomoda-o(s) agora os movimentos sociais, abjuram-nos, colocam os sindicalistas todos no mesmo saco, mas saibam que não é verdade, porque há uns que dão jeito de quando em vez e outros nem por isso. Pois é, bebé… E até acham que chegamos a um tempo em que os partidos políticos são todos iguais. Mas houve um tempo em que não, e o anónimo sabe disso. Houve um tempo em que uns tipos, que quando desceram à terra, parece que traziam umas pequenas hastes a modos como umas antenas, esquisitos, e que logo começaram a comer criancinhas ao pequeno-almoço e a dar umas injecções atrás das orelhas aos velhinhos. Eram maus, mas de repente, afinal viraram iguais, porque entretanto isto tornou-se uma merda e então porque pode ficar feio procurar os responsáveis, puxa-se tudo para baixo, taxando pela mesma bitola. Mas olhem que não…Procurar os responsáveis, isso sim, é preciso, para ficarmos a saber que há para aí uma tralha que gosta pouco que a destapem, que há muito saltam de galho em galho, da finança para a política e volta à finança. Pelo caminho foram montando o esquema e foram tão fundo que na ânsia de tanto chafurdar na gamela, se emporcalharam, já se sabia, e mais grave, nos deixaram à beira da exaustão económica, social, cultural e política. Os camaleões pintados convivem muito bem com esta gente sem vergonha, porque se entregaram por alguns trocos, por um lugar como vereador ou membro de uma Assembleia Municipal, um lugar de deputado ou lugar na tertúlia do patatipatatá. Ainda se fossem para executivo de uma grande empresa, como a Iberdrola, Lusoponte, ou simples companheiro rico! Acharam então nova família, no Partido Socialista, que não haja medo da denúncia ou no Partido Social-democrata, ou Partido Popular Democrático, nem sei qual a diferença. Aliás, esta coisa da banca arrancou-lhes a máscara e o véu e deu-lhes o único ar a que tem direito, opaco. Se não fossem todos da mesmíssima trindade, teria o Partido Socialista aproveitado esta coisa dos bancos, BPN e do BPP, para degolar o PPD/PSD, mas acontece que o Partido Socialista não quer mexer muito nesta imundice porque ainda se vai também publicamente emporcalhar. Embora já se soubesse…! Sempre lhes pareceu que nenhum mal lhes viria. De volta e meia até lhes dá jeito colocar flor na lapela, falar desta prosaica democracia, mas sem vergonha, não se vêem todos juntinhos como gente sem eira nem beira moral.
Ora aqui está a democracia e os seus democratas, também alguns opinadores quase oficiais, que não discorrem que afinal, dentro de, sei lá, 20, 30 anos, as brilhantes opiniões de hoje, serão lidas como, pasme meu caro neo-liberal, arqueologia opinativa, toma…e que descaradamente, hoje, convivem com o que de pior este mundo tem. E olhe meu caro anónimo neo-liberal, os factos das histórias já lá vão hão mais de 50 anos, mas…
Lembro-lhes que um dia as coisas hão-de acontecer, porque nesta Europa rica, há bem pouco, na Paris das luzes, 7 mendigos morreram de fome e frio na calada da noite, nos Estados Unidos, gente há que começou a vender o corpo para matar a fome, que pela América Latina continua a morrer gente nas enxurradas de lama, que na Rússia liberta, até que enfim, são aos magotes os jovens que se espojam pelo chão na frente das montras do majestoso consumo, para aproveitar o bafo quente dos novos néons, por fim chegaram, para enganar as noites frias, e que por esse mundo fora há gente que tendo emprego, mas porque o salário não chega, toca a ir à sopa dos pobres, continuando a comer as côdeas que os diabos vão deixando. E eu a julgar que essa marca tinha acabado, digo, com o nosso fascismo, mas afinal ainda acontece. Então dou-me a pensar que não estamos perante cenas da arqueologia social, mas de quadros reais. É por isso, pelos vistos, que o anónimo não é liberal, porque nem sei o que isso é, gosto mais de colocar a chapa, trânsfuga, como todos os que desistem. Mas não fique preocupado, porque eu tenho essa mudança na conta de um democrático direito.
Depois admirem-se se as pessoas se chatearem e vai de varrer tudo, como há uns tempos em Paris, e por hora, está a ir tudo raso na Grécia. Cá por mim, estou um pouco mais despreocupado porque não tenho carro estacionado na rua a jeito de levar com petardo ou tocha. Cagar o mundo também não, porque graças ao meu feitio e resistência, aos 60, continuou a correr e a andar de bicicleta. Também sou da ecologia. Mas lá que me vou rindo, aí isso vou. E que eu saiba a electrónica ainda não inventou um caça risos para nos sinalizar e demonizar.
Pode o anónimo neo-liberal dar o troco, estou certo que o fará, mas não importa, porque não muda em nada a minha opinião. Antes pelo contrário, como diz o ditado: - tudo o que disser será sempre contra si. Aconselho-o a começar a cuidar da sua imagem política.
Disse.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Histórias de mineiros (VI)

Augusto Alberto

O conhecimento da mina, de todos os seus segredos, fazia dos “intivadores” um corpo de homens com extrema responsabilidade. Do seu melhor trabalho resultava sempre maior confiança para aqueles que haveriam de vir depois: - os mineiros.
Dos seus braços moídos, das suas mãos calejadas e gretadas saíam golpes de precisão com a “enxó” no aparelhamento da madeira que iria escorar os tectos e as paredes das galerias.
Estavam num desses trabalhos, no escoramento de um tecto, numa posição deveras incómoda, trabalhando de baixo para cima. Suavam, martelando e serrando as enormes pranchas de madeira. De volta e meia paravam para respirar fundo e sobretudo para endireitar as costas e o pescoço que de tanto inclinado para trás lhes doía fortemente.
Depois da madeira cortada e devidamente encaixada era pregada a golpes rijos de martelo, que ao bater produzia um som gutural que ecoava pelas galerias a dezenas de metros.
A um dado momento era necessário levantar um toro de madeira pesadíssimo com uma resistência soberba, que aguentasse o pesado tecto de madeira. Houve que o segurar a força de braços para evitar que o toro rodasse ainda mais e viesse a aleijar alguém. Era um pedaço de madeira que metia respeito. Os homens aplicaram toda a sua força por longo tempo e o toro foi aguentado e metido no respectivo lugar.
Os homens suavam, recuperavam do enorme esforço, mas o “intivador”, esse ficou entalado entre o toro e a parede. O músculo saltou fora do lugar e suportava dores horríveis.
“Os meus companheiros
– diz-nos um mineiro – sentaram-no, massajaram-lhe o braço e conseguiram aliviar momentaneamente a dor”. E o “intivador” continuou, depois de aparentemente recuperado.
O dia chegou ao fim. O regresso à superfície fez-se como sempre, lento e aos sobressaltos.
O braço maltratado repousou durante a noite sem deixar de latejar.
Pela manhã o “intivador” nem sequer pensou em não descer à mina.
Era arriscado, mesmo muito arriscado a recusa em descer ao interior da mina, mesmo que se estivesse doente ou aleijado. De imediato vinham as censuras ríspidas, os maus tratos, por vezes os castigos, que por norma se traduziam em perdas de horas de trabalho.
Andou três meses – diariamente descendo à mina, subindo à superfície. Diariamente cortando e pregando. Diariamente sofrendo. E o músculo magoado, fora do seu lugar, mirrou, perdeu resistência.
Ao cabo desse tempo o “intivador” não aguentou mais. Consultou um médico que o mandou de imediato operar.
E hoje ele diz: - “Se fosse de imediato tratado teria ficado com o braço forte como dantes. Mas como só fui operado passados três meses, já foi tarde. É como vê. O músculo está completamente deformado e o braço hoje já não é o que ontem foi”.

sábado, 13 de dezembro de 2008

No coments

É que na verdade não tenho nada a comentar sobre isto.
O protagonista desta história é Conselheiro de Estado. Do estado a que isto chegou. Deveria, pelo menos, fazer-nos reflectir sobre quem nos governa, e se temos, ou não, alguma responsabilidade nisso. Porque vivemos em "democracia" somos nós que escolhemos quem nos governa. E, como tudo indica, temos andado a escolher muito mal.
Andamos com os gostos estragados?

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Figueira, tutti, tutti mal iluminatta


É que a crise também chegou às iluminações de Natal. Caso para dizer que é como o Sol, quando nasce é para todos.
Só que o Sol, tal como a crise, não é bem bem para todos.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Angelo Branduardi

Este cantautor e compositor italiano foi educado como violinista clássico mas aprendeu guitarra porque, segundo ele próprio, ajudá-lo-ia a ultrapassar a timidez adolescente por se tratar de um instrumento mais popular. Compôs para poemas de Dante, Petrarca ou Neruda.
Este "Confessioni di un malandrino", data de 1968, quando o artista, que também canta muito bem em francês, tinha 18 anos, e ainda é considerada uma das suas melhores canções, o que forçosamente dependerá dos gostos.
Devo dizer que a letra é da autoria de Serguei Iessienin, não ides vós pensar que se trata de alguma autocrítica de algum dirigente do PS ou de algum laranja muito bem engravatado, desses que não sabem o que se passa ou passou no BPN.


terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Realmente, é preciso muita lata, ou pouca vergonha

Estamos perante aquele dito popular, "chama-lhe puta antes que ela te chame a ti".


Na verdade estes senhores do poder já não sabem o que andam a fazer. Ou nunca souberam.

Não é que um secretário do "estado a que isto chegou" criticou os professores de faltarem às aulas, ele que perdeu o mandato autárquico por faltas?


domingo, 7 de dezembro de 2008

Histórias de mineiros (V)

Augusto Alberto



Eram 10 a 12 horas dadas à mina. Oito horas eram passadas de picareta em punho, as restantes contavam-se na descida da superfície ao fundo e vice-versa e pelas enormes viagens pelos túneis de centenas de metros até se atingir o local exacto onde se iria manifestar a simbiose homem/carvão.
Logo pela manhã, 6, 6,30 horas, os mineiros depois do café com migas de broa ou da cachaça, matabicho, na tasca, lá iam pés descalços direitos á boca da mina, no Verão ou no Inverno ventoso do norte ou do vento do mar que arrastava consigo horas intermináveis de chuva copiosa e fria e que os molhava até aos ossos. Formavam bicha esperando o seu tempo de descida. As vagonas que carreavam 4 a 5 homens cada uma, numa velocidade lenta, aos sobressaltos, saltando por vezes dos carris entulhados com o carvão, embatendo nas escoras laterais e centrais, deixando os homens num sobressalto, lá iam poço abaixo.
O corredor era estreito e baixo; - tinha a largura de duas vagonas que viajavam em sentidos opostos e os homens tinham de viajar agachados evitando o toque no tecto.
Os poços desciam em plano inclinado, rasgando as entranhas da terra, alguns oceano dentro. Os tectos escorados com tábuas e barrotes eram o chão do mar. Lá por cima andava o mar revoltado ou brando, também ganha-pão duro para outros. E nos poços, de quando em vez, caíam grossas nuvens de água que molhavam os homens que na barriga da terra também buscavam o pão.
O chão dos túneis enormes, repletos de lascas de carvão e carregados de humidade, eram o tapete em que o mineiro se movia.
Os pés descalços ou protegidos por uns frágeis socos de madeira, iam chapinhando a água.
A carne dos pés rasgava-se no contacto com as lascas de pedra negra, a água de um negro barrento recebia o sangue e aparecia mesclada, tal como paleta com somatório de tons.
Corte em cima de corte, ferida em cima de ferida, não havia paragens. O sangue diluía-se na água, os pés atolavam-se, muitas das vezes o homem nem dava por mais uma ferida. Os pés grossos, gretados e deformados, eram um completo analgésico à dor.
E o sangue escorria e nem sulfamidas, mercúrio, um simples penso, para curar a carne rompida. O dia seguinte era a repetição do dia anterior.
Só passados anos e anos, com a chegada de um novo engenheiro à companhia, o mineiro passou a usar umas botas grossas, feitas de pneu. A “companhia” confeccionava-as e o mineiro, mensalmente, amortizava-as.
Ficaram os pés mais protegidos mas as marcas dos cortes, as deformações, lá estão. São como recordações vivas de um passado bárbaro. E o mineiro para que aquela vida fosse melhor entendida e a título de prova real, tirou o chinelo de enfiar e mostrou-me o corte no pé e o dedo deformado.
Não o fez por orgulho, mas por denúncia.

sábado, 6 de dezembro de 2008

Pataca a mim, pataca a ti

Não vou falar da ignobilidade do negócio das armas. Mas ainda há dias a propósito daquelas falcatruas todas no BPN, o conhecido banco dos sociais-democratas, um amigo me dizia que os “socialistas” também estariam metidos numa alhada semelhante, só que se iriam esforçar para a coisa não passar para o domínio público.
Será tarde, a esta hora. O “Público” de hoje já vem com alguma coisa acerca. Já se começa a ver a ponta do iceberg.
Como cantava Malvina Reynolds, eles são todos iguais. Aqui na versão francesa de Graeme Allwright.


quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

E agora?????

Agora pede a demissão, anormal!!!




Mas o tacho é bom, não é?

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Quando a desfaçatez não tem limites...

Quando queremos passar por aquilo que não somos, o resultado é passarmos por poucas vergonhas escusadas. Porque é impossivel enganar toda a gente durante todo o tempo. E, como diz a sabedoria popular, a verdade é como o azeite. Mas depois desta perfomance, o artista em causa, que não se revia nesta política, que coisa e tal, que não sabia ainda se iria votar no chefe, teve o descaramento de votar a favor do orçamento. Em que ficamos: a política é má e o orçamento é bom?
Após estas tropelias todas, só é enganado mesmo quem quer ser enganado.


Manuel Alegre votou, na Assembleia da República, contra o Código de Trabalho. Mas garantiu que não haverias danos para a bancada do PS. Contas feitas, um voto contra de Manuel Alegre e de mais quatro deputados, com aconteceu, poderia ser um grande risco. Bastava que todos os deputados dos partidos da oposição estivessem presentes – coisa, aliás, impossível de acontecer – para que a proposta do Governo morresse. Ainda assim, Manuel Alegre não arriscou: combinou com os outros deputados que votaram contra a viabilização do projecto, utilizando uma táctica simples: se a oposição estivesse toda presente, os outros deputados, melhor deputadas, optariam pela abstenção.Assim, o deputado socialista e ex-candidato presidencial garantiu o melhor dos mundos: brilhou como gosta e não beliscou o PS e o Governo.