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sábado, 28 de maio de 2011

Uma iminência

Os portugueses estão na iminência de eleger um analfabeto para o cargo de primeiro-ministro. Não será caso para entrar em depressão, pois não é preocupante. Primeiro porque não será, de todo, caso inédito. Segundo, os antecedentes conhecidos levam-nos a pensar que os governantes não são mais do que figuras quase decorativas ao serviço de quem detém realmente o poder.
Com um programa já delineado e bem definido, não são precisas ideias nem discussões acerca da política a implementar pelo novo governo. A actual campanha eleitoral tem mostrado isso mesmo.
Portanto, com freeports ou sem freeports, com bpn’s ou sem bpn’s, com submarinos ou sem submarinos, com estradas de Portugal ou sem estradas de Portugal, qualquer que seja o futuro primeiro-ministro a realidade é que a electricidade e o gás vão deixar de ser artigos de primeira necessidade e pagar imposto como se fossem artigos de luxo. O que irá fazer aumentar o desemprego pois haverá muitas pequenas e médias empresas que não aguentarão o embate. Para não falar nos orçamentos de milhares de famílias.
Mas voltando ao analfabetismo, alegremo-nos. O próprio presidente da “maior nação democrática” do mundo não tem necessidade de não ser analfabeto. Eles não escrevem os próprios discursos, limitam-se a ler o que alguém lhes escreve e a dizer o que lhes dizem para dizer.
Um exemplo é-nos descrito por Rui Mateus, no seu livro “Contos proibidos - memórias de um PS desconhecido”, publicado em 1996. Vale a pena ler:

(…)
“No dia 7 de Maio seria chamado de urgência a São Bento. O primeiro-ministro estava em polvorosa. Dois dias depois chegaria a Portugal o presidente dos EUA e o primeiro-ministro acabara de ter conhecimento de que o discurso que aquele dignitário iria fazer na Assembleia da República era altamente elogioso para o presidente Ramalho Eanes. “Não pode ser” – dir-me-ia Soares – “afinal contratamos aqueles gajos para nos ajudar e depois fazem uma gaffe destas”. Para Soares, os elogios a Eanes, para além de desagradáveis por se tratar de Eanes, constituíam uma nota negativa nas suas aspirações presidenciais. Ele é que era o amigo dos americanos e ao ser ignorado pelo presidente dos Estados Unidos, em Portugal, representava uma não ingerência altamente favorável a Freitas do Amaral. Eu entraria imediatamente em contacto com Paul Manafort que compreendeu a “aflição” de Soares. Mas também viu aqui uma boa oportunidade de demonstrar a sua influencia em Washington, entrando em contacto imediato com Bud Mac Farlane, o poderoso conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, e no dia seguinte receberia confirmação de que o discurso que o presidente dos Estados Unidos iria proferir perante a Assembleia da República, tinha sido convenientemente modificado. Reagan falaria da liberdade, de Winston Churchill, de Lincoln e dos pastorinhos de Fátima mas não mencionaria uma única vez o seu homólogo, Presidente da República Ramalho Eanes. Pelo contrário, no almoço que o primeiro-ministro lhe ofereceria em Sintra, Reagan saudaria com grande entusiasmo a “coragem e liderança do primeiro-ministro”.
(...)

Só não me quero conformar com uma máxima que ouvi há muitos anos: “O papel histórico do povo é aplaudir os vencedores”.
Porque o povo pode ser, ele próprio, o vencedor.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Enquanto que...

Enquanto a “democratização” da Líbia prossegue e os meus correligionários sportinguistas andam baratinados sobre que treinador ou jogadores escolher amanhã, tal a fartura, a Ângela foi perfeita no seu papel. Talqualmente uma actriz, fez-me mesmo lembrar Meryl Streep no papel de Sofia Zawistowski. A senhora alemã foi convincente ao fingir-se solenemente chateada com a pseudo-guerra civil travada pela Direita, em Portugal. Uma dramatização perfeita.

O ataque à Líbia com a desculpa esfarrapada de salvar civis, é uma reprise da destruição do Iraque com o argumento das armas de destruição massiva. Quantos inocentes, mulheres e crianças foram assassinados? Quantos inocentes, mulheres e crianças vão ser assassinados? Ainda renderá, seria o primeiro na História a repetir, outro prémio Nobel da Paz ao Obama. Atendendo a que, em 2010, o homem, que não perde tempo, patrocinou já o derrube pela força de um governo democraticamente eleito, substituindo-o por uma ditadura. Sim, sim, nas Honduras. Pode-se dizer que a eloquente besta se porta à altura. Na Colômbia continua em cena a mesma peça. E por aí fora.
Não se pense que estou a defender o Kadafi. Acho até que é bem feito, pois andou a apaparicar e financiar o capitalismo internacional. Só que quem sofre é sempre o mesmo. E o povo líbio está inocente.

Quanto ao meu desalmado Sporting, também não quero deixar de emitir opinião, apesar de já não ser sócio. Qualquer dos quatro treinadores anunciados me parece minimamente atraente, mas, por exclusão de partes e cingindo-me às candidaturas, tenho de manifestar uma leve inclinação para que Van Basten seja o treinador da equipa na próxima época. Poderia era ter havido mais imaginação e mais discussão sobre o clube.

Agora o teatro da Ângela é que me parece estapafúrdio. Mas ultrapassou largamente em expressão artística a guerra encenada nos arrabaldes. Até porque os sacrossantos mercados até agradeceram: aproveitaram logo para continuar a especulação, razão única da sua existência. Mas não havia necessidade. Os "beligerantes" ainda se encontrarão no poder, pazes feitas. Maldita comédia.

Enquanto o Obama mais a Ângela poderiam ir para o raio que os partisse… que viva o meu Sporting.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Balha-nos Deus, nosso senhor!!!!!!

Que os filhos da puta que o imperialismo coloca, quando consegue, como presidentes de algumas repúblicas da América Latina não conheçam absolutamente nada da História dos seus países, nem dos seus próprios povos, ainda se tolera.
Agora, um país com 8 séculos de História, na Europa, com a possibilidade de eleger o seu presidente, eleger um pascácio, acho inqualificável.
Nasci e cresci no interior norte de Angola. Tinha já 5 anos quando pela primeira vez de lá saí, para ir a Luanda. Convivi durante anos com soldados portugueses. Um deles, dias após o “25 de Abril”, safou-me, e a um amigo que os provocou, de levarmos uma valente carga de porrada de quatro esbirros da PIDE. Das conversas ficou a imagem de jovens revoltados, fartos, desiludidos, cientes de que aquela guerra não lhes dizia respeito. Não tinham nada a ver com aquilo, desabafavam.
Nunca tive a percepção, portanto, que os soldados portugueses tivessem assumido a sua participação na guerra que o fascismo infligiu aos povos africanos com “desprendimento e determinação”.
Que os fascistas não tenham ideias e sejam imbecis, também não será coisa que me incomode. Agora que ostentem, chateia-me solenemente.
Um desconhecimento total e completo da História recente do seu próprio país. Inadmissível. Mas parece que temos o Tomaz reeditado.

terça-feira, 15 de março de 2011

O Jasmim e o resto

Penso eu, poderei até ser influenciado por de ideias pré-concebidas, posso admitir, que as revoluções, manifestações, ou qualquer outra reacção contra o poder instituído são sempre possuídas por uma carga ideológica.
Não sou tão inocente ao ponto de acreditar que aquelas inconstâncias sociais no norte de África sejam fruto unicamente da vontade popular e que apareceram por geração espontânea. É cedo, muito cedo mesmo, para se perceber o que está por detrás daquela coisa toda, quem lidera aquilo. Relevo, evidentemente, a questão da Líbia, uma questão muito à parte.
Na questão da Tunísia e do Egipto chegou-se a considerar, a imprensa que temos, “ventos de mudança”. Sabe-se, ou por outro lado, apesar de não se saber bem o que lá se passa, é que no Egipto a classe que dominava continua a dominar, “malgré” o homem dos americanos ter ido embora. Na Tunísia, idem.
Se essas “revoluções”, de jasmim, ou isso, foram aparentemente promovidas por geração instantânea, via feiçe buque ou coisa parecida, quase que sou tentado a pensar que as manifes da “geração à rasca” foram uma caricatura destas.
Primeiro, porque ainda há pouco mais de um mês tivemos um acto eleitoral (que no norte de África não tiveram) e o resultado foi que as forças do poder instituído foram as grandes vencedoras. Parece-me estranho que um mês depois haja um descontentamento assim tão grande.
Segundo, acreditando nesses manifestantes todos, acreditaria que estão reunidas as condições para se encontrar um novo rumo e uma nova política para o país, pois no próximo dia 19, ou seja, no próximo sábado, a manifestação da central sindical será uma avalanche medonha, tipo tsunami, comparada com as manifestações que levaram às mudanças na Tunísia ou no Egipto.
Vamos a isso?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Um país orçamentado!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


Já temos orçamento. E tendo em vista a continuação deste tipo de política para agradar aos ditos mercados, seja isso o que for, foi o melhor que podia ter acontecido ao país.
Só assim consigo perceber a aparente incoerência do PSD, quando diz que o orçamento é mau, muito mau. Por alguma razão o deixou passar. Embora o teatro tenha enganado muita gente, que continuará a pensar que há mesmo desacordo entre os dois grandes partidos da direita.
Nem sequer acho estranho, provavelmente lembrando-me da velha, mas sábia, teoria historicamente provada, de que a burguesia nunca teve nada de patriota ou nacionalista. Vive de joelhos, perante seja o que for, chamem-lhe capitalismo internacional, União Europeia ou imperialismo yankee. Desde que não perca os seus privilégios, sacrifica seja o for necessário sacrificar.
Já temos orçamento. Mas o país continua a chafurdar na mesma onda de corrupção que sempre chafurdou. Ele são os quadros da REN que, suspensos, continuam a receber os chorudos "salários". É a antecipação da distribuição dos dividendos na PT que lesa o Estado em 260 milhões. É o branqueamento de capitais, em várias empresas, como a Mota-Engil, por exemplo, que lesam o Estado em muitos milhões. É o lucro diário da banca, a entidade que verdadeiramente governa isto tudo.
Enquanto o poder politico estiver nas mãos de quem detém o poder económico, não há orçamento, bom ou mau, que resolva seja o que for. E a corrupção, institucionalizada já, é só um "modus vivendi".
E o país vai de carrinho...
Até quando????

sábado, 17 de abril de 2010

O Marcelo do bloco



Ontem, depois da inauguração, no CAE, da interessante exposição “E antes do 25 de Abril, como era?”, da autoria do Tubo de Ensaio, seguiu-se a projecção do filme de Rui Simões “Deus, Pátria e Autoridade”.
Não conhecia o filme mas fiquei elucidado com a situação actual do país com uma declaração de Marcelo Caetano num discurso. Dizia o senhor que não é de direita nem de esquerda. Portanto o homem é do centro. Ou seja, do bloco central. E Portugal não tem sido governado desde então por outra coisa que não o bloco central.
E a situação, à excepção da descolonização e de um terço do segundo “D”, está praticamente igual.
Vejamos, seguindo o percurso dos 3 “D’s:”
Descolonização: foi feita sim senhor. Embora com um atraso de 15 anos.
Democratização: pode-se considerar que há democracia política, com a legalização do PCP. Será discutível, mas pronto. E como Caetano era do centro, neste país não deve haver direita.
O PSD diz que é do centro, embora já tivesse proposto a interrupção da democracia e o PS gosta de dizer que é de esquerda, mas deve ser só para tentar diferenciar-se do PSD. Ou então existe uma esquerda estranha que me é desconhecida, e digo isto porque já li vários extractos do Código de Trabalho e sei o que vem aí com o PEC, entre outras coisas.
A democracia económica não existe. O poder económico está exactamente nas mãos dos mesmos, como é fácil ver. A social não a vejo, agora até bens públicos, ou que deveriam ser públicos, como a água ou a saúde, servem para alguns enriquecerem.
Desenvolvimento: aqui estamos conversados. O das classes que detinham o poder antes do 25 de Abril. Da banca, dos sucateiros, alguns merceeiros, dos boys…
E as autoridades “democráticas” já nem vergonha têm. Acabam de eleger como herói do povo português um reles criminoso, um militar fascista que pelos vistos enquanto militar era incompetente. Foi o mandante do assassínio de Amílcar Cabral, um humanista, já depois de ter perdido a guerra. Um militar que se preze nunca comete, penso eu, actos em desespero de causa.

domingo, 4 de abril de 2010

Um anónimo, dois comentários

Se bem que não será de bom tom responder a anónimos, dois comentários na crónica do meu camarada Augusto Alberto impõem algumas correcções. Porque não são os comunistas que convivem mal com a verdade histórica, nem precisam de “criar factos” para dar cobertura à sua ideologia. O que me parece mal, mesmo pouco digno, é escondermo-nos no anonimato para podermos mentir ou deturpar factos impunemente.
Primeiro comentário – Carriles foi preso e julgado, mas é necessário informar que foi absolvido, como não poderia deixar de ser. Não foi só o atentado ao avião que vitimou 73 inocentes, na sua vasta folha de serviço constam bombas em vários hotéis. Também será importante informar que Carriles foi treinado pelo exército dos EUA e agente da CIA entre 1960 e 1976. Não estou a inventar este facto, são documentos desclassificados do governo dos EUA (CIA e FBI) que o atestam e provam o seu envolvimento no atentado. Como provam que ele fornecia, com o apoio da CIA, armas para os “contras” na Nicarágua.
Portanto, é fácil deduzir que os atentados que perpetrou foram realizados ao serviço do imperialismo americano e com patrocínio deste.
Outro motivo, igualmente ascoroso, pelo qual é necessário escondermo-nos sob o anonimato é a exibição de uma aparentemente cândida inocência, mas ridícula e perigosa. Diz o anónimo que Luís Posada Carriles não é extraditado porque há o perigo de ser torturado em Cuba. Esta tem piada, uma vez que são os americanos os maiores praticantes desta disciplina. Não será pelo terramoto que declarações de Carriles provocariam? Porque seguramente não será para proteger um dos deles, os americanos estão-se nas tintas para isso, sempre atraiçoam velhos amigos desde que isso lhes convenha.
É giro sabermos conviver com a verdade histórica, lá isso é.
Segundo comentário – diz o anónimo que a Rádio Maiorca convidou um comunista que esteve presente no programa e emitiu opinião. Diz o anónimo que o autor do texto deste blog afirma que não esteve ninguém da CDU, que não ouviu o programa, não sabe e que não se absteve de comentar. Quer dizer, além de falar de cor também fala por mim.
Só quero reafirmar que não esteve ninguém do PCP no programa, que nenhum militante do PCP, ou autarca eleito pela coligação que o PCP integra, foi convidado. E que não ouvi nenhum comunista no programa.
Quem tiver dúvidas sempre pode contactar o PCP.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Nem direito aos cem dias de graça? (croniqueta autárquica)

cartoon de Fernando Campos


Decididamente, os figueirenses têm uma enorme dificuldade em escolher os seus representantes autárquicos. E eleição após eleição a coisa agrava-se. Ao ponto de o actual executivo camarário nem ter tido, sequer, os tradicionais 100 dias de graça.
Ao trigésimo dia, mais ou menos um terço dos cem, o seu líder, um juiz que veio de fora mas que não é de fora, diz, numa entrevista a um jornal local: “ainda não deu bem para reflectir quais as questões mais preocupantes”. Ora, penso que um político quando se candidata a umas eleições terá de saber de antemão tanto as dificuldades que vai encontrar como quais as suas prioridades.
Outro caso, este tão caricato como o primeiro, daria vontade de rir se não fosse absurdo, é o que se passa com a Figueira Grande Turismo. Que dava prejuízo, coisa e tal. Na oposição, os “socialistas” chegaram a defender a sua extinção. Agora elevam de 3 para 5 o número dos membros do Conselho de Administração. É um forró.
Para acabar, e ainda dentro dos “cem dias”, temos uns festejos de arromba na passagem de ano. São três dias, 31, 1 e 2, “de grande festa e divertimento”, com um programa digno de se lhe tirar o chapéu. Para quem estava preocupado com a situação económica da edilidade e até fez uns ajustes meramente estéticos para reduzir a despesa, não está mal, não senhora.
Está bem que apresentaram a candidatura das Falésias do Cabo Mondego às “7 Maravilhas de Portugal”. Mas nem mesmo isso sei se é positivo ou se trás água no bico. É que sabendo o que a casa gasta, não me admiraria que já estivesse em marcha mais um grandioso empreendimento turístico para o local.
De qualquer maneira também eu poderia propor o Fortim de Palheiros a monumento de interesse local, se eles não o tivessem cortado ao meio, por motivações imobiliário-especulativas.
Para muito menos de cem dias não se poderia exigir mais, não é? Ou poderia?

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Angola à frente de Portugal (croniqueta global, em três andamentos e onde se fala da América Latina e tudo)

1.
Quem diria? O capitalismo em Angola está muito mais desenvolvido do que em Portugal. Porquê, não faço a mínima ideia. Ou os angolanos são mais competentes ou os portugueses são mais distraídos.
E isto para além do desenvolvimento económico atingir índices de crescimento muito positivos, a fome, a miséria das classes trabalhadoras são muito mais acentuadas. E o nível de vida muito mais baixo. Num país reconhecidamente riquíssimo, é obra. Significa que as desigualdades sociais, uma das características do capitalismo, são realmente muito mais acentuadas.
Um outro pormenor que contribui para este avanço de Angola é-nos dado pelo jornalista angolano Wilson Dadá, no seu blogue “Morro da Maianga”. Sobre o caso “Face Oculta”, em Portugal, diz-nos ele que uma investigação deste tipo em Angola nunca teria necessidade de se chamar “face oculta”. “Aqui é tudo a descoberto. Aqui a malta tem muita coragem, é muito mais indómita, muito mais intrépida. Aqui a malta tem de facto “tomates”.
E Wilson exemplifica o “desenvolvimento”: “Os dez mil euros que o “pobre” do Mandinho é acusado de ter recebido em Portugal do sucateiro do bigodinho, aqui, qualquer dia, já nem para gorjeta vai servir.
O pobre do Mandinho aqui seria imediatamente condenado e ostracizado pelos seus pares locais por manifesta e incompreensível falta de ambição e brio profissional.
Aqui é tudo muito a sério.
Aqui é tudo em grande.
Por alguma razão Portugal cabe inteirinho 14 vezes em Angola.”
2.
Onde o capitalismo tem tido alguma dificuldade em meter a pata é na América Latina. Mas, apesar disso, tem lá um rincão onde está muito à frente da média global. Na Colômbia, repara-se que não têm necessidade de fundarem centrais sindicais paralelas, ou amarelas, como queiram, para dividir e enfraquecer o papel social do trabalho. Lá, pura e simplesmente se assassinam os sindicalistas, os militantes de Esquerda e mais quem se opuser à sua vontade.
Claro que não estou desiludido porque na Europa, e particularmente em Portugal, o capitalismo não ter atingido ainda um grau de desenvolvimento tão acentuado. Para lá caminha, ainda que o processo seja muito lento. Mas sabe-se que um dos seus processos de sobrevivência é colocar os trabalhadores europeus ao nível dos seus congéneres doutras paragens.
E pode passar despercebido esse processo, mas que está em curso, a ganhar um maior ritmo, lá isso está.
3.
Num serviço noticioso da televisão vejo a cobertura da chegada dos leaders da América Latina para a conferência. A coisa está tão, tão globalizada, tão aceite que o jornalista refere-se a Raúl Castro, Hugo Chaves e Evo Morales, para dizer que não vieram, como os “controversos”. Porquê? Porque não se põem a jeito do capitalismo internacional, vulgo imperialismo? Está visto o que toda a gente sabe, mas agora é às claras: a globalização é a submissão dos povos a um padrão único. Também sou controverso.
Agora imaginem que não tivesse vindo gente decente. Acham que seria legítimo que eu dissesse que a reunião é só para filhos da puta? Claro que nunca diria.
Pronto, está bem, não diria, mas pensava. Lá isso pensava.
(gravura pedida emprestada ao Cantigueiro)

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

25 de Novembro de 1975: a morte do 25 de Abril


Muitos mistérios e dúvidas prevalecem ainda acerca destes acontecimentos. Dúvidas se foi um golpe de Direita ou de Esquerda. E que interessa que se mantenham integrados no velho e arreigado vício de lavar a História. De a compor. Já que há tentativas de Direita para fazerem crer que foi um golpe de Esquerda.
Estes tristes acontecimentos vêm no seguimento do que se passou durante o chamado “Verão Quente”, em que toda a Direita (desde o PS ao ELP-MDLP, o braço armado da Direita) se não cansou de desestabilizar com acções terroristas desde o incêndio à embaixada espanhola, passando pela rede bombista e pelos assaltos às sedes de partidos de Esquerda, nomeadamente do PCP.
Mas não admira. Não só porque a luta pelo poder envereda, não raramente, por este tipo de violência, mas também porque tendo Portugal saído de uma ditadura fascista teve também a estranha característica de nunca ter havido a desfasciszação do regime. Quer dizer, as suas forças mantiveram-se intactas. Não houve julgamentos, nem culpados nem condenações. Muitos crimes ficaram impunes.
Este acontecimento antecedeu as eleições. Mas mesmo assim não resisto a fazer um paralelismo com o facto de que sempre que a Esquerda ganha eleições sucede-se ou uma guerra civil ou um golpe de estado. Foi assim em Espanha ou no Chile. Mais recentemente nas Honduras. Ou as tentativas, por enquanto fracassadas, na Venezuela. Para citar só alguns exemplos.
Numa resenha histórica sobre o 25 de Novembro publicada pelo jornal “O público”, domingo passado, não vislumbrei nenhuma acção menos “democrática” levada a efeito pelas forças de Esquerda. Pelo contrário, acções terroristas perpetradas pela Direita como o bombardeamento da Rádio Renascença são elucidativas. A fuga dos seus dirigentes para o Porto, onde uma manifestação de apoio ao governo culminou com um assalto à sede da União dos Sindicatos, denuncia claramente as intenções, pouco democráticas, da Direita.
Enquanto isso, num debate na televisão Mário Soares acusava Álvaro Cunhal e o PCP de quererem instaurar uma ditadura. Faz lembrar a estratégia do “mundo civilizado” para invadir o Iraque sem escandalizar muito a opinião pública: a referência até à exaustão de uma mentira. A de que Saddam possuía armas de destruição maciça.
Prevalecem muitos mistérios. Hão-de prevalecer.
Mas não será à Esquerda que isso interessa.
Entretanto, lá temos de nos amanhar com a "democracia" parida em Novembro.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Do desemprego e do lodo (croniqueta sobre uma hipocrisia)


Patrões e sindicatos estão preocupados com os números de desemprego, dizem as noticias. Consta-se que poderá já ultrapassar os 10%.
Se do lado dos sindicatos essa preocupação é naturalmente genuína, uma vez que os torna enfraquecidos por muitas e várias razões, entre as quais a diminuição do seu poder reivindicativo, a defesa dos interesses e direitos dos seus associados, do lado do patronato parece-me estarmos perante uma hipocrisia sem limites. É sabido, aliás é dos livros, que o desemprego favorece, entre outras coisas, a política de baixos salários, o que contribui para um aumento dos lucros com muito menos investimento.
Pensa-se que com a continuidade desta política, no final de 2010 Portugal tenha muito perto de um milhão de desempregados. E não vejo vontade, nem interesse da parte do governo ou de quem o sustem, de mudar este estado de coisas.
E não sei se os milhares de trabalhadores precários estão incluídos nas listas de desemprego. E o desemprego diminui, também, com o emprego de qualidade. Que não há. Serão milhares os casos e os sectores onde poderemos assistir ao que se acaba de dizer.
Um caso flagrante é os dos portos. Aqui na Figueira da Foz, como em qualquer outro porto. A título de exemplo, o porto da Figueira da Foz movimentava há cerca de 15 anos cerca de 600.000 mil toneladas de mercadoria/ano. E dava lucro. E tinha cerca de 80 estivadores.
Nos últimos 3 anos esse porto ultrapassou o milhão de toneladas/ano. O número de estivadores não chega a uma dúzia.
E como é isso possível? Perguntais vós. Simples, aos poucos a situação nos portos regressou à que era antes do 25 de Abril e que tão bem é retratada no filme de Elia Kazan “Há lodo no cais”. Os operadores têm uma lista de desempregados, superior aí umas dez vezes ou mais ao número de trabalhadores que precisam e diariamente vão chamando os que precisam, aleatoriamente ou… bem. Este tipo de contrato diário, além de ser uma violação dos direitos do homem, é uma outra nuance de trabalho precário.
Mas há um modernismo nesta coisa. Os trabalhadores não têm de se posicionar à frente do portão, como antes. Esperam que o telefone toque às 07h30 da manhã. Se não tocar lá têm de ir à vidinha procurar emprego. O que é, digamos, uma tarefa utópica. Mas os operadores portuários, para só citar este exemplo mas que serve para outros sectores, aumentaram os lucros fabulosamente.
Estarão eles preocupados com o desemprego? Sinceramente não me parece.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Papel histórico e coerência

Ainda sobre a eleição da Mesa da Assembleia Municipal, que provocou a natural demissão de Luís Tovim, o primeiro nome da lista do PS, uma situação a que os jornais se referiram como traição, pode-se diz que, na realidade, o"ps" foi igual a si próprio. É, naturalmente, secundário o número de “socialistas” que votaram na lista concorrente, ainda que eu tivesse contabilizado, numa contagem compreensivelmente pouco rigorosa, seis. Diz-se agora que o deputado do Bloco de Esquerda terá votado no “ps”. Pura especulação, já se vê, pese embora o Bloco estar para o “ps” como o CDS-PP está para o PSD. Portanto, mais um ou dois a mais ou mais um ou dois a menos, é irrelevante.
O que não passará despercebido é a atitude dos “socialistas”, perfeitamente coerente com o seu papel histórico de traidores e troca-tintas. É que sempre fomos habituados a ver esse partido fundado na Alemanha a defender uma coisa quando está na oposição e a defender o seu contrário quando está no poder. Assim como que se transfigura.
As imagens a seguir, um dos muitos exemplos, são elucidativas da imagem de marca dos “socialistas”. Não têm ideologia nenhuma, critérios alguns, estratégia alguma. Vão acompanhando a aragem, num oportunismo atroz.
Sempre ouvi dizer que só os burros é que não mudam, e por serem burros. Mas então culpo a comunicação social, os partidos da oposição na Madeira, culpo toda a gente por nunca ter reparado que Alberto João Jardim mudou. Uma coisa tão simples que até um dirigente do “ps” reparou. Ora vejam:

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Temos governo



O que não é novidade nenhuma, pois também já tínhamos. O que também não é novidade nenhuma é que vamos ter mais do mesmo. Na tomada de posse o novel primeiro-ministro, que é o mesmo que lá estava, definiu prioridades. E as que definiu contradiz a sua própria política levada a cabo pelo anterior executivo que liderou.
A primeira, enumerou ele, é o combate à crise, apostando no crescimento económico e defendendo o emprego.
Aqui há a considerar que o código de trabalho aprovado pelo seu governo cessante, o XVII, este é o XVIII, é um importante instrumento para o alastramento do desemprego. Dados da OCDE dizem-nos que no final de 2010 Portugal terá 650.000 desempregados. Indicadores posteriores realçam já números bastante mais altos, tornando simpáticos os dados daquela organização.
Como segunda prioridade, José Sócrates coloca a modernização da economia e da sociedade. Penso que sobre isto estamos conversados. Não acredito que, na sua própria política, irá incrementar uma viragem de 180º. E não acredito em nome da determinação, da teimosia, da inteligência e coerência que o primeiro-ministro tem patenteado.
A terceira prioridade, não se riam mas foi o que ele disse, é a justiça social.
Não ouvi o discurso todo, não tenho pachorra para tanto, logo não me posso pronunciar se a perseguição aos professores vai continuar, uma perseguição em que nalguns casos tocou a raia da humilhação, como é do conhecimento público. E uma medida meramente economicista, a crispação social que provoca não justifica semelhante política.
Mas, embora com pézinhos de lã, que vamos ter mais do mesmo não restarão muitas dúvidas.
E estou de acordo com o cartoonista: este ano é p'ó Benfica!!!

sábado, 24 de outubro de 2009

SARAMAGO E A BÍBLIA

Nelson Fernandes


A controvérsia de Saramago com a “Bíblia”, as “religiões” ou o que quer que seja, a propósito de Caim o seu mais recente livro, motivou intervenções diversas, umas interessantes outras nem tanto.
Por mim leitor compulsivo da bíblia, vício que ficou da educação religiosa que recebi, chamar-lhe “manual de maus costumes” é, não uma leitura literal como diz o padre Carreira das Neves, mas sim uma leitura “parcial” no sentido de só encontrar aquilo que se deseja. Mas confesso que o episódio da relação de Deus com Caim e Abel marcou-me, porque tal como em Saramago deixou-me uma marca de descriminação e de injustiça, que se resolve através da queixada de burro. No drama sente-se que a injustiça transformou Caim em assassino. Sente-se a inocência de Abel e a sua transformação em objecto de vingança. Sente-se a ansiedade de Deus ao perguntar “onde está o teu irmão Abel?” E sente-se o arrependimento, e até alguma amarga e velada censura a Deus na resposta “por acaso serei eu o guarda de meu irmão Abel?” Vou ler Caim.
Da Bíblia a Igreja Católica Apostólica Romana seleccionou os conteúdos (entre muitos outros), determinou as interpretações dos conteúdos e conforme as conveniências adaptou-os aos tempos, em resumo fez da Bíblia a História Sagrada, isto é, Deus é simultaneamente o Personagem por excelência mas também o Historiador. Ora a Bíblia é um conjunto de livros escritos em épocas diversas portanto muito heterogéneos na forma e no conteúdo expressando naturalmente as contingências de cada época. É um conjunto de livros escritos por homens e que reflectem naqueles escritos tudo o que é humano. É pois natural encontrar na Bíblia do mais miserável ao mais sublime; “nada do que é humano me é estranho” como dizia Marx nas “Cartas a Kugelman”.
Saramago está a ajustar contas com Deus. Se partirmos do princípio que o homem é criação de Deus este também ajustará contas com Saramago e ficarão “quites”. Mas se partirmos do princípio que Deus é uma criação dos homens Saramago está a esgrimir contra moinhos de vento. E não é que essa esgrima nos tem dado páginas admiráveis?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

As autárquicas/2009 (croniqueta pós-eleitoral, em jeito de rescaldo)

A direita foi a grande vencedora das Autárquicas 2009.
O PSD conquistou o maior número de Câmaras e o “ps” obteve maior número de votos.
A Esquerda foi a grande derrotada. A CDU perdeu, globalmente, 4 câmaras, (de 32 passou a 28), e o BE ficou reduzido à sua própria insignificância. Depois das performances conseguidas nas europeias e nas legislativas, não consegue definir um eleitorado próprio, e assim, os eleitores que lhe ofereceram os bons resultados anteriores regressaram à base, ou seja, ao “ps” e ao PSD.
Uma das ilações lógicas a tirar é a de que os “socialistas” continuam a ser a força de direita mais consequente, já que, para além da troca de câmaras entre os partidos de direita, são os socialistas que conseguem “roubar” autarquias à CDU.
Aqui na Figueira nada de novo. Mudou a câmara do PSD para o ”ps”, o vencedor, o que não é novidade nenhuma, nem tão pouco trará novidade, pois como é sabido os “socialistas” já lá estiveram 20 anos seguidos, e, portanto, já são velhos conhecidos. De novo mesmo foi o fim das maiorias absolutas que já durava no concelho desde 1989 e a entrada de dois vereadores de uma lista supostamente independente, mas muito ligada a um dos ramos dos interesses imobiliários (o outro apostou na lista vencedora).
Houve também vencedores e perdedores individuais.
Vamos aos vencedores: José Elísio, ex-vereador da maioria cessante arrasou em Lavos ao arrebatar a Assembleia de Freguesia com uma lista independente chamada “Ou vai ou racha”. Foi e rachou. Carlos Simão, actual presidente da freguesia de S. Pedro com o apoio do “ps” e do PSD em 2005, e que desta vez perdeu o apoio dos “socialistas”. Conseguiu manter a maioria absoluta com 5 lugares contra 4 do “ps”, tendo a CDU perdido o lugar que ocupava.
Entre outros vencedores pode-se também destacar o porco no espeto, as minis e as febras, sem esquecer o conhecido empresário Aprigio Santos, este sim, talvez o verdadeiro vencedor no sentido estrito (em encaixes futuros). O popular Quim Barreiros também foi, ele próprio, um vencedor, quanto mais não seja pelo cachet que cá veio facturar.
E, agora, os perdedores: além de mim próprio, a CDU, que perdeu um mandato na Assembleia Municipal e não conseguiu eleger um vereador e Duarte Silva que, além de perder as eleições teve mesmo assim que pagar o cachet ao Quim Barreiros.
O meu amigo António Agostinho e o candidato do “ps” a S. Pedro, António Samuel. Sobretudo porque Agostinho que edita o blogue mais visitado da Figueira, apontou as baterias contra Carlos Simão a favor dos “socialistas”. Saiu-lhe o tiro pela culatra, e acertou-lhe num pé.
Dos figueirenses é que não sei dizer se foram vencedores ou perdedores. Porque foram eles soberanos na escolha de quem querem para os governar. Se por um lado vão continuar a pagar a água potável mais cara do país, por outro lado continuarão a ver os seus lixos serem recolhidos pelo patrão do melhor jogador de bola do mundo, esse farol da lusitanidade.
E pronto, se houve mais vencedores e perdedores que, por lapso, me tenham escapado aqui deixo as minhas desculpas aos esquecidos.

sábado, 3 de outubro de 2009

De democraticidades, zangas de comadres e memórias curtas (croniqueta em tempo de campanha eleitoral)

Este e este são dois factos perfeitamente normais em forças “democráticas”. Antes de tecer alguns considerandos acerca, devo dizer que exemplificam e ilustram muitíssimo bem aquela minha ironia que escandaliza alguns dos meus camaradas, quando digo que não sou “democrata”.
O primeiro caso faz-me lembrar, ainda que seja uma prática democrática usual, uma zanga de comadres, pois, como se sabe, um das importantes figuras “socialistas” da freguesia em questão era um grande apaniguado defensor do líder da LISP (Lista Independente de S. Pedro), quando comiam todos do mesmo tacho. Isto a acreditar numa famosa frase do referido quando afirmou que era capaz de se atirar a um poço com o Carlos Simão (o líder da LISP), pois este ajudá-lo-ia. Mudou de ideias, com certeza, pois concorre agora contra ele. Ou, se calhar, nem tanto.
O segundo é uma baixaria medonha tendo em conta uma vivência democrática, que responde, ela própria, por quem a comete. Trata-se de um cartaz, que não reproduzo por decoro, mas que seguindo os links o verão. É que, quando não temos ideias para apresentar, o mais fácil é denegrir, ou tentar denegrir, os adversários.
Mas também se trata de um caso clamoroso de memória curta. Os “socialistas” estiveram na Câmara mais de vinte anos seguidinhos, sem tirar fora. E em que estado está a Figueira?
Mas porque raio a culpa é sempre dos outros? Poder-se-à adivinhar que a Figueira irá ter mais do mesmo?
A palavra aos figueirenses.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Angola: um país adiado (croniqueta nacionalista)

Este excelente artigo de Fernando Samuel no blogue “Cravo de Abril” obriga-me a algumas reflexões. Primeiro, porque tive a oportunidade de ver o que ele reporta, via tv, mais concretamente via TPA, a televisão de Angola que passa agora no cabo.
O noticiário das 7 horas da manhã daquele canal ocupou muito perto de vinte minutos com a visita da senhora. Considerei uma chafurdice.
Segundo, porque algumas das anotações feitas pelo referido escriba já eu, por várias vezes, as fiz aqui neste espaço.
O que ressalta é o desplante da senhora Clinton falar de direitos humanos num país completamente dominado pelo seu, onde conseguiu impor um capitalismo selvagem à imagem da América. Só pode mesmo soar a hipocrisia, porque quem está instalado no poder em Luanda sabe muito bem que está de pedra e cal. O que me fez, também, recordar um livro de Manuel dos Santos Lima, “Os anões e os mendigos”.
Como eu escrevi há tempos, neste mesmo blogue, a paz teve para o povo angolano um preço muito alto, que ele não mereceu pagar. Porque a guerra foi imposta.
Do MPLA, eu reclamo-me. Mas deste, estamos conversados. Deste, há muito que perdi as esperanças. Ainda estávamos em guerra e aconteceu o que eu pensava impossível: o MPLA participou numa reunião, como observador, da internacional socialista. O que significa, tout court, que o MPLA aderiu ao império. Na mesma altura, um poeta, nacionalista e ex-chefe de guerrilha, era preso.
Muitos nacionalistas angolanos deram a vida, primeiro contra o regime colonial, depois numa guerra contra o imperialismo. E este acabou por vencer. Mas não é, não pode ser, o fim da história.
Lembro-me que tinha doze anos, e deliciava-me nas praias de Luanda, e apreciava os belos, inacreditáveis e únicos fins de tarde. Não me passava pela cabeça que um outro nacionalista, o poeta António Cardoso, numa cela do Tarrafal, na cela disciplinar, melhor dizendo, aliás onde escreveu muitos dos seus poemas, escrevia estes versos:



Pôr-do sol, em Luanda...
Nesta hora cresce o sol sobre a fortaleza
E paira na cidade mágica beleza
Até a noite se vestir de escuridão…
E sobe o Povo, exausto, leitos de alcatrão,
A caminho de seus musseques-prisões,
Com um resto secreto arfando nos corações…

Não, não chegamos ao fim da história. Faço minhas estas palavras de Luandino Vieira. Apesar de tudo, acho que nunca se luta em vão.

sábado, 1 de agosto de 2009

7-magníficos-7 (croniqueta autárquica)

A proliferação de candidatos à Câmara Municipal da Figueira da Foz, para além de constituir um record, será a única novidade que o acto nos apresenta. O título poderá parecer um tanto ou quanto dúbio: são 5 magníficos e duas magníficas.
Começando pelos partidos que formam a duetocracia que tem dominado o país estamos conversados. Os auto-denominados “socialistas” estiveram cerca de vinte anos consecutivos à frente do município e o que ficou foi a betumização da cidade e o início da concessão das águas, um bem público, que faz com que a Figueira tenha o orgulho de pagar a mais cara do país. Do seu irmão gémeo, há doze anos consecutivos sem sair de cima, pode-se dizer que continuou a obra, a ponte Galante é emblemática, e no campo cultural ficamos sem o Festival de Cinema e o Prémio Joaquim Namorado.
A lista independente, de quê também não percebo, “Figueira 100%” de Daniel Santos, antigo vice de Santana Lopes, mais me parece uma lista a meias entre partidos a que anteriormente me referi. Mas a fazer fé nos apoios que apareceram quando da sua apresentação parece-me que estamos perante um santanismo sem Santana, embora reforçado, uma maneira das forças locais de direita continuarem a controlar os seus interesses, face ao descrédito que PS e PPD têm acumulado.

Os “socialistas” pelo que se tem ouvido, talvez por lhes “cheirar” a poder, andam “à porra e à massa”, a ponto do seu candidato ter ameaçado bater com a porta. E segundo uma das nossas fontes um dos seus antigos presidentes da concelhia ter-se-á passado para a lista de Daniel dos Santos. A informação ganha contornos requintados quando nos diz que o citado político irá ser cabeça de lista em Tavarede.
Não havendo muito a dizer do CDS/PP haverá um facto novo relacionado com o fenómeno BE. Não existindo no concelho, concorreram pela primeira vez em 2005 e conseguiram eleger um deputado municipal. Nestes 4 anos ninguém ouviu falar deles mas aí estão. O dado novo será a nível nacional: a questão é se o BE está preparado para ocupar o lugar do PS em caso de desfragmentação deste. Acho difícil pois o grande poder económico continua a confiar nos “socialistas”, fartíssimos de darem provas, e para tal, o BE teria de moderar o palavreado e, sem o fazer não conseguirá subir, pelo menos entre as camadas mais jovens. Problema deles.
Portanto, e acedendo que a CDU não ganhará a Câmara, como se pode depreender pela blogosfera figueirense para a qual as 3 listas concorrentes são PS, PPD e Daniel Santos, quem quiser mais do mesmo tem muito por onde escolher, as cinco que me referi e a outra independente, protagonizada por Javier Vigo.
Eu, por mim, não quero mais do mesmo. Já cansa.

domingo, 5 de julho de 2009

Salazar e Sócrates: a mesma luta


No Fórum Novas Fronteiras o primeiro-ministro José Sócrates citou Salazar. Que o ditador dizia que “os portugueses deviam ser pobres e humildes como a terra que trabalham mas que a nossa ambição é outra”.
Um discurso carregado de demagogia pré-eleitoral. Não faço ideia qual a percentagem de portugueses, mas será certamente considerável, constituída por desempregados, trabalhadores precários, trabalhadores que ganham abaixo do ordenado mínimo, que ganham o ordenado mínimo ou pouco acima dele, pensionistas com reformas perfeitamente ridículas. Esses sim, terão outra ambição.
Não a terá o primeiro-ministro, que governa o país há 4 anos. E nestes 4 anos o que fez foi agravar a situação. Que em termos sociais se aproximou mais dos índices salazaristas do que dos mínimos exigidos pelo regime democrático em que, supostamente, vivemos.
A mesma política, portanto. Só que o ditador de Santa Comba, embora tivesse outros defeitos, pelo menos de demagogo será incorrecto apelidá-lo.
Estes “socialistas” tiram-nos mesmo do sério…

terça-feira, 23 de junho de 2009

Um novo estádio para investir? (Croniqueta futebolístico-imobiliária)




Não sou propriamente um entendido em futebol. Nem sequer sou o que se chama treinador de bancada. Sou mais treinador de sofá.
Mas há dias, através de alguns blogues, tive conhecimento de que o presidente da Naval defendeu que “a falta de um estádio é o principal travão ao investimento”.
Como isto ultrapassa o real domínio do pontapé no coiro, atrevo-me a dizer que um novo estádio é, já por si, um investimento. E, no caso da Naval seria, na compreensão que tenho da coisa, escusado por vários motivos: primeiro, porque o actual, melhorado quando da subida da Naval à 1ª Liga, tem condições satisfatórias, tanto que ainda não há muito tempo foi palco de um jogo internacional. Segundo, a capacidade do estádio atinge os 12.000 lugares e, como é sabido, a assistência média por jogo não atinge as mil almas. Ao que julgo saber nem o FC Porto nem o Sporting o conseguiram lotar. O único que o consegue é o Benfica, mas com seis milhões de adeptos também era melhor que o não conseguisse. O azar é que o “glorioso” só cá vem jogar uma vez por época, duas se calhar uma eliminatória para a Taça de Portugal.
Agora, antes de pensar no que não faz falta, os navalistas deveriam ter duas preocupações. Seriam as minhas se fosse navalista. Sem as enumerar por ordem de prioridades, passo a citá-las:
A construção de uma sede social, porque desde o incêndio em Julho de 1997 nunca me apercebi de alguma preocupação dos dirigentes do clube nesse sentido. É uma urgência.
A outra seria uma política correcta para o futebol de formação. Isso sim, seria um investimento. A muitos níveis. Desde a alimentação do plantel profissional, que seria composto a um preço mais barato e levaria mais gente ao estádio pois iriam ver jovens figueirenses, passando pela possibilidade de vender jogadores, o que constituiria uma mais-valia na aquisição de receitas. Mas o que nos é dado ver é isto.
E, já agora, quanto ao jogo de magistrados, este poderá ser contraproducente para um dos candidatos à Câmara Municipal…
A menos que, para manter o equilíbrio democrático, e aquela coisa de oportunidades iguais, se empreste o relvado para um jogo de professores, já que a candidata da CDU é professora. Assim eles podiam, sei lá, fazer um jogo entre socretinos fura-greves e os outros. E também para um jogo de engenheiros. Mas aqui os candidatos Duarte Silva e Daniel Santos teriam de jogar na mesma equipa. São ambos independentes.