domingo, 31 de agosto de 2008

Pequim’08: em jeito de balanço (croniqueta de fim-de-semana)

A depressão provocada por deficit medalhístico que inundou o país, atenuada com a vitória de Nelson Évora, foi extemporânea.
O único facto negativo desta oriental odisseia foi protagonizado pelo presidente do COP. Primeiro, ao estabelecer um objectivo quer no número de medalhas quer na pontuação a obter; segundo, ao dizer que se ia embora num momento em que as coisas ficaram “pretas”; e terceiro, que poderia ficar, quando Évora saltou para o Ouro e transformou, supostamente, esta edição numa das melhores de sempre do olimpismo português.
Não se poderá considerar negativa a actuação dos atletas. Claro que houve rendimentos abaixo do esperado, o que acaba sempre por ser uma situação normal, os homens não são máquinas. Perdemos até uma medalha que ninguém estava à espera, a de Naide Gomes. Uma perda acidental, mas são imponderáveis inerentes ao próprio desporto, e não é por isso que ela não continua a ser a melhor do mundo. Tivesse um dos saltos não ter sido nulo e ela poderia, com propriedade, parafrasear e fazer dela as palavras do grande Ali: “sou a mais bonita e a melhor saltadora do mundo”. Não pôde, mas como diz o povo, e o povo tem sempre razão, “há mais marés que marinheiros”.
Obikuelu fez os possíveis. Claro que estávamos à espera, pelo menos, da sua presença na final. Percebemos agora que as suas declarações, demasiado optimistas, não tinham outro objectivo senão aumentar os próprios índices de confiança, pois ele sentia estar perante uma tarefa hérculea. Não aconteceu, não se pode ganhar sempre. Apesar de tudo, devemos estar agradecidos ao atleta. Por muito.

A prova de Jessica Augusto deu a entender que, não fora o acidente que a afastou da final, teria lutado por uma posição entre as oito primeiras.
Também esperávamos medalhas no Judo, modalidade que em Portugal atingiu já um nível internacional bastante aceitável. Assim como na Vela. Não aconteceu, não foi por incompetência dos atletas, foi pelos imponderáveis do próprio desporto. Entre outras coisas.
Na Natação, desporto onde não temos grandes esperanças, 4 dos oito nadadores presentes bateram 5 records nacionais, o que só por si torna, atrever-me-ia a escrever, excelente a participação.
A obtenção, no total, de um primeiro, um segundo, um quarto, 2 sétimos, 4 oitavos, 3 nonos ou 2 décimos lugares pode ser considerado um bom desempenho num país que não tem cultura desportiva. O que existe nem sequer é uma cultura futeboleira, é mais uma cultura clubístico-futeboleira. Porque a grande maioria nem sequer gosta de futebol, gosta-se mais do Benfica, do Sporting ou do Porto. Somos um país onde existem 3 jornais diários supostamente desportivos, mas que as suas páginas são dedicadas, acima dos 90%, ao pontapé no coiro. E este não esteve em Pequim. E um país onde não existe, por exemplo, desporto escolar.
Veja-se a capa de um jornal no dia seguinte à medalha de ouro de Évora: a manchete foi dedicada a um futebolista estrangeiro que apenas assinara por um clube português, não fizera qualquer jogo e nem sequer os portugueses o conhecem. Jogou ontem, e não o vimos fazer nada de especial que qualquer jovem futebolista português não fizesse. É triste. Lembro-me que quando Naide ultrapassou pela primeira vez os 7 metros, teve direito a uma pequena chamada lateral, a considerar um feito histórico. Então se era histórico porque não lhe foi dada a manchete?
Acontece que o futebol tem um efeito eucalipto. Não está sozinho neste efeito, há outras modalidades cujas ligas se disputam maioritariamente por jogadores estrangeiros. As condições que têm, bem como o campo de recrutamento, não são comparáveis às condições de outros, diminuindo-os. Vejamos os estádios novos que se fizeram, os estádios que existem, comparemos o número com as pistas de atletismo que por aí não há.
A conclusão que se pode tirar é que os Lopes, os Mamedes, as Rosas, as Auroras, as Fernandas, as Vanessas, as Machados, os Évoras, as Naides, ou outros, aparecem por geração espontânea e não por via de políticas correctas para um desporto que se queira competitivo.
Exigir medalhas? Estabelecer fasquias? É um absurdo, a menos que se mudem as mentalidades. Começando pela imprensa desportiva, que poderia começar a deixar de ser ridícula. Já era uma grande ajuda. E continuando com a saída do presidente do COP. E, já agora, a nomeação de um ministro da educação a sério também dava um grande jeito.
Para não falar no jeito que dava, não só ao desporto, um governo sério e a sério.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Ninguém escreve ao Coronel

Uma carta do director do Eurostat teria negado a afirmação em título. Mas não. Tudo não passou de um acto de humor, embora muito sério e perfeitamente plausível, de Vitor Dias. Afinal, ninguém escreve mesmo ao coronel.
Toda a estória aqui. Divirta-se.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Notícias da fome

Se os EUA autorizassem que o direito à alimentação fosse considerado um direito humano, diriamos que o respeito pelos direitos humanos deixa muito a desejar neste mundo dominado pelo sistema capitalista...E nos próprios EUA, onde o número de pessoas que vivem no «limiar da pobreza» - isto é, que têm um rendimento inferior a 13 dólares/dia - anda pelos 38 milhões.




Para acabar com a fome, que mata oito milhões de crianças por ano bastariam una 270 milhões de dólares.
O equivalente à riqueza criada nos 30 países mais ricos do mundo no espaço de... 40 segundos.


É mesmo muito importante começarmos a pensar.

Preocupado, agora?

Cavaco Silva está preocupado com a onda de crimes que varre o país. Considera mesmo que o país vive uma situação muito séria. E o que propõe? Que é preciso talvez adaptar a estratégia no combate ao crime violento, prevenir mas também perseguir os criminosos, etc. e tal, blá, blá, blá. Entendo que ele não foi ao essencial. À génese da questão. E esta está nas desigualdades sociais cada vez mais medonhas, com consequências cada vez mais imprevisíveis.
Pode-se prevenir, pode-se, e deve-se, combater o crime, mas ao mesmo tempo criar condições para que ele não prolifere, ou seja, mudar as políticas sociais e económicas. Essas é que estão erradas, está visto que não funcionam. Mas Cavaco Silva não está minimamente interessado em mexer no cerne da questão. Ele foi primeiro-ministro durante dez longos anos. O que fez para inverter a situação? Antes foi um dos que formatou a política vigente.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

A Festa das Festas


Penso que só por muita má fé alguém poderá não considerar a Festa do Avante como a maior festa alguma vez realizada em Portugal. Considerando, bem entendido, as suas vertentes política, cultural, artística, social ou desportiva.
A provar este excelente trabalho, voluntário, abnegado, solidário, (já trabalhei várias vezes no levantamento da festa, e posso dizer que só pelo convívio é também uma festa) dos comunistas portugueses, estão os ataques, sempre torpes, que a festa sempre viu e sempre vê serem-lhe infligidos.
Leia aqui um pequeno historial dos ataques que, no mínimo, poderemos considerar anti-democráticos. No mínimo, para não irmos mais longe.
Diga-se também que é uma festa muito sui-generis, pois, com a cobertura feita anualmente pelos órgãos de informação (rádio, jornais, TV), é verdade que quem nunca foi à festa não fará uma ideia sequer aproximada do que é "o espaço com maior índice de fraternidade por metro quadrado no território nacional".

fotos: alex campos

Palhinhas, Beatas e Ramelas: um breve regresso


Nunca digas “desta água não beberei”. Um dito popular que a partir de agora conheço por experiência própria. Acontece que já não posso dizer que nunca roubei nada a ninguém.
Acabo de roubar um boneco. Os célebres “Palhinhas, Beatas e Ramelas”, uma criação do artista aniversariante, Fernando Campos, para o extinto jornal A linha do Oeste. Posteriormente chegaram a pontuar no blog Outra Margem, onde diariamente Fernando Campos publica, ou no seu próprio, O Sítio dos desenhos.
Mas têm estado de férias, já há muito que os não vemos. Substituídos pelos, também admiráveis e respeitáveis, “Dr. Xecq e Sr. Quil”.

domingo, 24 de agosto de 2008

Memória olímpica (X)

Curiosidades (II)

Gracinha (1972)
Os fortes aplausos que, na parte final da maratona, foram ouvidos no Estádio de Munique não tiveram como destinatário o vencedor, o norte-americano Frank Shorter.
É que, quando todos aguardavam a entrada no Estádio do homem que ia vencer a corrida de 42 quilómetros, um jovem alemão surgiu, com ar triunfante, depois de ter conseguido ludibriar a segurança.
O público não se inteirou do embuste e, durante mais de um minuto, aplaudiu-o, como se ele fosse o novo campeão olímpico.
Para este maratonista de pouco fôlego (supõe-se que terá corrido pouco mais de 500 metros…) a “gracinha” terminou numa esquadra de Munique.
A verdade é que Frank Shorter não sentiu, no Estádio Olímpico, o calor humano que normalmente premeia os vencedores.



Melvin Patton (1948)
O famoso general Patton viu o seu filho Melvin conquistar em Londres aquilo que ele ambicionou em toda a sua carreira de desportista.
George Patton foi quinto no pentatlo moderno de Estocolmo’12, batido por quatro suecos e, para alguns observadores, vítima de um erro dos juízes na competição de tiro.
Volvidos 36 anos, o seu filho Melvin, o melhor velocista mundial do pós-guerra, venceu os 200 metros, numa corrida em que registou o mesmo tempo do segundo clasificado, sucedendo, no trono desta prova, ao famoso Jesse Owens.
Refira-se que, ainda em Londres’48, Melvin também integrou a equipa norte-americana que venceu os 4x100 metros.



Clandestinos (1956)
A partida para a prova de ciclismo de estrada teve de ser atrasada 15 minutos, porque os juízes de partida constaram que, apesar de só terem 88 concorrentes inscritos, havia 90 ciclistas preparados para percorrerem os 175 quilómetros previstos.
Após alguma azáfama, descobriu-se quem eram os “clandestinos”. Tratava-se de dois ciclistas irlandeses, um carpinteiro e um talhante, que queriam alinhar, no intuito de chamarem a atenção para os problemas nacionalistas que se viviam no seu país.
Depois de verem os seus intentos gorados, os dois homens não desistiram. Juntaram-se a duas centenas de outros indivíduos, que lutavam pela mesma causa, lendo, durante algum tempo, alguns trechos de literatura nacionalista irlandesa.



Prata-bronzeada (1936)
No final de um longo concurso de salto com vara, que se prolongou pela noite dentro, dois atletas japoneses estavam igualados na segunda posição. Após uma breve reunião, Shusei Nushida e Sueo Oe decidiram que não iam competir mais, ficando o primeiro com a medalha de prata e o segundo com a de bronze.
Chegados ao Japão, cumpriram a parte final do seu acordo. Levaram as duas medalhas a uma joalharia para serem cortadas a meio e fundidas novamente, passando as duas insígnias a ser compostas por uma metade de prata e outra de bronze.
Efectivamente, nenhum deles se tinha superiorizado ao outro na competição e, por esse motivo, acabaram por acertar contas da forma mais justa.



Suplentes… vitoriosos (1964)
George Hhungerford e Roger Jacksons só se deslocaram até Tóquio na condição de suplentes da tripulação canadiana que ia alinhar na prova de remo de shell de 8.
Para os compensar, os responsáveis pelo remo daquele país permitiram que os dois fizessem equipa na competição de dois sem timoneiro. Treinaram juntos durante seis semanas e a primeira vez que competiram foi na primeira ronda de qualificação do torneio olímpico.
Na final, foram a grande surpresa, ao conquistarem a única medalha de ouro que o seu país alcançou em Tóquio.
Um triunfo tão inesperado que não foi presenciado por um único jornalista canadiano.



Águia ausente (1984)
À última hora, o Comité organizador de Los Angeles’84 teve de trocar o patriotismo pela tecnologia. Um dos momentos culminantes da cerimónia de abertura deveria ser a chegada ao coliseu de uma águia imperial americana, símbolo do país.
Só que a ave, treinada e supertreinada, ao longo de vários meses, deixou o mundo dos vivos quatro dias antes… do dia da sua vida.
Num brilhante improviso, os californianos deitaram mão ao “espacial” homem-foguetão – um “produto” Walt Disney – e, assim, maravilharam o mundo com a sua tecnologia.




(in "jogos Olímpicos - Um século de glória", edição jornal O Público)

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Memória olímpica (IX)


O senhor atletismo

A primeira medalha do atletismo português, conquistada em 1976, bem como o primeiro título olímpico nacional, em 1984, ambos alcançados por Carlos Lopes, tiveram um obreiro: Mário Moniz Pereira. Um técnico que teve o grande mérito de acreditar que, com algumas condições, os nossos atletas também podiam ser campeões.
Durante anos, o experiente treinador do Sporting e dos melhores atletas nacionais foi aprendendo que os seus pupilos só se diferenciavam dos homens que os venciam porque treinavam menos.
Uma longa carreira, na qual contam dez presenças em jogos olímpicos, de Londre’48 a Barcelona’92, intervalada apenas em Melbourne’56, porque o atletismo português não se fez representar, e em Moscovo’80, dado os seus atletas terem optado por aceirar a sugestão de boicote feita pelo governo.
Moniz Pereira já tinha ficado por duas vezes à porta do sucesso, quando atletas seus se abeiraram das medalhas. Álvaro Dias na prova do salto em comprimento dos campeonatos da Europa, em 1950 – “só não ganhou por se ter lesionado”, garante o técnico – e Manuel de Oliveira, nos jogos olímpicos de Tóquio, nos 3000 metros obstáculos. Dois quartos lugares que não fizeram desanimar um homem que como atleta apenas por uma vez vestiu a camisola da selecção nacional, curiosamente na sua segunda modalidade, o voleibol.
Moniz Pereira sabia esperar (começou a carreira em 1945), como sabia lutar contra as contrariedades, como lhe aconteceu aos 29 anos. Nessa altura, não foi por ter sido impedido de continuar a praticar o atletismo, alegadamente por profissionalismo (estatuto que lhe foi atribuído por ser professor de Educação Física), nem por ter ficado às portas da internacionalização (foi suplente num Portugal-Espanha) que trocou o primeiro amor desportivo da sua vida pelo segundo, o voleibol.
Nesta modalidade teve o prazer de jogar até aos 50 anos e de ser campeão nacional numa equipa, o CDUL, onde também se integrava o seu filho.
Com as alterações políticas registadas em Portugal em 1974, Moniz Pereira percebeu que era chegada a hora de convencer os governantes da sua convicção de que “era tudo uma questão de trabalho e de haver condições para esse trabalho se desenvolver”.
No ano seguinte, recebeu “luz verde” para o seu projecto. A partir de Outubro – a menos de um ano dos jogos de Montreal -, um grupo de sete atletas passou a estar liberto dos respectivos empregos da parte da manhã e a cumprir um horário laboral entre as 14 e as 16 horas. Só assim era possível fazer treino bi-diário.
Os resultados surgiram muito rapidamente. A partir de Janeiro, Carlos Lopes não perdeu qualquer prova. Em Março, alcançou o seu primeiro título mundial de corta-mato.
O técnico, contudo, só acreditou que a primeira medalha seria uma realidade quando Lopes, como atleta convidado de um encontro entre a RFA e a URSS, melhorou o record nacional dos 10 000 metros, em 45 segundos, fixando-o num tempo com valia internacional: 27 minutos e 45,8 segundos.
Em Montreal’76, Carlos Lopes foi o cartão de visita de uma delegação histórica. Mas, também José Carvalho (quinto lugar), Aniceto Simões (oitavo posto) Fernando Mamede e Hélder Jesus, que passaram as respectivas eliminatórias, fizeram vibrar o país. Uma actuação colectiva brilhante, que teve por base, segundo o seu responsável, o facto de ser “uma equipa unida, que treinava sempre em conjunto e com o mesmo treinador”.
Moniz Pereira: um homem com ideias próprias e com a mesma postura patriótica de sempre. Por isso, não tem qualquer rebuço em afirmar que depois de ter assistido a dez edições dos jogos, “Lopes e Mamede foram os melhores atletas mundiais de sempre!.



(in “Jogos Olímpicos – um século de glória”, edição jornal O Público)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Outro figueirense na China

O treinador da selecção nacional de remo sub-23, o figueirense Augusto Alberto, parte no próximo dia 29 para Pequim.
O ex-maratonista e campeão nacional de remo vai fazer o acompanhamento técnico a uma jovem paraplégica, na edição 2008 dos Jogos Paraolímpicos.
Um abraço ao meu camarada Augusto Alberto e o desejo de uma boa prova da sua atleta.

Ganda Nelson!

«Estou radiante! Como em Osaka, ainda não consigo acreditar. Afinal foi tão rápido. Custou! Vou demorar alguns dias a digerir este momento. Agradeço a todos os portugueses, a todos os PALOP, recebi apoio de todos. Foi bom ter sentido esse apoio, porque acaba por aproximar as pessoas. Todas juntas, provou-se, conseguem fazer coisas bonitas. Cada título tem um gosto especial. Este é diferente. Nos próximos quatro anos serei campeão olímpico, isso ninguém me poderá tirar. Esforço? Nem podem acreditar como me esforcei para estar aqui. Foi um ano difícil. Toda a equipa esteve bem. Toda a gente bateu recordes pessoais, melhores marcas do ano. Lutaram com campeões olímpicos e do mundo e ninguém mais do que os atletas queria fazer melhor. A equipa olímpica esteve espectacular. As pessoas deviam ter a dimensão das outras equipas. As medalhas não são tudo! A selecção? Está muito unida. Agora só quero falar com os meus pais e estar com os amigos, que sempre acreditaram».

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Memória olímpica (VIII)

Curiosidades (I)

Nighthorse Campbell (1964)
A história dos Jogos Olímpicos escreve-se falando dos grandes campeões, mas também dando conta da existência de atletas que acabaram por se destacar (no desporto ou fora dele) mesmo sem terem conhecido o ouro. Está entre estes últimos o senador norte-americano Ben Nighthorse Campbell.
A sua vida dava para sustentar um argumento de um bom filme, a começar pela rara combinação das suas origens: filho de pai índio (da tribo cheyenne) e de uma mãe… portuguesa.
A doença (tuberculose) da emigrante açoreana que o deu à luz em 1933 e os desmandos alcoólicos do pai contribuíram para uma adolescência agitada, apenas serenada no desempenho do serviço militar, na guerra da Coreia.
Foi, aliás, a ida para a península da discórdia que fez com que Campbell enveredasse pelo desporto, tornando-se praticante de Judo, a modalidade que o levaria até aos jogos de Tóquio, como melhor membro da equipa dos EUA.
O torneio olímpico não lhe correu da melhor forma, estando ainda hoje convencido de que o facto de ter partido o nariz num dos combates o impediu de chegar ao pódio.
Depois de 1964, ainda se manteve ligado à modalidade, como instrutor, mas acabaria por se lançar noutros voos: primeiro, foi um joalheiro de nomeada e, depois, enveredou pela política. Aí teve mais êxito do que no desporto: nas eleições de 1992, mais de 200 anos depois da fundação dos EUA, tornou-se no primeiro índio a ter assento no senado.


Stylianos Mygiakis (1980)
Após duas dezenas de edições e mais de uma centena de campeões, finalmente um atleta grego conseguiu conquistar uma medalha de ouro na luta… greco-romana.
Stylianos Mygiakis triunfou no escalão de menos de 62 quilos. Foi o único atleta do país onde nasceram os jogos que venceu em Moscovo, onde quebrou um longo jejum de 20 anos. É que a Grécia não alcançava um primeiro posto desde 1960.


Murray Rose (1960)
O australiano Murray Rose tornou-se, em Roma, o primeiro nadador a conquistar dois títulos consecutivos na prova de 400 metros livres.
Curiosamente, em ambas as finais o segundo posto pertenceu também ao mesmo homem, o japonês Tsuyoshi Yamanaka.
Mais curioso ainda é o facto de em ambas as provas os dois atletas terem ficado separados pela mesma diferença cronométrica: 3,1 segundos.


Índia mais bonita (1988)
Numa competição destinada a premiar os melhores do mundo, a Índia, não tendo atletas ou equipas para lutar pelos primeiros postos, jogou os seus argumentos logo no primeiro dia.
Na delegação que desfilou na cerimónia de abertura integrou-se a Miss Mundo de 1988. Não era atleta, mas ninguém colocou em causa a sua presença.



Derartu Tulu (1992)
Trinta e dois anos depois de um etíope ter conquistado o primeiro título olímpico para a África negra – Abebe Bikila, vencedor da Maratona dos jogos de Roma -, uma atleta do mesmo país cometeu a mesma proeza no sector feminino.
Derartu Tulu ganhou os 10 mil metros, uma prova empolgante, na qual a etíope teve como principal adversária a sul-africana Elana Meyer.
A volta de honra que as duas fundistas deram à pista foi um dos momentos mais significativos de Barcelona’92, duas africanas, uma branca e outra preta, de mãos dadas, simbolizaram na perfeição o regresso à família olímpica do país onde o apartheid fora abolido havia pouco tempo.


Fato proibido (1976)
A equipa da Alemanha Federal que conquistou o título na prova de ciclismo de 4000 metros perseguição colectiva apresentou duas importantes inovações.
Os pneus das bicicletas dos quatro germânicos foram enchidos com hélio, por se tratar de um gás mais leve do que o oxigénio.
A outra novidade não foi aceite: a utilização de um fato de uma só peça. Muitos anos mais tarde, esse equipamento, considerado mais aerodinâmico, foi adaptado numa série de modalidades.





(in "Jogos Olímpicos – Um século de glória", edição jornal O Público)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

19 de Agosto de 1936

Les guitares jouent des sérénades
Que j'entends sonner comme un tocsin
Mais jamais je n'atteindrai Grenade
"Bien que j'en sache le chemin"

Dans ta voix
Galopaient des cavaliers
Et les gitans étonnés
Levaient leurs yeux de bronze et d'or
Si ta voix se brisa
Voilà plus de vingt ans qu'elle résonne encore
Federico García

Voilà plus de vingt ans, Camarades
Que la nuit règne sur Grenade

Il n'y a plus de prince dans la ville
Pour rêver tout haut
Depuis le jour où la guardia civil
T'a mis au cachot

Et ton sang tiède en quête de l'aurore
S'apprête déjà
J'entends monter par de longs corridors
Le bruit de leurs pas

Et voici la porte grande ouverte
On t'entraîne par les rues désertées
Ah! Laissez-moi le temps de connaître
Ce que ma mère m'a donné

Mais déjà
Face au mur blanc de la nuit
Tes yeux voient dans un éclair
Les champs d'oliviers endormis
Et ne se ferment pas
Devant l'âcre lueur éclatant des fusils
Federico García

Les lauriers ont pâli, Camarades
Le jour se lève sur Grenade

Dure est la pierre et froide la campagne
Garde les yeux clos
De noirs taureaux font mugir la montagne
Garde les yeux clos

Et vous Gitans, serrez bien vos compagnes
Au creux des lits chauds
Ton sang inonde la terre d'Espagne
O Federico

Les guitares jouent des sérénades
Dont les voix se brisent au matin
Non, jamais je n'atteindrai Grenade
"Bien que j'en sache le chemin"


Samuel recorda aqui um dos muitos horrendos crimes dos fascistas. Este foi em Espanha e faz hoje 72 anos. É importante não esquecermos.
Les lauriers ont pâli, Camarades.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Memória olímpica (VII)

Emil Zátopek (Atletismo – Chescoslováquia)



O único homem a vencer os 5.000, os 10.000 e a Maratona numa mesma edição dos Jogos Olímpicos. Foi em Helsínquia’52, e nas 3 provas conseguiu estabelecer novos records olímpicos, com a particularidade de a prova da Maratona ter sido a sua primeira experiência.
Quatro anos antes, Londres’48, já havia vencido a dupla légua e conseguido a segunda posição nos 5.000 metros. Entre 1948 e 1954 venceu 38 provas de 10.000 metros e, nos europeus de 1950, em Bruxelas, ganhou os 5.000 e os 10.000 metros e nos de 1954, em Berna, venceu os 10.000 e foi 3º na légua.
Ficou conhecido pelo “locomotiva humana”. Em 1956, nos jogos de Melbourne, foi correr a Maratona, contra os conselhos dos médicos, pois a prova aconteceu 45 dias após uma operação a uma hérnia. Os médicos tinham razão: a “locomotiva” atrasou-se seis apeadeiros.
Zátopek ficou ligado a novos métodos de treino, utilizando estratégias inovadoras para a época que forneceram bases para pesquisas científicas.

sábado, 16 de agosto de 2008

Poema

Kinaxixi

Gostava de estar sentado
num banco do Kinaxixi
às seis horas duma tarde muito quente
e ficar…

Alguém viria
talvez sentar-se
sentar-se ao meu lado

E veria as faces negras da gente
a subir a calçada
vagarosamente
exprimindo ausência no kimbundu mestiço
das conversas

Veria os passos fatigados
dos servos de pais também servos
buscando aqui amor ali glória
além uma embriaguez em cada álcool

Nem felicidade nem ódio

Depois do sol posto
acenderiam as luzes
e eu
iria sem rumo
a pensar que a nossa vida é simplesmente afinal
demasiado simples
para quem está cansado e precisa de marchar.


Agostinho Neto (1950, in "Sagrada Esperança")

Outro deus das piscinas


Michel Phelps igualou o record de medalhas de ouro numa mesma edição olímpica, conseguindo o mesmo número que o seu compatriota Mark Spitz nos Jogos de Munique, em 1972.
São agora os dois únicos recordistas com 7 medalhas mas Phelps pode ainda obter a oitava, já amanhã, se vencer a última prova que lhe falta, despedindo-se dos jogos também com um lugar cativo na história.
Onde Phelps só pode igualar a estrela de Munique é no número de records mundiais batidos. Spitz bateu os sete, ou seja, nas provas em que participou. O actual campeão não o conseguiu esta madrugada nos 100 metros mariposa.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Memória olímpica (VI)


Teófilo Stevenson (Boxe – Cuba)

Não fosse o boicote aos J. O. de 1984 e, aquele que é considerado o melhor atleta amador de sempre, teria um lugar especial no areópago dos deuses: seria o único pugilista tetracampeão olímpico.
Assim, o tri conseguido em 1972, 1976 e 1980, tem a companhia do húngaro Lazlo Papp (1948, 52 e 56) e do seu compatriota Felix Savon (1996, 2000 e 2004).
Em Montreal a vitória de Teófilo Stevenson traduz a sua superioridade nos ringues: todos os combates foram resolvidos por K.O. Quatro anos mais tarde, em Moscovo, o seu adversário da meia-final ficou famoso pela maneira como ao longo dos 3 assaltos fugia à volta do ringue para evitar uma derrota humilhante.
Recebeu muitos convites, irrecusáveis, para enveredar pelo profissionalismo. Nunca aceitou dizendo que preferia a admiração de 8 milhões de cubanos.
Terá perdido fortunas, tendo até recusado defrontar Ali para o título mundial, mas o dinheiro nunca o seduziu. Fiel ao amadorismo dizia não trocar o seu pedaço de Cuba por dinheiro nenhum deste mundo.
O actual treinador da selecção cubana tem ideias muito próprias sobre o boxe profissional. Stevenson, na primeira pessoa: “No boxe profissional, o pugilista é um simples objecto: pode ser comprado, vendido ou, quando não tem mais utilidade, deitado fora”.
Coleccionou dezena e meia de derrotas nas perto de três centenas de combates que realizou e nunca foi derrotado por KO.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Kinaxixi... já era


Palavras para quê, é Portugal no seu melhor, ou será no pior...

Porque há coisas repugnantes que me conseguem indignar solenemente. O título do post roubei-o a um comentário deste outro post, para onde vos direcciono, para partilharem da minha indignação.
Porque é o que resta, mais palavras para quê? Se quiserem ter a bondade....

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O jornalismo copy/past

Do jornalismo figueirense, penso, está tudo dito. O jornalismo do politicamente correcto, do agradar ao poder, do não fazer ondas. Essas coisas todas. Mas, que diabo, podiam ter algum cuidado, quer dizer, alguma preocupação em informar os seus leitores, com um mínimo de veracidade.

É raro passar-lhe os olhos por cima, mas desta vez, e se calhar com algum atraso, dei com um desses trabalhos jornalísticos de copypast na edição do passado dia 6 do corrente. E dei com ele por se tratar de um texto meu, publicado aqui neste bloguito. Sobre Rafael de Sousa, um dos atletas olímpicos figueirenses.
Neste texto existe um erro, que o deixei propositadamente após ter sido corrigido por um anónimo que me fez o favor de o corrigir, num comentário. Agradeci a correcção e justifiquei o meu erro. Porque este meio de comunicação não é propriamente um órgão de comunicação social no seu sentido lato, penso que um visitante de um blogue também terá interesse em ver os comentários ou em comentar. Assim, a minha incorrecção não terá levado ninguém em erro, muito por via do referido anónimo, que, também, diga-se em abono da verdade, me elucidou. Mesmo sabendo do erro, fiquei com a consciência tranquilíssima.
O jornal em questão é o “A voz da Figueira” e o erro é que o nome de Rafael de Sousa não foi atribuído à carreira de tiro em 1932, ano em que o atirador foi a Los Angeles, aos Jogos, mas sim nos inícios dos anos 80, pela CMFF. O atirador quiaiense faleceu, a 20 de Outubro de 1982, com 82 anos.
Como copiar é fácil podiam também ter copiado os comentários, fornecendo assim uma informação mais completa e fidedigna.
(A foto de Rafael de Sousa foi-me cedida pela Junta de Freguesia de Quiaios. Aqui deixo os devidos agradecimentos)

Memória olímpica (V)

Jesse Owens (Atletismo - EUA)




Ressalve-se a subjectividade destas coisas, mas Jesse Owens foi considerado o melhor atleta de sempre. Nos jogos de 1936, em Berlim, em que foi a estrela mais cintilante, teve o desplante de deitar por terra as teorias de Adolf Hitler sobre a superioridade da raça ariana. Digamos que foi um digníssimo representante da Humanidade.
Este negro criado nas plantações de algodão do Alabama demonstrou, ao vencer 4 medalhas de ouro, a fraude daquelas teorias. Obrigou o chanceler alemão a abandonar o estádio na cerimónia da entrega das medalhas, vergado ao peso da vergonha, quando ganhou a última, no salto em comprimento, conseguindo, no último salto, 8,06 metros contra os 7,87 do alemão Lutz Long.
Owens além do salto em comprimento venceu também os 100 e 200 metros e a estafeta 4x100 metros.
Contestou os defensores do “black power” apoiando as sanções que foram infligidas aos atletas do México-68, mas arrependeu-se uns anos mais tarde, publicamente, através de um livro.


As lições do desporto
Não são raras as lições de humanismo que nos chegam do desporto. O caso recente das atletas russa e georgiana lembram-nos a qualidade de governantes que vamos tendo, cujas acções se afastam, quase sempre cegos pela ambição mesquinha e incompreensível, das aspirações humanas.
Este, de Owens, é um exemplo entre muitos:

O “eterno” duelo entre um branco alemão e um negro americano, protagonizado por Lutz Long e Jesse Owens no salto em comprimento, fez nascer uma sólida amizade entre os dois atletas.
Na prova de qualificação, Owens, após ter anulado dois ensaios, conseguiu o apuramento na última tentativa porque o seu rival o aconselhou (em bom inglês) a começar a corrida de balanço um pé atrás do que estava a fazer.
Entre Long e Owens, a partir desse momento, nunca mais houve qualquer preconceito rácico.
Quando o germânico morreu, em 1943, na II Guerra Mundial, na frente italiana de San Pietro, Owens ficou tremendamente abalado. E, mal o conflito terminou, o tetracampeão olímpico deslocou-se à Alemanha para conhecer o único filho de Long, passando a ajudá-lo materialmente
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(in Jogos Olímpicos – Um século de glória, edição jornal o Público)

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Memória olímpica (IV)

Cassius Clay (Boxe – Estados Unidos da América)

Aos 18 anos conquistou a glória ganhando a Medalha de Ouro no torneio olímpico de Roma, em 1960. Aos 22, derrotou Sonny Liston e tornou-se pela primeira vez campeão do mundo.
Iniciava assim uma carreira brilhante que o levou a ser considerado por muitos especialistas como o melhor peso pesado de sempre. Durante a qual, em 61 combates, sofreu apenas 5 derrotas, com a particularidade de 37 vitórias terem sido obtidas por K.O.. Em 1999, a revista americana “Sport Illustrated” elegeu-o como o desportista do século.
Elegante e com um estilo muito próprio, a tenacidade era um dos seus muitos atributos: durante um combate, em 1973, contra Ken Norton, aguentou 12 assaltos com o maxilar partido e não foi ao tapete.
Em 1967, por motivos políticos, foi-lhe retirado o título mundial. Negou-se a combater no Vietname, numa guerra que não era dele, nem do seu povo, nem do seu país. Condenado a 5 anos de prisão, foi lá que se converteu ao Islamismo e adoptou o nome de Muahmmad Ali.
Já os vimos, por muito menos, serem galardoados com o Nobel da Paz, mas ele nunca chegou sequer, tanto quanto sei, a ser referenciado para tal. Seria merecido e justificado, não tenho dúvidas, uma vez que também deu a cara na luta contra o racismo.
Pronto, está bem… a medalha de ouro foi parar às águas do rio Ohio. Depois dele e de um seu amigo terem sido impedidos de comerem num restaurante exclusivo para brancos. Depois de, à saída do restaurante, terem sido atacados por um gang de motoqueiros brancos que lhe exigiam a medalha que ele orgulhosamente exibia. Os motoqueiros ficaram maltratados e o amigo colocou a medalha ao peito. Clay, pela primeira vez, via a medalha tal como ela era: “um simples objecto”, contaria ele mais tarde.
Em 1996 acendeu a chama olímpica para o início dos jogos de Atlanta.

Iniciem-se os Jogos


"A desonra não consiste em ser derrotado. Ela reside em não se bater até ao fim"


"Pierre de Coubertin"

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

...e foi o mais cruel, o mais monstruoso, o mais bárbaro morticínio da história







A espécie do salário

O Partido Socialista não pára de surpreender na sua cruzada para modernizar o país.
Depois de ter inventado os salários em atraso e os contratos a prazo nos finais dos anos 70, acaba agora de inventar o pagamento de salários em espécies.
Com um partido destes para que é que o capital precisa de partidos de “Direita”?
Mas esta nova modalidade levanta muitas dúvidas e questões que aqui são colocadas.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Memória olímpica (III)

Carlos Lopes (Atletismo – Portugal)


" Indiferente, soberbo, atleta de busto ligeiro e pernas de puro-sangue, Carlos Lopes parecia um cavaleiro solitário, tendo inscrito na fronte a certeza da sua superioridade."
Jornal L’Equipe, Mundial de Corta-Mato, 1976



Los Angeles. Olimpíadas de 1984. São quatro da madrugada de 12 de Agosto em Portugal e um pequeno e franzino beirão é o responsável por todo o país estar acordado. Prepara-se para correr 42 quilómetros e alguns metros. É falsa a fragilidade que o seu corpo denuncia: ele carrega nos ombros a esperança e a remissão das frustrações de todo um povo.
Carlos Lopes conseguiria, pela primeira vez, que a “Portuguesa” fosse ouvida na cerimónia olímpica de entrega de medalhas.
Uma vitória que por razões bastante dúbias lhe tinha fugido 8 anos antes, em Montreal, nos 10.000 metros. Facto a que Lopes nunca se referiu. Possivelmente o único a nunca tecer considerações sobre. Ele é assim, a humildade em Lopes é mesmo feitio. Nunca tinha desculpas para as derrotas. Talvez porque nunca as há. Limitava-se a dizer ao mais incrédulo dos jornalistas, após uma derrota inesperada, que correu tudo bem, apenas os adversários foram melhores. Em Los Angeles não foram. Como quase sempre não foram. Ainda hoje, se passarem por ele e lhe perguntarem como é que perdeu o ouro em Montreal, ele dir-vos-à que simplesmente Viren foi melhor. Não sabemos se foi, não sabemos se Lopes foi derrotado por um atleta ou pela ciência. Uma dúvida que permanecerá.
O seu curriculum internacional, para além das medalhas olímpicas, é, utilizando o adjectivo do L'Equipe, soberbo. Tri-campeão mundial de Corta-Mato (1976, 84, 85), vice-campeão mundial de Corta-Mato (1977, 83), o primeiro homem a fazer menos de 02H08m na Maratona (Roterdão-85), recordista europeu dos 10.000 metros.
Em 1984 foi considerado pelos jornalistas de Espanha o melhor desportista do ano, prémio que recebeu das mãos do rei Juan Carlos.
Lopes corria com inteligência e classe. As mesmas qualidades que o impediam de responder obviamente a perguntas óbvias. Perguntaram-lhe se foi dura a prova, como se correr 42 quilómetros e picos fosse coisa de somenos. Ouçam a reposta: “Se foi dura a Maratona? Não, foram os 42 kms. do costume…”.

domingo, 3 de agosto de 2008

Há cadeiras e cadeiras…

(Foto: alex campos, Casa Museu de Camilo Castelo Branco)


A aniversariante de hoje é uma boa cadeira. De boa memória, diga-se. Deveria ocupar lugar de destaque num qualquer museu da resistência. Em última análise, também terá prestado o seu contributo.
Da cadeira da foto é que eu já não gosto nadinha. Não é que ela incomode, está há perto de 120 anos no mesmo sítio. Mas foi nela que se sentou Camilo Castelo Branco no dia 1 de Junho de 1890.

Os porta-bandeiras


Nelson Évora, campeão mundial do triplo-salto e João Ntyamba, maratonista angolano, foram nomeados pelas respectivas missões para desempenharem a função de porta-bandeira na cerimónia de abertura dos jogos olímpicos no próximo dia 8.
Se Nelson Évora é um sério candidato à vitória, Ntyamba vai pelo menos bater o record de presenças olímpicas ao alinhar pela sexta vez na maratona. O melhor registo do atleta angolano, que conta 39 anos e já representou o Belenenses e o Benfica, foi o 16º lugar há 8 anos, em Sidney. Em Atenas ficou em 32º depois de correr lesionado mas “terminar era a única coisa que me interessava. Não me lembro de alguma vez ter desistido numa corrida e não ia desistir na mais importante de todas”.
Em Pequim tudo pode acontecer.
Saiam já duas medalhas aqui para esta mesa.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Memória olímpica (II)




Nasceu uma bandeira


A largada de pombos na cerimónia de abertura dos Jogos de Antuérpia estava longe de ser uma inovação, pois já em Atenas, em 1896, as aves da paz tinham sido incluídas na liturgia olímpica. A novidade de 1920 estava no número de columbinas (2606, tantas quantos os atletas presentes) e no facto de cada uma ter seguro numa pata uma fita com a cor do país do participante que representava.
A largada de pombos de Antuérpia era, apenas, um primeiro sinal de um conjunto de símbolos que se tornariam constantes a partir daí.
Foi em Antuérpia que se ouviu pela primeira vez um atleta (Victor Boin) proclamar: “Nós juramos que nos apresentamos nos Jogos Olímpicos como competidores leais, respeitadores dos regulamentos que os regem e desejosos de neles participar com espírito cavalheiresco, para honra dos nossos países e glória do desporto”.
O julgamento inspirava-se, como acontece com toda a liturgia olímpica, nos jogos da antiguidade, nos quais a cerimónia do juramento consistia em colocar a mão direita sobre o altar sagrado e, voltado para a estátua de Zeus, o atleta furar, em voz alta, “acatar o regulamento dos jogos, de não ter cometido nenhum sacrilégio e de competir com inteira lealdade”.
Também da antiguidade provém aquele que hoje identificamos como o símbolo máximo dos Jogos: os anéis olímpicos. Tal como o juramento, foram idealizados pelo Barão de Coubertin, que entendeu poderem os cinco anéis esculpidos no altar de Delfos – cujas ruínas tinham sido encontradas por uma expedição arqueológica francesa, no final do século XIX – representar o seu movimento e a sua mensagem de paz.
Preparavam-se os jogos de 1912 e Coubertin decidiu plasmar os anéis numa bandeira, toda branca, que encomendou aos armazéns parisienses “Au Bon Marché”, com a recomendação de que fosse feito apenas um exemplar.
O Barão idealizara que, sobre o fundo branco, os cinco anéis, entrelaçados, fossem pintados nas cores vermelha, verde, amarela, preta e azul. Ao contrário do que é comum afirmar-se, não existe correspondência directa entre as cores e os cinco continentes que representam os anéis olímpicos. As cores foram seleccionadas, apenas, de forma a conter os tons usados nas bandeiras nacionais dos países do mundo.

Regista a história que a ideia do presidente do COI era entregar o estandarte olímpico na cerimónia de abertura dos jogos de Estocolmo, mas terá sido convencido a não o fazer pelo seu colaborador e amigo Angelo Bolanaki (também ele membro do COI), que lhe pediu que guardasse a apresentação do estandarte para 1914, ano da comemoração do 20º aniversário da fundação do movimento olímpico.
Assim, a bandeira apenas apareceu pela primeira vez aos olhos do público no Egipto, na cerimónia de inauguração do estádio de Chatby, no mesmo ano em que, em Paris, a assembleia do COI a consagrou oficialmente como símbolo da organização olímpica mundial.
O símbolo estava adoptado, mas a guerra eclodia e os jogos de 1916 (que deveriam ter lugar em Berlim) viriam a ser anulados. Apenas em Antuérpia, em 1920, a bandeira olímpica compareceu nos Jogos, para não mais deixar de estar presente, dominando o estádio, lá do alto do mastro mais alto, como símbolo de paz e da unidade dos cinco continentes.


(in "Jogos Olímpicos - Um século de glória", edição jornal O Público)