terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Crónicas em desalinho (VII)

Um breve comentário a meio da publicação das Histórias de mineiros


Augusto Alberto

Chegados a meio da publicação destas histórias, quero fazer breves, e creio que justos, comentários, antes que o tempo e a oportunidade se percam.
É justo que o anónimo neo-liberal diga que as histórias são um pouco naifs. Eu próprio hoje lhes reconheço essa face, mas ao cabo de tantos anos nada quis mudar, porque tudo tem o seu tempo e aquelas histórias não fogem à regra. Contudo, já não resisto a comentar a sua observação acerca do tempo histórico das histórias. Acho mesmo que se trata de uma pérola que merece resposta adequada e séria.
O anónimo neo-liberal dificilmente me engana. Não andarei longe da verdade se disser que pisou as mesmas tábuas que eu pisei na Rua da República e na Rua Fernandes Tomás. Cruzou e descruzou as mesmas escadas e corredores. Foi num tempo em que disse coisas e hoje está num tempo em que diz o seu contrário, apesar de o mundo correr para pior. Não é por defeito, mas porque acabou a vestir o casaco com o forro para fora e lhe parece moda. Não é único, aliás, é hoje espécie exactamente como o camaleão, que muda de tom para salvar a pele.
Ficou incomodado, porque as histórias não passam de material dado à arqueologia social, disse. Bem dito. Incomodou o nosso amigo neo-liberal a lembrança e a denúncia de que por cá, na nossa terra, houve coisas assim tão dolorosas. Parece mentira vindo de quem pisou as mesmas tábuas. Mas não nos admiremos! Incomoda-o(s) agora os movimentos sociais, abjuram-nos, colocam os sindicalistas todos no mesmo saco, mas saibam que não é verdade, porque há uns que dão jeito de quando em vez e outros nem por isso. Pois é, bebé… E até acham que chegamos a um tempo em que os partidos políticos são todos iguais. Mas houve um tempo em que não, e o anónimo sabe disso. Houve um tempo em que uns tipos, que quando desceram à terra, parece que traziam umas pequenas hastes a modos como umas antenas, esquisitos, e que logo começaram a comer criancinhas ao pequeno-almoço e a dar umas injecções atrás das orelhas aos velhinhos. Eram maus, mas de repente, afinal viraram iguais, porque entretanto isto tornou-se uma merda e então porque pode ficar feio procurar os responsáveis, puxa-se tudo para baixo, taxando pela mesma bitola. Mas olhem que não…Procurar os responsáveis, isso sim, é preciso, para ficarmos a saber que há para aí uma tralha que gosta pouco que a destapem, que há muito saltam de galho em galho, da finança para a política e volta à finança. Pelo caminho foram montando o esquema e foram tão fundo que na ânsia de tanto chafurdar na gamela, se emporcalharam, já se sabia, e mais grave, nos deixaram à beira da exaustão económica, social, cultural e política. Os camaleões pintados convivem muito bem com esta gente sem vergonha, porque se entregaram por alguns trocos, por um lugar como vereador ou membro de uma Assembleia Municipal, um lugar de deputado ou lugar na tertúlia do patatipatatá. Ainda se fossem para executivo de uma grande empresa, como a Iberdrola, Lusoponte, ou simples companheiro rico! Acharam então nova família, no Partido Socialista, que não haja medo da denúncia ou no Partido Social-democrata, ou Partido Popular Democrático, nem sei qual a diferença. Aliás, esta coisa da banca arrancou-lhes a máscara e o véu e deu-lhes o único ar a que tem direito, opaco. Se não fossem todos da mesmíssima trindade, teria o Partido Socialista aproveitado esta coisa dos bancos, BPN e do BPP, para degolar o PPD/PSD, mas acontece que o Partido Socialista não quer mexer muito nesta imundice porque ainda se vai também publicamente emporcalhar. Embora já se soubesse…! Sempre lhes pareceu que nenhum mal lhes viria. De volta e meia até lhes dá jeito colocar flor na lapela, falar desta prosaica democracia, mas sem vergonha, não se vêem todos juntinhos como gente sem eira nem beira moral.
Ora aqui está a democracia e os seus democratas, também alguns opinadores quase oficiais, que não discorrem que afinal, dentro de, sei lá, 20, 30 anos, as brilhantes opiniões de hoje, serão lidas como, pasme meu caro neo-liberal, arqueologia opinativa, toma…e que descaradamente, hoje, convivem com o que de pior este mundo tem. E olhe meu caro anónimo neo-liberal, os factos das histórias já lá vão hão mais de 50 anos, mas…
Lembro-lhes que um dia as coisas hão-de acontecer, porque nesta Europa rica, há bem pouco, na Paris das luzes, 7 mendigos morreram de fome e frio na calada da noite, nos Estados Unidos, gente há que começou a vender o corpo para matar a fome, que pela América Latina continua a morrer gente nas enxurradas de lama, que na Rússia liberta, até que enfim, são aos magotes os jovens que se espojam pelo chão na frente das montras do majestoso consumo, para aproveitar o bafo quente dos novos néons, por fim chegaram, para enganar as noites frias, e que por esse mundo fora há gente que tendo emprego, mas porque o salário não chega, toca a ir à sopa dos pobres, continuando a comer as côdeas que os diabos vão deixando. E eu a julgar que essa marca tinha acabado, digo, com o nosso fascismo, mas afinal ainda acontece. Então dou-me a pensar que não estamos perante cenas da arqueologia social, mas de quadros reais. É por isso, pelos vistos, que o anónimo não é liberal, porque nem sei o que isso é, gosto mais de colocar a chapa, trânsfuga, como todos os que desistem. Mas não fique preocupado, porque eu tenho essa mudança na conta de um democrático direito.
Depois admirem-se se as pessoas se chatearem e vai de varrer tudo, como há uns tempos em Paris, e por hora, está a ir tudo raso na Grécia. Cá por mim, estou um pouco mais despreocupado porque não tenho carro estacionado na rua a jeito de levar com petardo ou tocha. Cagar o mundo também não, porque graças ao meu feitio e resistência, aos 60, continuou a correr e a andar de bicicleta. Também sou da ecologia. Mas lá que me vou rindo, aí isso vou. E que eu saiba a electrónica ainda não inventou um caça risos para nos sinalizar e demonizar.
Pode o anónimo neo-liberal dar o troco, estou certo que o fará, mas não importa, porque não muda em nada a minha opinião. Antes pelo contrário, como diz o ditado: - tudo o que disser será sempre contra si. Aconselho-o a começar a cuidar da sua imagem política.
Disse.

8 comentários:

Zorze disse...

Alex,

Mas que grande e belo artigo.

Abraço,
Zorze

Fernando Samuel disse...

Oportuníssimo comentário.

Abraço.

Anónimo disse...

Sr. Alberto Augusto: aqui estou não a dar-lhe o troco que solicita, pois na sua prosa há um tremendo equívoco acerca da minha humilde pessoa. Não sendo, portanto, quem o sr. julga, nem conhecendo a quem julga dirigir-se, não tenho nenhum argumento a contapor ao que diz. É justo.

Anónimo disse...

VANDALISMOS OU CONTESTAÇÕES

(...)
Suponhamos que os meninos que na Grécia queimam carros, destroem edifícios e agridem quem lhe aparece pela frente – como se esse fosse um seu direito natural – em vez de se dizerem anarquistas ou activistas de esquerda, se reivindicavam nazis. Será que seriam tratados com a mesma bonomia para não dizer cumplicidade mediática?.
(...)
(...) infelizmente está combinado que se o vandalismo for praticado por grupos que, mesmo que muito longinquamente, se possam dizer de esquerda ou identificar com ela, então passam de vândalos a activistas contestatários, jovens um pouco exaltados em processo de contestação a uma sociedade decadente e ela sim culpada por tudo aquilo que eles fazem ou não fazem. (...)

Helena Matos, in PUBLICO

Anónimo disse...

Sr. alberto, isso de breve olhe que tem muito pouco.

Anónimo disse...

Estes incorrigíveis comunistas embrenhados no nevoeiro do passado, confundem teimosia com coerência...

alex campos disse...

Não tenho o hábito de eliminar comentários, penso que nunca o fiz, por menos que goste deles ou me identifique com eles.
Daí ter a necessidade de dizer que me custa ter aqui citações que um anónimo entendeu por bem transcrever, citações essas de uma pessoa sobre a qual eu tenho a opinião de que é atrasada mental. Opinião essa alicerçada em outrs escritos da "pobre" senhora.
Mas se o anónimo quiser ser original e pensar pela sua própria cabeça, ficava-lhe bem.
Ou então se não quiser pensar por si ,esmo escolha outra pessoa, talvez decente, sei lá, para copiar.

Anónimo disse...

Que triste atitude a do Alex. Campos em usar o termo "atrasado mental", cuja conotação além de cientificamente ultrpassada, é discriminatória de cidadãos deficientes com os mesmos direitos que nós. Depois de tanto elogiar os parolímpicos, não há coerência ao usar esta denominação... Um dos últimos a rejeitar PESSOAS com estas características intelectuais foi o ditador comunista Ceaucesco, na Roménia.