domingo, 10 de maio de 2009

A ciclovia

Augusto Alberto

O lago di Varegio tem os Alpes por perto e está cercado por pequenas povoações, uma delas Gavirate, lugares de vivendas, em Italiano, vilas, onde a classe média de Milão, a cerca de 40 km, faz férias ou o repouso do fim-de-semana. O lago não é grande e está cintado por uma pista pedonal e ciclável, feita túnel pelas copas das árvores em boa parte e com um perímetro de cerca de 30 km. São às centenas os Italianos efusivos, afáveis e sonoros que por ali andam, correndo ou pedalando nas suas brilhantes bicicletas. Convêm dizer que naquela zona é grande o gosto pelo ciclismo e também pelo remo.
Claro está, que também eu, num momento de pausa nas minhas tarefas técnicas, dei curso ao meu bichinho e tratei de me equipar e correr, cerca de 70 minutos. Como sempre, é um hábito adquirido, pensei e reflecti sobre muitas coisas. Tentei ligar e juntar ideias e a primeira coisa sobre que reflecti, foi o facto de, há um par de anos, ter ficado a saber que um senhor vereador da minha terra, hoje distinto deputado pátrio, ter classificado como a melhor da Europa, a ciclovia, em zona urbana, os cerca de 4 km de pista criada ao longo da avenida oceânica da minha cidade. Já na altura me pareceu que o distinto vereador estava a exagerar e a falar para tolos, e nesse instante da minha corrida, confirmei essa impressão. Exactamente durante a minha corrida ao longo da pista do lago di Varegio, estive a pensar como dizer neste pequeno texto o que penso, aparentemente a destempo, porque já vão anos, mas é sempre bom que se diga, sobre a forma como nos tratam e dizem as coisas. Então eu acho que devo dizer, apesar de saber que o actual deputado da nação, não lerá este simples texto, que presunção… o seguinte:
Tal como a roda foi inventada há muitos anos e hoje é de uso universal, também as ciclovias por essa Europa adiante, são de uso lúdico também há muitos anos. Não valia a pena tanta palavra e fogo para celebrar coisa tão simples e já muito vista. Tomo isso, como uma “boutade”, à conta de alguma vaidade, ou então...
É certo que de um modo geral as coisas sempre chegaram, ou ainda nos chegam, relativamente tarde. Historicamente sempre foi assim. A nação muitas vezes esteve uns anos atrás do que de melhor e mais moderno se fez por essa Europa fora. E não são coisas só de 48 anos, em referência ao longo período do fascismo. Antes desse abjecto período, tivemos o longo tempo da inquisição, onde o pensamento, por exemplo, também foi longamente reprimido. Pensadores e intelectuais como António José da Silva, pagaram bem caro a ousadia de pensar e criar. E ainda há bem poucos anos Saramago foi vetado por um patusco e estreito sub-secretário de estado, e ainda hoje, o “prémio Camões”, o Brasileiro João Ubaldo Ribeiro, tem a sua obra, “A casa dos budas ditosos”, também vetada, por razões de decoro, diz-se, em local claramente identificado nesta pátria, de pistas pedonais e cicláveis atrasadas.
A minha dúvida continua a ser se o distinto ex-vereador e hoje deputado, e ainda outros deputados, não têm razão quanto ao modo como nos distinguem e utilizam como Povo. De um modo geral, acreditamos que pode ser assim e que suas excelências, são capazes de estar a falar piamente verdade.

4 comentários:

dona tela disse...

Quem me dera poder viajar como o senhor. E como a Tânia...

augusto alberto disse...

Bem sei que dona tela não me inveja,manifestou sòmente um desejo.Tenho pena...mas para aqui chegar tive de partir muita pedra.Creia que não foi fácil.Como em tudo na vida, houve também momentos muito dificeis.Mas nesta fase da vida, já maduro, desejo estar por direito próprio em Londres/2012 e depois terminar.

samuel disse...

Somos sempre os melhores da Europa, em qualquer coisa. O mais das vezes é mentira! :-)

Abraço.

Rui disse...

Temos que começar a casa pelos alicerces e não pelo telhado como vem sendo hábito. Aquilo que realmente mais carencia temos como povo, e o amigo Augusto expos isso aqui muito bem na parte final, é de cultura social e tudo o que isso implica.