Augusto Alberto
Bem pode a Alexandra ter sido abençoada com nome muito ao gosto, mas Alexandra é só uma menina de pais russos, que por péssimas razões nos entrou casa dentro, em razão de uma decisão de um magistrado que, se soubesse acrescentar alguma coisa mais à formatação em linha com o pensamento único e à formação escolástica, ficaria desse modo mais atento ao que vai no mundo e teria percebido que bem melhor seria, apesar de tudo, em arranjar outra solução para a Alexandra e sua mãe.
A Alexandra saiu de uma terra vagamente urbana e calma para ser depositada, depois de longa viajem, numa aldeia rural da Rússia, a cerca de 300 quilómetros de Moscovo. Por cá são uma estucha, por lá, coisa pouca. Mas clamor, a menina vive em casa de madeira, meio esconsa, cercada de corrais, porcos, cabras e galinhas, caminhos de saibro ressequidos e vincados. Pois é… E como são por cá as nossas aldeias?
Mas a questão não é essa. Aldeias rurais e casas de madeira, há-as em todo o lado, ainda que casas esconsas sejam próprias do terceiro mundo, evidentemente. E ai está exactamente o centro da questão. Ou seja, lidos e ouvidos abundantes comentários com centro na imprensa russa, ficamos a saber, em desabafos sofridos, que a Alexandra acabou por aterrar numa sociedade em que milhões de famílias se afogam no álcool, retorquindo violência sobre as crianças, tornando o assunto corrente, e que perante esse desvario, muitas delas, dormem friamente em catres. Porque ouvi bem e porque conheci a Rússia há mais de 30 anos e conhecendo o comportamento corrente de muitos dos seus jovens, hoje, só posso dar crédito à informação que nos chega. E para que a coisa se torne mais séria, também registei o desabafo, de um conselheiro da Presidência russa, para as questões sociais, que nos disse que o estado russo não dispõe dos meios necessários para a resposta afectiva a que as crianças russas tem direito. Uma confissão dura e cruel, que só o pode envergonhar e a nós, magoar.
O que sobrou da experiência socialista, é um monte de escombros e desilusões, que hoje, aos vencedores de uma longa e minuciosa batalha, não atormenta. Que lhes importa que a sociedade russa se afogue na miséria?
Na Rússia de hoje já não boiardos, mas oligarcas, os novos senhores, que em pouco tempo, para marcar terreno, lutaram desenfreadamente, em orgias de traições, ódio e sangue, tal e qual os boiardos de ontem. Os vencedores construíram impérios em que belas mulheres, barcos e automóveis topos de gama, vilas, clubes de futebol, são o fio condutor, e em que os vencidos estão, alguns, por detrás de grades e outros, assustados, fugiram para longe.
A Rússia, a grande mãe, é hoje uma nação em perfeito sobressalto, onde os oligarcas numa luta titânica e diária, tratam de proteger da cobiça, as sua fronteiras e os recursos naturais que querem somente seus, dos que ontem apressadamente se consideraram vencedores. A grande mãe está fraca e em farrapos e ao seu povo, já não lhe dá afecto e orgulho. Está exangue.
Há um recuo civilizacional muito sério, que não atinge só a grande Rússia, mas nos atinge a todos nós, infelizmente. Há quem se ria, mas eu não.
Infelizmente, este é o mundo em que nos meteram e por isso, apesar de a Alexandra não me conhecer, só me resta desejar que resista, porque, como muitos, também me sinto impotente. Mas não vale desistir.
Mas a questão não é essa. Aldeias rurais e casas de madeira, há-as em todo o lado, ainda que casas esconsas sejam próprias do terceiro mundo, evidentemente. E ai está exactamente o centro da questão. Ou seja, lidos e ouvidos abundantes comentários com centro na imprensa russa, ficamos a saber, em desabafos sofridos, que a Alexandra acabou por aterrar numa sociedade em que milhões de famílias se afogam no álcool, retorquindo violência sobre as crianças, tornando o assunto corrente, e que perante esse desvario, muitas delas, dormem friamente em catres. Porque ouvi bem e porque conheci a Rússia há mais de 30 anos e conhecendo o comportamento corrente de muitos dos seus jovens, hoje, só posso dar crédito à informação que nos chega. E para que a coisa se torne mais séria, também registei o desabafo, de um conselheiro da Presidência russa, para as questões sociais, que nos disse que o estado russo não dispõe dos meios necessários para a resposta afectiva a que as crianças russas tem direito. Uma confissão dura e cruel, que só o pode envergonhar e a nós, magoar.
O que sobrou da experiência socialista, é um monte de escombros e desilusões, que hoje, aos vencedores de uma longa e minuciosa batalha, não atormenta. Que lhes importa que a sociedade russa se afogue na miséria?
Na Rússia de hoje já não boiardos, mas oligarcas, os novos senhores, que em pouco tempo, para marcar terreno, lutaram desenfreadamente, em orgias de traições, ódio e sangue, tal e qual os boiardos de ontem. Os vencedores construíram impérios em que belas mulheres, barcos e automóveis topos de gama, vilas, clubes de futebol, são o fio condutor, e em que os vencidos estão, alguns, por detrás de grades e outros, assustados, fugiram para longe.
A Rússia, a grande mãe, é hoje uma nação em perfeito sobressalto, onde os oligarcas numa luta titânica e diária, tratam de proteger da cobiça, as sua fronteiras e os recursos naturais que querem somente seus, dos que ontem apressadamente se consideraram vencedores. A grande mãe está fraca e em farrapos e ao seu povo, já não lhe dá afecto e orgulho. Está exangue.
Há um recuo civilizacional muito sério, que não atinge só a grande Rússia, mas nos atinge a todos nós, infelizmente. Há quem se ria, mas eu não.
Infelizmente, este é o mundo em que nos meteram e por isso, apesar de a Alexandra não me conhecer, só me resta desejar que resista, porque, como muitos, também me sinto impotente. Mas não vale desistir.
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