terça-feira, 14 de julho de 2009

No Dia da França

Nos finais dos anos 70, do século passado, durante a fase de trabalhador clandestino em França, militei no PCF. O Partido estava organizado por células, um tipo de organização característico dos partidos revolucionários. A particularidade dos comunistas franceses é de que baptizavam as células com nomes de destacados militantes, fossem intelectuais ou operários. Calhou a minha ter o nome daquele que ficou conhecido por Poeta da Liberdade, Paul Éluard. A outra célula com cujos camaradas mais convivíamos chamava-se Pablo Picasso.
Hoje, Dia da França, quero dedicar um poema aos inesquecíveis camaradas Marie Jeanne, Philipe , Claude e Alain. Este era o cómico do grupo, sempre que me apresentava a outro camarada acrescentava que eu falava melhor francês que ele, numa alusão à sua ligeira gaguez.
Lembro que certa vez não me deixaram participar numa colagem de cartazes de um concerto de reggae, porque podia haver problemas com a polícia…
Aí vai o poema. É da angolana Alda Lara.






A Paul Eluard
(na sua morte)

onde o poeta não havia já
foi quando em nós se gritou finalmente
que não estávamos sós…


entre nós e as vossas mãos caídas,
- ele! –
por quem os firmamentos
se fizeram de repente
lúcidos como ventos…
por quem as estrelas cresceram
belas e eternas,
no horizonte das horas,
como luas antigas,
vestindo os esqueletos
de humanas formas resumidas…
ele,
por quem, só as crianças
carregaram espingardas
nos jogos brinquedos de guerra,
e as trincheiras
permaneceram para sempre adormecidas
sobre os francos estivais
da terra…
ele,
por quem, nunca mais
estaremos sós…
e buscando-o ainda
ao longo dos longos dias inteiros,
só sabemos falar de amor,
aos companheiros…


Alda Lara

5 comentários:

movimento das palavras armadas disse...

De Paul Éluard pode afirmar-se o seguinte: do horizonte de um homem ao horizonte de todos!

Fernando Samuel disse...

Belíssima homenagem, camarada!
Um abraço.

Ana Tapadas disse...

Sabes que sou uma idealista...muito prática no dia-a-dia. ahaha. Nem sequer sou militante de nada.Enfim.
Mas quero prestar-te a ti homenagem por seres assim combativo!
bj

Ana Tapadas disse...

Ah e adoro Elouard e Aragon!

samuel disse...

Bela recordação!